quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Hã? Parte II - A digestão

Recebemos ontem com absoluta surpresa e perplexidade a nomeação do Sr. Arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz, como novo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, descrita deste ponto como Congregação para os Religiosos, para facilitar.

A notícia pegou até a Rede Vida de surpresa. Ontem, por volta das 18 horas e "um tiquinho", a apresentadora do telejornal tentou três vezes chamar a matéria da nomeação e... nada. Apenas um sorriso amarelo e uma desculpa "por problemas técnicos" repetida três vezes seguidas. Mau sinal!

Se nós ficamos surpresos, os gringos não ficaram atrás. Por onde a notícia foi comentada, blogs ou sites, a repercussão não foi nem um pouco boa. Os dois blogs de maior peso, o Fratres nacional e o Rorate internacional, não pouparam o novo prefeito. Foram injustos, precipitados? Creio que não.

Se nós não acreditamos na nova Dilma pró-vida, porque acreditaríamos num agora-prefeito Pró-tradição? E por que não acreditamos na nova cara da Sra PresidentA? Porque, como diz o adágio, o teu passado te condena! Dilma tem um passado claro de advogada da cultura da morte e é justamente desse passado, nunca negado e apenas disfarçado, que formamos as nossas conclusões. Dom João não tem um passado simpático a causa da reforma da reforma ou da Tradição (inclua-se nesse termo a mais ampla paleta de cores disponível para não cometermos injustiças).

Pipocam pela rede informações nada positivas sobre como Dom João tratava aos leigos e sacerdotes mais apegados a... a... aquela coisa que incomoda, como é mesmo o nome??? Ah! Sim, "Fé Católica".
Se o arcebispo Dom João era assim, como será o Pró-Prefeito Dom João?

A Congregação do Cardeal Rodé

Primeiro, precisamos saber como é o novo local de trabalho do arcebispo. A Congregação para os Religiosos cuida, dã!, dos religiosos e nós sabemos como anda a vida religiosa no mundo. Como tarefa especial, a mesma congregação está cuidando de uma visita às religiosas americanas que, pasmem, são suspeitas de promoverem o feminismo e, em alguns casos, até mesmo o aborto. Outro tema espinhoso que, mais cedo ou mais tarde, cairá nas mãos da Congregação será o futuro dos Legionários; embora a comissão de reestruturação da ordem esteja sob o olhar rigoroso do cardeal de Paolis, após o processo de revisão é muito provável que os Legionários (ou um outro nome...) voltem às mãos da Congregação para os Religiosos.

E como é a vida na Congregação hoje? Guiada pelo cardeal esloveno Franc Rodé desde 2004, a Congregação está bem alinhada com o plano  do Papa Bento XVI para a Igreja. O cardeal Rode sempre foi acusado, pela super-liga progressista da Europa, de ser severo demais e de pender sempre para o lado tradicionalista.

E essa super-liga tem seus motivos para essas afirmações. Franc Rodé rezou mais de uma vez a missa tradicional em público, é partidário da sobriedade litúrgica, um combatente da linha esquerdista sociopata, etc.

Para os blogueiros dessa blogosfera mais conservadora-reacionária-tradicionalista, Franc Rodé tem seus altos e baixos. Os altos já foram mencionados. Os baixos são a proximidade com movimentos carismáticos e com os Arautos do Evangelho que são sempre vistos com absoluta desconfiança desde o boom do livro do prof. Orlando Fedeli (RIP).

Cúria Beneditina e Prefeito Brasileiro?

A Cúria do Papa Bento XVI manteve por alguns anos a mesma fisionomia da cúria de JPII. O novo papa foi mudando devagar e, nos últimos dois, acelerou o passo e trocou todos os prefeitos (exceto Rodé) por novos bispos alinhados ao seu pensamento. Deixaram o palácio vaticano nomes como Arinze, Ré, Sodano, Saraiva Martins, Cordes, Sepe, Kasper, Marini, Martino e muitos outros, em cargos de primeira ou segunda linha. Bento XVI renovou mais de 80% da alta Cúria.

Por isso a nomeação de um brasileiro foi tão espantosa. Dedução e conjecturas já estão aparecendo. A nomeação de um bispo na linha do cardeal Rodé não agradaria ao lobby progressista norte-americano que está na defesa das freiras transviadas, muito menos ao lobby brasileiro que, crendo ser a Cúria uma espécie de ONU, quer ser representado num cargo de primeira linha.

Essa é a segunda vez que Bento XVI surpreende com um brasileiro em Roma. A primeira e, até então, única foi com o cardeal Hummes. Removido de São Paulo para minimizar o impacto da sua administração da mais importante arquidiocese da América do Sul. Pelo menos é o que dizem o pessoal nos blogs, mas eu não acredito que tenha sido isso. Tiraram Hummes e colocaram Dom Scherer! É como estar Cuba, sai um Castro, entra outro.

A transferência do cardeal Hummes parece ditar o destino da atual Congregação para os Religiosos. O cardeal Hummes sucedeu ao potentíssimo e muito amado cardeal Hoyos. Sua missão, na teoria, seria gerenciar os graves escândalos de pedofilia que estavam surgindo novamente na Igreja, dessa vez na Irlanda e Alemanha. O que o cardeal Hummes fez? NADA. A bola foi passada latae sententiae para a Congregação para Doutrina da Fé. Até o Pe. Lombardi se pronunciou mais sobre o tema que o Prefeito dos padres. A figura de Hummes em Roma foi puramente decorativa, nem no Ano Sacerdotal ela causou algum impacto.

