A reportagem é de Robert Mickens, publicada na revista católica britânica The Tablet, 31-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. [os comentários em vermelho são do autor deste blog!]
Em poucos meses, o Papa Bento XVI terá superado oficialmente o Beato João Paulo II e se tornará o homem mais velho em mais de 100 anos a servir como Bispo de Roma. O papa polonês morreu apenas 16 dias antes do seu 85º aniversário, um marco que o Papa Bento XVI está prestes a chegar no dia 16 de abril. Apenas quatro outros papas, desde o fim do século XIII, chegaram aos 86 anos de idade, dos quais o mais recente foi o Papa Leão XIII, que morreu aos 93 anos em 1903.
Embora a saúde geral do Papa Bento XVI pareça estar boa, ele começou a mostrar sinais de fadiga e de crescente fraqueza. A história e a prudência sugeririam que os cardeais da Igreja deveriam começar a pensar seriamente sobre candidatos adequados para sucedê-lo. Votar no sucessor de Pedro é o principal e mais grave propósito para o qual eles recebem um barrete vermelho. Eles devem evitar ser pegos desprevenidos, como aparentemente foram no conclave passado, quando diversos cardeais confessaram publicamente que não conheciam muito bem os seus confrades.
O próximo papa provavelmente será o produto de um compromisso entre os eleitores, o que evidentemente não foi o caso do último conclave. As regras de votação haviam sido revisadas significativamente em 1996 pelo Papa João Paulo II, permitindo uma eleição por maioria simples depois de algumas semanas de impasse. Anteriormente, a votação continuaria até que um candidato recebesse 2/3 mais um voto. Aparentemente, Joseph Ratzinger alcançou uma maioria simples no início da votação e, de acordo com uma teoria, uma série de outros cardeais concordou em acrescentar o seu apoio à sua candidatura, em vez de arriscar um conclave prolongado, destacando a divisão que isso sinalizaria.
Isto possivelmente não irá acontecer no próximo conclave. Pouco depois da sua eleição, o Papa Bento XVI sabiamente mudou as regras de volta ao sistema tradicional. Assim, o seu sucessor provavelmente será alguém com um amplo apoio, em vez de alguém que vem principalmente de uma facção particular. De acordo com o número 1.024 do Código de Direito Canônico, qualquer homem batizado é elegível. Mas, desde 1378, o papa sempre foi eleito a partir do Colégio dos Cardeais.
Mesmo que o Papa Bento XVI crie um número qualquer de novos membros antes do próximo conclave, possivelmente o Colégio irá manter certas características. Primeiro, haverá um grupo significativo de homens com experiência de trabalho na Cúria Romana: ou seja, o homem que finalmente for eleito papa terá que ter o apoio desse bloco.
Em segundo lugar, aproximadamente a metade ou mais dos membros serão europeus, e uma porcentagem ainda maior terá estudado em Roma ou em algum outro lugar do Velho Continente. Assim, o candidato vitorioso, mesmo que não europeu, provavelmente terá passado por um grau de polinização europeia. E, como essa é uma eleição doBispo de Roma, qualquer papável a sério deve ter um domínio decente da língua italiana.
Os prováveis candidatos [e coloco meus comentários em vermelho]

[Talvez o único da lista toda a ser considerado papável, um nome que poderia transitar entre todas as camadas do colégio dos cardeais. Scola, para mim, sempre foi um nome forte, mesmo no patriarcado de Veneza. Seria uma continuação, em alguns aspectos, do pontificado de Bento XVI. Certamente no campo litúrgico ele está mais próximo do antigo Marini que do atual cerimoniário, Dom Guido]

[ter um candidato brasileiro é lugar-comum. Pesa contra Dom Odilo a idade, jovem demais. Talvez os poderosos cardeais norte-americanos se coloquem entre Dom Odilo e a Sede Petrina, pois não nutrem qualquer simpatia pelo clero latino-americano, pois sabem muito bem que tipo de teologia os moldou]
Cardeal Peter Turkson (nascido em 11 de outubro de 1948), presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, é o favorito entre os africanos. Nascido em Gana de pai católico e mãe que se converteu do metodismo, ele é um dos poucos africanos de ter realizado estudos de doutoramento no Pontifício Instituto Bíblico em Roma. Completou seus estudos básicos de teologia em um seminário dirigido pelos franciscanos conventuais em Nova York e depois lecionou em um seminário em seu país natal, Gana. Foi nomeado arcebispo de Cape Coast em 1992 e cardeal em 2003. Desde que assumiu seu cargo vaticano em outubro de 2009, ele impressionou as pessoas pelos seu claro sentido pastoral, seu estilo pé-no-chão e seu gentil senso de humor.
[O cardeal responsável pelo dicastério social do Vaticano que, estranhamente, não conhece os pilares da Doutrina Social da Igreja e foi um dos responsáveis por mais um constrangimento curial ao divulgar um documento que trombava com absolutamente tudo o que Bento XVI já disse em matéria de justiça social e economia...]

