Com a aproximação das bodas de ouro da abertura do
Concílio Vaticano II no dia 11 de outubro de 1962, homens ordenados nos anos do Concílio predominantemente adotam "o espírito do Vaticano II" como uma fonte para suas vidas e ministério mesmo enquanto outros católicos depreciam esse "espírito".
A reportagem é de
Dan Morris-Young, publicada no sítio
National Catholic Reporter, 12-03-2012. A tradução é de
Moisés Sbardelotto.
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Ao mesmo tempo, muitos desses
"padres do Vaticano II" – como os pesquisadores os chamam – expressam preocupação de que as janelas icônicas da Igreja escancaradas pelo Concílio estão sendo fechadas e trancadas. Eles levantam inquietações sobre a liderança da Igreja, a apatia ecumênica, um colapso da colegialidade, o papel das mulheres, a reforma litúrgica e muito mais.
"Às vezes, eu penso que o
Concílio Vaticano II é o segredo mais bem guardado da Igreja", disse o padre
David Pettingill (foto), sacerdote aposentado da
Arquidiocese de San Francisco, que ainda está ativo no trabalho de retiros e de cursos de ensino sobre o Concílio para ministros leigos.
"O que vejo é um esforço concertado para se afastar do
Vaticano II juntamente com uma linha partidária, e essa linha partidária é que o Concílio simplesmente esteve em continuidade com o ensino da Igreja e que este simplesmente evoluiu", disse
Pettingill, ex-pároco, professor de seminário e administrador de colégio de Ensino Médio que foi ordenado em 1962.
"No entanto, quando você assume essa abordagem, e ela pode até ser válida", acrescentou, "você também tem que fazer outra pergunta, se você quiser ser historicamente preciso: o que esse Concílio fez para a Igreja?"
"A menos que você queira dizer que foi uma perda de tempo, há algumas coisas que aconteceram lá que nunca haviam acontecido nos outros 20 concílios ecumênicos, e os documentos produzidos estão em uma forma literária diferente e são o consenso do maior número de bispos reunidos em assembleia de todo o mundo, e eles estavam dando um novo olhar para a Igreja porque
João XXIII disse: 'Nós faremos um
aggiornamento. Nós vamos atualizar a Igreja'".
"Então, eu acho essa linha partidária", disse
Pettingill, "uma admissão real do fato de que estamos nos afastando" da renovação em curso. "Acho isso muito triste".
Muitos entrevistados apontaram para a tensão entre interpretar o Concílio como a inauguração de uma Igreja aberta e colegial contra vê-lo como "o fim de um processo, não o começo", nas palavras do padre jesuíta
Thomas Reese (foto).
Ordenado em 1974,
Reese entrou para os jesuítas no ano em que o Concílio foi aberto. "Estávamos trancados no seminário e dificilmente sabíamos o que estava acontecendo", brincou. "Nós não tínhamos acesso a jornais, TV ou revistas – ou ao
The New Yorker, que, é claro, estava publicando os artigos de
F. X. Murphy".
O padre redentorista
Francis X. Murphy usava o pseudônimo
Xavier Rynne para publicar reportagens sobre os bastidores dos trabalhos do Concílio.
"De alguma forma, eu fiquei sabendo do Concílio, e dois de nós fomos ao encontro do superior e pedimos permissão para ter cópias dos documentos do
Vaticano II. Ele teve uma reunião com seus consultores para decidir se podíamos ou não ter as cópias. A decisão foi de que nós dois poderíamos tê-las porque havíamos pedido, mas elas não seriam disponibilizadas em geral aos outros seminaristas.
"Dentro de um mês, eles eram leitura obrigatória", brincou
Reese novamente.
"Mesmo que tenha havido lutas e argumentações e brigas" durante o
Concílio, disse
Reese, "havia uma sensação de que a história estava do lado dos progressistas e de que estávamos indo para a frente, de que era algo praticamente imparável e que as coisas começariam a ficar melhores na Igreja ano após ano".
[e nós sabemos que os resultados ficaram realmente "melhores" para a Igreja, sobretudo para os jesuítas que, desde esse período, são exatamente a metade do que eram, em números. Quase não possuem vocações, vendem seus seminários para bancos, lojas, hotéis, etc]
Reese disse: "Isso praticamente parou com o papado de
João Paulo II", que via "os documentos do Vaticano II como algo que era importante, não o espírito".
Atualmente membro sênior do
Woodstock Theological Center da
Georgetown University, em
Washington,
Reese foi uma fonte de preocupação para o
Vaticano durante seus sete anos como editor-chefe da revista semanal dos jesuítas
America. Ele renunciou do cargo em 2005 depois de uma crítica curial à sua abertura a explorar temas sensíveis da Igreja, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e pesquisas com células-tronco à Comunhão por parte de políticos católicos que apoiavam o aborto legal.