O mesmo pode acontecer com a Congregação do cardeal Rodé. Os religiosos podem acabar nas mãos de uma série de comissões "ad hoc" e a figura do prefeito servirá apenas para reconhecer estatutos e conceder títulos. Ou Dom João fica por lá alguns anos e volta como cardeal arcebispo para alguma diocese.

Brasil, como vai você?

Para fazer justiça, temos sim no Brasil bispos que são muito ortodoxos. Embora estes totalizem menos de 1% do universo episcopal. Um nome brasileiro em linha com o trabalho desenvolvido pelo cardeal Rodé e afinado com o Santo Padre ainda não é viável. Os bons bispos brasileiros são de uma safra jovem, para comparar com o vinho. A maioria deles está em dioceses pequenas e a pouco tempo (menos de 5 anos). Um nome que julgaria forte e bem sintonizado seria do bispo de Garanhuns, Dom Fernando Guimarães. Mesmo tendo a experiência de anos na Cúria Romana, Dom Fernando tem apenas dois (bons, ótimos, excelentes!) anos como bispo. Dom Antonio Carlos R. Keller também é um jovem bispo, pouco mais de 2 anos de ministério episcopal. Além destes me foram sugeridos outros nomes pelo Rafael Vitola do Salvem a Liturgia!

Dom Fernando Rifân
Administrador de Campos. A condição tão peculiar de Dom Fernando o impede de ocupar qualquer outro cargo. Evidente que o Santo Padre pode nomear qualquer bispo para qualquer função, mas há regras não escritas na administração da Igreja que raramente são quebradas. Dom Fernando é bispo de uma diocese especial, tendo padres espalhados por várias dioceses. É um caso todo peculiar, baseado não no território, mas na liturgia. Sem contar que a nomeação de Dom Rifân como prefeito causaria muita comoção no mundo.  Podem imaginar?

Dom Henrique Soares da Costa
Tem 46 anos. Bispo há 1 ano e pouquinho. Excelente sacerdote, excelente bispo. A+, nota 10. Mas a idade... jovem demais para o universo episcopal, ainda mais para prefeito.

Dom Aldo Pagotto
Acho que a nomeação de Dom Aldo cairia quase no mesmo lugar que a de Dom João, embora Dom Aldo tenha mais prós que contras. O episódio da campanha eleitoral me deixou um pouco decepcionado com ele. O pouco peso da arquidiocese da Paraíba, com todo o respeito, dentro do universo católico não ajuda. Brasília, pelo menos, é a "capital do maior país católico do mundo". Entendeu? Tem um som melhor.

Dom Osvino José Both, Ordinário Millitar
Um nome bem viável. Mas a posição de ordinário militar não ajuda. É quase o mesmo caso de Dom Rifân. Se Dom Osvino fosse arcebispo de Belém, de BH, de Vitoria ou de alguma outra capital. Quem sabe Salvador? Fica ai a sugestão.

Temos outros, mas estão quase se aposentando compulsoriamente. Nomes como Dom Alano Pena, Jose Sobrinho, etc.

Voltando.

O trabalho do cardeal Rodé era cheio de personalidade. Será muito difícil para o novo prefeito manter o ritmo da atual congregação. Não é falar mal, mas a gente precisa ser honesto e sabemos como são administradas a maioria das dioceses brasileiras. Realismo não é maldade (a não ser se o PNDH-4 for aprovado, dai realismo vai ser crime...).
Confesso que a nomeação, totalmente sem sentido e inesperada, me deixou muito aborrecido. Eu esperava para o cargo um arcebispo ou um cardeal francês. O nome do momento seria o do primaz das Gálias, Dom Barbarin. Ou um italiano moderado como Scola, o discreto patriarca de Veneza.
Mas Deus sabe o que faz e só nos resta conformar e seguir em frente. Mesmo com pequenos refluxos, vamos digerir a novidade e torcer para algo bom sair disso tudo.

2 comentários:

Ricardo Passamani disse...

Pelo menos, para não ser totalmente pessimista, D. João de Aviz esteve envolvido num boicote e rejeitou a presença de Boff em um seminário em Brasília, num evento franciscano.
Além disso, quem sabe, podemos ter um bom bispo em nossa capital. Acho que D. João não será uma voz forte em Roma e irá aprender uma nova Igreja com Cardeais conservadores da Cúria.
Acho que o Papa está criando um ambiente favorável para receber a nova Igreja que está nascendo. Basta ver estes poucos mas jovens bispos que você citou para ficar um pouco entusiasmado com o futuro.
Abraços

Anônimo disse...

Finalmente a igreja católica está se mostrando como de fato é: arrogante, reacionária, sempre do lado dos poderosos e contra os pobres, e o que é pior, perseguindo e difamando membros ilustres comprometidos com a verdadeira doutrina de Cristo, fico estarrecido com o grau de virulencia de certos padres e bispos e também leigos contra colegas que tem outra visão de mundo que as suas. Aonde isto vai parar, igrejas transformadas em comites eleitorais, bispos vociferrando, mentindo, difamando, pregando o ódio numa fúria nunca vista. Será que o passado não ensinou nada?

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