[Primeiro, não houve golpe em Honduras em 2009! Só o mundo progressista, que se recusa a entender os fatos, analisar a história e vive no seu mundo de faz-de-conta é que ainda nutre essa teoria. Seguindo. O cardeal Maradiaga foi descrito no último conclave como um dos cardeais mais fortes, ao lado de Hummes e Bergoglio, ao pontificado. Segundo um diário misterioso, não obteve nenhum voto. Isso num colégio mais progressista, com membros como Martini, Agnelo, Tettamanzzi e cia. Agora poderia ser considerado um eleitor de razoável influência. E só]

[O mais forte candidato? Teólogo de Tradição Dominicana??? Em que dimensão alternativa vive o redator desta matéria? Progressista, escandaloso, insubordinado são adjetivos que descrevem o maior problema que o colégio de cardeais europeu já teve nos últimos anos!]

[Angelo Sodano Papa. Isso descreve melhor a situação de Sandri se ele fôsse eleito sucessor de Pedro. Sandri, bem como Sodano, caminharam muito próximos um do outro, têm história quase idêntica: trabalho diplomático, ferrenho apego ao poder, articuladores da Secretaria de Estado, etc]

[É de fato um homem protegido por Bento XVI. Foi colocado na Cúria para renovar a Congregação para os bispos, que por muito tempo esteve asfixiada pelo Cardeal Ré e suas péssimas escolhas. Bento XVI vem dando muito mais atenção às nomeações que seu antecessor. E já vemos resultados concretos em muitas partes do mundo, embora ainda tenhamos falhas graves, sobretudo na América-latina.]

