quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Obra Legionária começa a ruir - Seminário na Irlanda será fechado

O Pe. Luis Garza, até esta semana o número 2 da poderosa Legião de Cristo, renunciou hoje ao seu cargo dentro da hierarquia da Legião após vários meses de investigação vaticana conduzida pelo cardeal Velasio De Paolis.

Pe. Garza concedeu uma entrevista ao National Catholic Register (periódico antes de propriedade dos Legionários e agora comprada pela rede de comunicação católica norte-americana EWTN). Nesta entrevista, o padre fala dos diversos aspectos da crise e, principalmente, do seu relacionamento com o fundador, o agora persona non grata e, como alguns periódicos americanos se referem, "desgraçado" ("perdeu a graça", que tinha no Vaticano durante o reinado de João Paulo II) Pe. Marcial Maciel.

Pe. Maciel, um amigo próximo do falecido Papa João Paulo II, foi retirado do ministério pelo Papa Bento XVI em 2006, após anos de alegações de que ele havia abusado seminaristas. Ele morreu em 2008 aos 87 anos.

Segundo Pe. Garza, quando perguntado se não desconfiava da vida dupla do Pe. Maciel:

O que você não consegue entender é que eu nunca tratava de uma maneira pessoal com Pe. Maciel. Eu só ia a cada duas semanas para fazer o meu trabalho - para apresentar as questões a ele. Então eu ia embora. Eu nunca soube onde ele foi. Ele nunca permitiu que ninguém entrasse em sua vida. Eu nem sequer tinha o seu número de telefone celular.
Eu era 40 anos mais jovem. Ele era o fundador. Ele não me permitia entrar em sua vida pessoal. Ele dizia que trabalham mais de perto com ele, "Não diga a ninguém o que você faz comigo."

Pe. Garza afirma que não era possível desconfiar de um fundador que gozava de grande estima no Vaticano, atribuindo, indiretamente, a Santa Sé uma parte da culpa (Depois de anos e anos reverenciando o fundador e a Santa Sé o elogiando, nós aceitávamos [o comportamento suspeito]).


Outra notícia, entretanto, chega da cansada Igreja irlandesa, outrora bastião do catolicismo na Europa, mas agora sacudida por vários escândalos de pedofilia e pressionada pelo governo e pelos fiéis. A notícia, que também afeta os Legionários, é sobre o fechamento do seu seminário irlandês. Os Legionários estão na Irlanda desde 1960 e seu noviciado, em Leopardstown Road, foi criado em 1968.

Numa carta na última sexta-feira "para os Legionários de Cristo e os membros consagrados do Regnum Christi na Europa ocidental e central", o diretor-geral Pe. Álvaro Corcuera escreveu  que "a legião não será capaz de receber os noviços para o noviciado de Dublin depois de setembro de este ano".

Ele continuou, "as razões que levaram a esta decisão dolorosa são a escassez de vocações da Irlanda nas últimas décadas, combinado com a atual dificuldade de manter o noviciado com vocações de outros países, bem como a consolidação de esforços e recursos que estamos implementação de todo o mundo ".

Embora a Irlanda enfrente uma crise severa, talvez pior que a dos EUA, a ausência de vocações em movimentos conservadores na Igreja é algo raro, quase inédito. A perda da credibilidade da Legião, aliado ao terremoto que assola a Irlanda, podem ser fatores que mataram o seminário de Leopardstown.

O que importa é saber que a mudança na cúpula da Legião e na sua conduta interna, embora mais lenta do que muitos esperavam, está se consolidando. Alguns, que torcem para o fim completo e radical da Legião, estão vendo esse movimento com esperança, outros por sua vez, que apoiam a reestruturação da Legião e sua purificação do passado (quem sabe até com uma mudança de nome), aguardam com o mesmo interesse a consolidação dessas mudanças.

Certamente, quando o resultado final for atingido, não agradará a gregos e troianos, mas certamente não será mais um império mexicano.

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