sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Novo Arcebispo de Chicago. Cresce o nome de Joseph Tobin, mas o que isso significa para a Igreja?

Bem alinhados, Francis George e Bento XVI.
Hora de mudança de rumo para os EUA?

O arcebispo de Chicago, cardeal Francis George, está no final da sua carreira. Com 77 anos, dois a mais do limite de idade para a aposentadoria, ele luta contra um câncer.

O Cardeal George foi uma figura "revolucionária" dentro do episcopado norte-americano. Em meio aos escândalos de pedofilia sem precedentes na história da Igreja, o cardeal assumiu a dianteira num movimento de renovação do episcopado planejado por João Paulo II e o então cardeal Ratzinger. No ano de 2002, quando os bispos americanos foram convocados em massa ao Vaticano, falava-se num cisma oficial da Igreja nos EUA.

Joseph Tobin
Francis George assumiu o comando da arquidiocese de Chicago em 1997 depois da morte do ultra-liberal Cardeal Joseph Bernardin, que se gabava de ter criado mais da metade dos bispos dos EUA. A mudança de ares na arquidiocese foi imediata e teve impacto nacional. Em 2007 ele assume a presidência da Conferência Episcopal alinhando a mesma com o Vaticano.

Agora chega o momento de uma mudança. Vários nomes estão circulando na mídia especializada nos EUA. A Arquidiocese de Chicago é historicamente importante para uma compreensão dos rumos do catolicismo norte-americano e, considerando a enorme influência que este colégio episcopal exerce no mundo católico, do restante do planeta.

Um nome chama a atenção e causa-nos grande preocupação. Joseph Tobin, 62, arcebispo de Indianápolis. Tobin foi por anos secretário da Congregação para os Religiosos e era tido como uma figura progressista e liberal. A Congregação, na época, era comandada pelo cardeal esloveno Franc Rodé que, por sua vez, era conhecido como um cardeal alinhado com Bento XVI. Foi durante a era Rodé que a dura investigação contra as LCWR foi iniciada. Tobin era radicalmente contra uma intervenção na LCWR.

Braz de Aviz
Tobin, para efeitos de comparação, se assemelha terrivelmente ao péssimo Cardeal Braz de Aviz, atual cabeça da Congregação para os Religiosos. É uma semelhança brutal, até mesmo física, mas sobretudo ideológica. Tobin, como Braz de Aviz, é uma das "viúvas do Espírito do Vaticano II". E isso o torna potencialmente perigoso, especialmente agora.

Depois de um curto período como secretário da Congregação para os religiosos (2010-2012), o arcebispo Tobin foi literalmente despachado de volta para os EUA, mas diferentemente do que acontece com outros prelados que exerceram funções de comando no Vaticano, Tobin não foi colocado numa arquidiocese de prestígio, muito menos numa que conduz ao cardinalato. Vários vaticanistas viram nisso um sinal de desaprovação do trabalho do bispo.

Um discurso recente de Tobin, segundo um periódico de Chicago, levantou "as sobrancelhas" de alguns prelados no Vaticano. Afirmou o arcebispo aos presentes durante a Assembleia das Faculdades de Teologia:

"O que eu tenho visto é como o Papa Francisco é perturbador para a hierarquia dos Estados Unidos. Eu estava conversando com alguns irmãos bispos um tempo atrás e eles estavam dizendo que os bispos e sacerdotes estavam muito desanimados pelo Papa Francisco porque ele os estava desafiando.

Eu acredito que há uma imagem particular, talvez, daquilo que significa ser um líder pastoral neste país e [Papa] Francisco a está perturbando. Eu acho que há alguma resistência aos diferentes modos de se levar a missal evangélica da Igreja. Então rezem pela saúde de Francisco"

Colocar em questão as lideranças atuais, contrapô-las ao modelo "pastoral" e, para terminar, incluir o Papa Francisco como um endosso é uma estratégia que está ficando comum. Bispos liberais, como Tobin, elegeram Francisco como o seu campeão e o termo "pastoral" como seu cavalo de batalha. O discurso de Tobin é uma convocação a uma intervenção no Episcopado Americano, majoritariamente conservador e com várias figuras que pendem para um tradicionalismo brando.

A eleição de Tobin como novo arcebispo de Chicago pode significar uma intervenção direta da mesma magnitude daquela que sofrem os Franciscanos da Imaculada. Seria algo imensamente danoso ao catolicismo. Se confirmada a nomeação, Tobin teria quase 15 anos para governar os EUA e poderia reformar o episcopado desde a base até o topo.

E essa nomeação não é de todo impossível. "Tobin é um religioso, o que agrada a Francisco pela humildade... Ele fala fluentemente espanhol e também português e francês, o que o possibilita cruzar barreiras dentro da conferência episcopal, o que um ponto chave para o Papa", afirmou um especialista em Vaticano ouvido pelo Chicago Sun-times.

Em nomeações importantes o Papa Francisco vem surpreendendo com nomes inesperados e relativamente jovens. Para sucedê-lo a frente da Arquidiocese de Buenos Aires foi escolhido Marco Aurelio Poli (66), para Montevideo foi o jovem Daniel Sturla (54), o desconhecido Pietro Parolin (59) como secretário de estado e podemos esperar outros nomes na mesma linha. Diferentemente do que acontecia com João Paulo II e Bento XVI, que indicavam para altos postos bispos de média idade (+68), Francisco deseja prolongar seu pontificado mesmo depois de se tornar emérito.

A promoção de Tobin seria um sinal simbólico de ruptura e um retrocesso aos tempos nefastos do cardeal Bernardin, mas parece que a Igreja recentemente vem sofrendo de um constante "Déjà vu" que nos conduziu à década de 70. As viúvas estão contentes.

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