Cardeal Gianfranco Ravasi (nascido em 18 de outubro de 1942) tornou-se um sucesso instantâneo quando o Papa Bento XVI nomeou-o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura em 2007. Biblista de primeira linha que popularizou os estudos da Escritura através da televisão, da rádio e dos jornais populares italianos, ele liderou ambiciosamente esforços para restabelecer o lugar proeminente que a Igreja Católica e o Vaticano costumavam ocupar no mundo da alta cultura. Antes de assumir seu cargo em Roma, passou a maior parte de seu tempo como professor e diretor da altamente estimada Biblioteca Ambrosiana em sua Milão natal. Gentil e afável, considerado "moderado" eclesiologicamente, ele infelizmente não tem experiência global e multicultural. É um intelectual europeu clássico.
[Sobre este candidato não tenho muitas observações. Talvez seja o mais conservador que o periodista do The Tablet conseguiu suportar...]
***
Deu para perceber que a lista é bem tendenciosa. Pende para o lado progressista que é a linha editorial do The Tablet. Candidatos muito mais sérios e com chances reais não foram citados por sua óbvia proximidade com Bento XVI e com o mundo tradicional. Exemplos
Antonio Cañizares Llorvera, prefeito para o culto divino e um grande adepto da hermenêutica da continuidade em matéria de liturgia. Chamado de pequeno Ratzinger espanhol.
Tarcísio Bertone, SDB. Na verdade ele acumula os cargos de Vice-papa, Chefe da Cúria Romana e Prefeito da Congregação para os Bispos, porque praticamente um quarto de todos os novos bispos do mundo são salesianos! Com Bertone, a SDB vai ser a única congregação no mundo que não terá padres, só bispos como membros! Exageros a parte, Bertone é um nome a ser considerado, quer você goste ou não.
Mauro Piacenza. Prefeito para o Clero. Talvez o italiano mais próximo de Bento XVI, que poderia ser considerado, se eleito, um Bento XVII. Teologicamente firme, é um homem da Cúria, mas com boas conexões no mundo pastoral, já que isso se converte, para os periódicos, num pré-requisito para o papado. É também um intelectual de relevo, tendo sido presidente do "Patrimônio Cultural da Santa Sé" e da Comissão de Arqueologia Sacra. Sagrado bispo por Bertone e protegido do mesmo é um dos Top 5 italianos (junto com Amato, Bagnasco, Scola, Bertone).
Angelo Amato, SDB. Prefeito da Causa dos Santos. Outro nome italiano fortíssimo, curial e próximo de Bento XVI. Ao lado de Piacenza, é o nome indicado entre a ala ratzingeriana. É italiano, trabalhou anos na Doutrina da Fé sob Ratzinger, é salesiano (=amigo de Bertone), é teologicamente moderado-conservador.
Angelo Bagnasco. Presidente da Conferência dos Bispos da Itália e Arcebispo de Gênova. Formado e ordenado sacerdote pelo grande Cardeal Siri, com ampla experiência no mundo acadêmico, tomista, poliglota e com vasta experiência pastoral, inclusive como Ordinário Militar. Sucessor do cardeal Bertone como arcebispo de Gênova, é conhecido nacionalmente como a voz do episcopado italiano e, internacionalmente, ocupa a vice-presidência do Conselho das Conferências Episcopais da Europa. Pode se converter num candidato não só italiano, mas também como o expoente do velho continente.
Outros candidatos que poderiam ser destacados são:
Jean-Pierre Ricard, FrançaKurt Koch, Suíça (+Cúria Romana)
Agostino Vallini, Itália
Sean Patrick O'Malley, EUA
Joachim Meisner, Alemanha
Antonio María Rouco Varela, Espanha
Há nomes que ainda não foram feitos cardeais e que, quando criados, certamente figurarão na lista:
Timothy Dolan, EUA
Orani João Tempesta, Brasil
Ricardo Ezzati Andrello, Chile
José Horacio Gómez, EUA (+América Latina)
Ricardo Ezzati Andrello, Chile
José Horacio Gómez, EUA (+América Latina)
Contudo...
Conjecturas são interessantes porque nos ajudam a entender o pontificado atual. Mas Bento XVI é o Papa gloriosamente reinante e, conhecendo a genética alemã, é um sério candidato a superar Leão XIII em tempo de serviço.
Os periodistas queriam o que de Bento XVI? Que aos 85 anos ele desse cambalhotas? É claro que ele está cansado! A agenda do Papa deixaria até o jovem príncipe de ébano Barack Obama exausto!
Viva Bento XVI, viva!
Não sou muito interado sobre o atual Colégio de Cardeais, más acho que D. Raymond Leo Burke poderia configuarar na lista da ala ratzingeriana. Tambem gostaria de saber mais sobra o campo litúrgico de Tarcísio Bertone, as informações no mundo virtual são muito escassas.
ResponderExcluirEstavam demorando para elaborar listas deste tipo.
ResponderExcluirCreio mesmo que essa lista está equivocada em 90% dos nomes que ofereceu. Para ser mais claro, além de ser uma lista inútil (visto que isso não influenciará o resultado do Conclave - basta ver o que aconteceu na última vez), é elaborada por pessoas decididamente ignorantes da Igreja.
Alguém se lembra, por exemplo, do fiasco dos vaticanistas em 2005?
Se em 2005 a estrela da América Latina não subiu, pode esquecer agora. Pior ainda a África e Oceania. Eu me atrevo a ver a Ásia neste momento muito distante de nos dar um papa, mas ainda assim com mais chances do que a América Latina e África.