[só isso? Que maldade do Vaticano!...]
Antes de se tornar papa, o cardeal
Joseph Ratzinger, como chefe da
Congregação para a Doutrina da Fé, e o
Papa João Paulo II "deram a sua interpretação aos documentos (...) e geralmente ela era a interpretação conservadora e minoritária do Concílio", disse
Reese.
"Hoje, o medo não é só que os freios foram acionados, mas também que a marcha à ré foi engatada
[Amém!]. Vemos mudanças nas áreas da colegialidade, da liturgia e do ecumenismo, onde não podemos nem mais chamar as comunidades protestantes de Igrejas".
Hermenêuticas
Enquanto isso, os críticos do "espírito do
Vaticano II" acusam que ele é usado como um carta curinga para abandonar a ortodoxia doutrinal.
Ratzinger, agora como
Papa Bento XVI, apresenta o argumento de uma "hermenêutica da continuidade", que enfatiza a interpretação dos próprios documentos conciliares.
Especialistas católicos como
Russell Shaw são explícitos: "Acho que o 'espírito do
Vaticano II' é bastante bem-humorado e hipócrita. Os líderes da Igreja depois de
Constantinopla adicionaram uma quarta pessoa à Trindade no 'espírito de Constantinopla'? Os concílios certamente têm tons e espíritos, mas estes se baseiam nos ensinamentos e decretos do próprio concílio, não nas ideias e práticas que o concílio especificamente se recusou a aprovar. Em outras palavras, penso que o argumento de que, como o Vaticano II fez mudanças na Igreja, então é lógico que o Concílio nos chama a fazer mudanças ainda mais radicais e inovadores é falso".
Tais postulações levam pessoas como o padre
J. Severyn Westbrook (foto) a balançar a cabeça: "Se a Igreja é essencialista, sabemos tudo, e não há mais nada a ser conhecido, e todas as questões estão resolvidas. As pessoas precisam aprender o que é a verdade estabelecida. Está tudo acabado. Nós apenas precisamos realizá-la. E eu acho que essa é praticamente a visão reinante hoje".
Ordenado em 1962 na
Diocese de Spokane,
Washington,
Westbrook continuou: "Em uma Igreja existencialista, você ouve e presta atenção em como o espírito está se movendo entre as pessoas, especialmente nas comunidades de fé. Você aprende com isso. A Igreja precisa ser um organismo vivo, que respira, que sente, que reza. Devemos ser um organismo ou devemos ser uma organização?".
Westbrook admite: "Às vezes, eu me sinto muito desanimado. É como se as pessoas responsáveis – a quem eu geralmente chamo de autoridades do templo – estão ganhando. Eles estão ganhando por atrito. E eles formaram cuidadosamente o que está por vir no futuro"
[Exatamente! Essas "autoridades do templo" têm vocações, enquanto que os liberais são tão jovens quanto esses que vemos nas fotos. Estão tristes porque não têm mais tempo, não têm mais sementes, não têm mais nada. Este vazio é fruto daquilo que plantaram].
Ele lembrou de uma apresentação em 1982 sobre a necessidade de padres casados, que ele foi convidado a fazer para os bispos do noroeste do
Pacífico. "Fiquei surpreso de que nenhum deles criou problemas", disse. "Alguns ficaram até entusiasmados. Houve um consenso virtual".
No entanto, "há muito tempo, tenho ficado perplexo pelo fato de que o assunto nunca abriu caminho na agenda da
Conferência dos Bispos. Certamente, isso levanta a questão de até que ponto os bispos podem exercer a colegialidade ou mesmo se encarregar da sua própria agenda"
[os bispos não deveriam ter "uma agenda" própria, mas seguir fielmente a agenda de Cristo].
Um diálogo aberto e sincero "não é mais como era", denunciou
Westbrook, pároco aposentado
[aposentado... sentiram o frescor da juventude?], estudioso e capelão universitário. "As posições foram determinadas, e eles estão autorizados a votar 'sim'. Está fechado. Devemos ser um monólito ou devemos ser como seres humanos que pensam e sentem?
[imutáveis ou mundanos?] E isso significa que podemos discordar e talvez possamos chegar a um consenso. Mas precisamos ouvir uns aos outros"
[os progressistas tiveram muito tempo para falar, anos até. Agora que o microfone está em outras mãos, se lamentam, rasgam as vestes e acusam, clamam aos céus! Que diálogo aberto e sincero é este?].
"Eu não perdi a esperança e confio no Espírito Santo", acrescentou, "mas o jogo está sendo manipulado"
[não, não! O Jogo acabou! Agora é a hora de arrumar a bagunça e o Espírito Santo fará justamente isso].