Vai ser um conclave europeu, e talvez com alguns norte-americanos. E digo mais: vai ser um conclave da Curia Romana. Ou o próximo papa sairá diretamente da curia, ou terá o apoio desta, nestes seis anos a cúria romana consolidou seu polo atrativo. Acho que a lógica põe em primeiro plano os italianos: Bertone, Scola, Piacenza, Amato, Bagnasco. Marc Ouellet ou Kurt Hoch teriam a "vantagem" de não serem italianos, mas acho mais remoto. Idem para Cañizares. Quanto a Ranjith e Burke -predileções minhas à parte - creio que seriam encarados como excessivamente conservadores, a menos que alguma conjuntura resolvesse lançar seus nomes. Com Burke no papado, não me admiraria ver a coroação papal com sedia gestatoria e tiara...
Creio que a força da cúria se consolidou particularmente em virtude das nomeações que a mesma fez: quem virá em apoio a ela será Dolan, Nichols, Léonard, Plaza, Woelki...
Como o Junior citou o cardeal Burke deveria constar nessa lista, assim como os cardeais Malcolm Ranjith e Velasio De Paolis.
ResponderExcluirPor que não incluí os cardeais Burke (a quem muito estimo e é, de longe, o meu predileto em todo o colégio episcopal) ou Ranjith?
ResponderExcluirJustamente porque representam o grupo mais detestado na Igreja Católica. A eleição de Ratzinger, o guardião do Santo Ofício, foi um milagre que não só se repetiria se Burke fosse eleito, como se ampliaria.
Todas as facções procurarão defender seus candidatos, mas chegarão a um consenso eventualmente. Burke ou Ranjith não são nomes de consenso político, mas de decisão. Precisaríamos de uma mudança ainda mais profunda no colégio de cardeais para que nomes como estes tenham alguma chance. Por isso é bom rezar pela saúde do Papa atual!
Cogitando: Burke certamente seria um grande eleitor e Ranjith iria articular o apoio dos bispos "da direita" em torno de um candidato como Piacenza, por exemplo.
A orientação litúrgica do cardeal Bertone, respondendo ao Júnior, é bem próxima de Bento XVI. Bertone não vê a liturgia como palco ou laboratório de experiências.
ResponderExcluirInclusive é bom notar que foi Bertone quem trouxe o jovem Mons. Guido Marini para o Vaticano, já que o mesmo padre era seu cerimoniário em Gênova.
Acredito que Bertone seja muito próximo de Bento XVI nesta matéria, mas não igual. Talvez - e é só conjectura - ele volte atrás em algumas coisas, como a missa ad orientem na Capela Sistina, por exemplo, ou o uso do gregoriano em larga escala, como se ve agora.
Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que continue a glorificar a Sua Santidade neste frutuoso pontificado. Bento XVI "és pedra sobre a qual a Igreja foi confiada" e nem mesmo as forças do inferno irão sobre ti prevalecer.
ResponderExcluirBem Aventurada Mãe de Deus Maria Santíssima e os Santos Apóstolos Pedro e Paulo intercedei pelo Santo Padre Papa Bento XVI e pelo Sacro Colégio Cardinalício. Amém.
Na minha opinião Bertone por ser o nome mais poderoso depois de Ratzinger larga na frente.
ResponderExcluirMeu preferido é o Cardeal Ravasi
Bertone seria hoje, de longe, o nome mais forte. Mas já tem seus 77 anos, então...
ResponderExcluirPiacenza parece ter também muita força atualmente, ou até mesmo um Bagnasco, que seria talvez uma solução bastante política, no caso de um conclave com mais de meia dúzia de votações.
Cardeal Burke só mesmo por um milagre no momento atual, por ser muito jovem e conservador demais. Agora, se Bento XVI bater o recorde de Leão XIII a coisa muda de figura, já que ele não seria mais tão jovem e a tendência do Sagrado Colégio é de ir se tornando mais conservador com o passar dos anos.
Agora, uma possibilidade interessante é Dom Orani, Arcebispo do Rio. Seria um caso semelhante ao de JPII: é bastante jovem, cardeal (falta apenas um ano para Dom Eusébio completar seus 80 anos) de uma Arquidiocese distante de Roma, mas firme teologicamente, além de se demonstrar um grande pastor. Talvez seu maior problema seja a falta de relações mais próximas com a Cúria Romana e com o episcopado europeu; mas seria também uma opção de consenso no caso de um Conclave turbulento.
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Agora, sobre a revista...
Quais sãos as possibilidades reais de Dom Odilo, Peter Turkson, ou Maradiaga? Mas é claro, essas listas sempre têm de ter o tal candidato latino-americano e o papável negro.
Mas incrível mesmo o que dizem sobre o grande problema do Colégio, Schönborn: "Quando se tornou um jovem cardeal em 1998, foi considerado um dos mais brilhantes entre os conservadores do Colégio". Um dos mais brilhantes entre os conservadores do Colégio ?!! Imaginem como não seriam os progressistas....
Não dá pra levar uma lista dessas a sério. Mesmo!
O futuro papa sairá da Cúria romana e será apoiado pela mesma.
ResponderExcluirVejo que no cenário internacional, o recém criado Cardeal Dolan é um homem que está se destacando. è conhecido e conhecedor da cúria romana. Teologicamente conservador, liturgicamente nem tanto, tem espírito esportivo, é um homem do meio de comunicações e nas atuais circunstâncias das leias abortistas de Obama, tem se destacado como o nome da "resitência", oq ue o fez crescer no cenário eclesiástico internacional.
ResponderExcluirRealmente a lista acima é bem tendenciosa.
Porém, o Cardeal Scola é bem cotado mesmo. O Cardeal OUllet ganharia pela simpatia, só por isso também, mas talvez também seja um nome de consenso.