sábado, 2 de agosto de 2014

Os silêncios de um Papa tão falante


(Sandro Magister | Tradução Blogonicus) - Roma, 1 de agosto de 2014 - No dia de Santa Ana, padroeira de Caserta, o Papa Francisco visitou esta cidade. Tudo normal? Não. Porque apenas dois dias depois, Jorge Mario Bergoglio retornou à Caserta numa visita privada para encontrar seu amigo italiano que conheceu em Buenos Aires, Giovanni Traettino, pastor de uma igreja evangélica local.

Mais ainda, no princípio o propósito de Francisco era apenas se encontrar com este seu amigo, com o bispo de Caserta deixado totalmente no escuro, e foi preciso convencer o Papa a duplicar o programa para não descuidar das ovelhas do seu redil.

Em Francisco a colegialidade de governo é mais invocada que praticada. O estilo é o de um general dos jesuítas que, no final, decide tudo por si só. É compreendido por seus gestos, por suas palavras e por seus silêncios.

Por exemplo, há semanas que nos bastidores Bergoglio cultiva relações com os líderes de poderosas comunidades evangélicas dos EUA. Na residência de Santa Marta [Francisco] passou horas e horas na sua companhia. Os convidou para almoçar. Num desses momentos de convivência se imortalizou o toque de mãos abertas, entre grandes risadas, com o pastor James Robinson, um dos tele-evangelistas americanos de maior sucesso.

Quando, entretanto, ninguém sabia de nada, Francisco lhes antecipou seu propósito de encontrar seu colega italiano em Caserta e explicou o motivo: "oferecer as desculpas da Igreja Católica pelos danos que esta lhes causou ao obstaculizar o crescimento das suas comunidades".

Argentino, Bergoglio conhece diretamente a expansão esmagadora das comunidades evangélicas e pentecostais na América Latina, que seguem arrebatando da Igreja Católica grandes massas de fiéis. Entretanto, decidiu não combater seus líderes, mas fazer amizade com eles.

Na mesma linha que adotou com o mundo muçulmano: oração, invocação da paz, condenações gerais do que se está fazendo de mal, mas muito cuidadoso ao se manter longe dos casos específicos, sobre pessoas específicas, sejam vítimas ou algozes.

Francisco também não abandona esta atitude reservada quando o mundo inteiro se mobiliza em defesa de determinadas vítimas e todos esperariam dele um pronunciamento.

Não gastou uma única palavra quando a jovem mãe sudanesa Meriam estava no cárcere com seu filho, condenada a morte porque é cristã, mas a recebeu quando foi liberada graças às pressões internacionais.

Não disse nada pelas centenas de estudantes nigerianas raptadas pelo Boko Haram, apesar da campanha também promovida por Michelle Obama com o lema "Bring back our girls" (devolvam as nossas meninas).

Se cala sobre a sorte de Asia Bibi, a mãe paquistanesa encarcerada há cinco anos, esperando a apelação contra a sua sentença que a condenou a morte, acusada de ter ofendido o Islã.

Também a campanha pela libertação de Asia Bibi ve por todos os lados o comprometimento do mundo católico e se fez pública neste ano uma dolorosa carta escrita por ela ao Papa que não a respondeu.

São silêncios que causam uma impressão maior quando são praticados por um Papa de quem se conhece sua generosíssima disponibilidade para escrever, telefonar ou levar ajuda, para abrir as portas a qualquer pessoa que bate, não importa se é pobre ou rico, bom ou mau.

Por exemplo, ele havia levantado algumas críticas sobre a demora para se encontrar com as vítimas dos abusos sexuais cometidos por representantes do clero. Mas no último dia 7 de julho isso foi arranjado, dedicando toda uma jornada a seis dessas vítimas, chamadas a Roma desde três países europeus.

Nos mesmos dias avançou a reorganização das finanças vaticanas, com algumas mudanças nos cargos máximos e a demissão do inocente presidente do IOR, o alemão Ernst von Freyberg.

Inexplicavelmente, em dezesseis meses de pontificado, este funcionário jamais conseguiu obter uma audiência com o Papa.

Ainda mais inexplicável é a "damnatio" que atingiu o seu predecessor, Ettore Gotti Tedeschi, derrubado em maio de 2012 justamente por haver levado adiante a obra de limpeza, derrubado precisamente pelos maiores responsáveis pela má administração. Seus pedidos ao Papa Francisco para ser recebido e ouvido jamais receberam resposta.

2 comentários:

Paulo disse...

QUE EU SAIBA, O SAUDOSO E ULTRA ORTODOXO BENTO XVI TEM OUTROS POSICIONAMENTOS!
Quando ainda em exercício de seu pontificado, o S Padre Bento XVI em viagem a Benin, África, assim como noutras ocasiões, criticou as liturgias atraentes, emotivistas, dissipantes, manifestações ruidosas ou culturais e semelhantes às celebrações litúrgicas como anti eclesiais, instando-nos a um cristianismo “mais simples, profundo, compreensível”, sob normas oficiais da Igreja, evitando-se os sentimentalismos, afirmando que tais manifestações emotivistas provêem de seitas pentecostalistas aparentemente compreensivas e atraentes, não passando de “sincretismo religioso e pentecostalismo protestante”.
Idem, advertia-nos a não os imitar; caso contrário, a Igreja perderia seu caráter de catolicidade, permitindo ser instrumentalizada em palco de manifestações de culturas locais, aparentando inclusive sincretismo oriundo da própria Igreja.
Há um agravante nesse caso: o pentecostalismo, além de origem protestante na forma hilariante como se apresenta, teria sido trazido para a Igreja via progressista Cardeal Leo Suenens, inclusive sendo mais um dos constantes na listagem de suspeitos de pertença á maçonaria.
2 trechinhos do Cardeal Ratzinger:
É preciso antes de tudo salvaguardar o equilíbrio, evitar uma ênfase exclusiva sobre o Espírito, que, como lembra o próprio Jesus, “não fala por si mesmo”, mas vive e age no interior da vida trinitária. Semelhante ênfase poderia levar a opor, a uma Igreja organizada sobre a hierarquia (fundamentada, por sua vez, em Cristo),uma outra Igreja “carismática”, baseada apenas na “liberdade do Espírito”, uma Igreja que se considere a si mesma como “acontecimento” sempre renovado.
Além disso, para atingir os últimos recônditos dos riscos, é preciso precaver-se de um ecumenismo fácil demais, pelo qual grupos carismáticos católicos podem perder de vista a sua unidade e ligar-se de modo acrítico a formas de pentecostalismo de origem não católica, em nome exatamente do “Espírito”, visto como oposto à instituição. Os grupos católicos da Renovação no Espírito devem, pois, mais do que nunca “sentire cum Ecclesia”, agir sempre em comunhão com o bispo, também para evitar os danos que surgem toda vez que a Escritura é desenraizada do seu contexto comunitário: o fundamentalismo, o esoterismo e o sectarismo.
Um deles que vi se apresentando não se diferia de nenhuma seita pentecostalista protestante, com "expulsão" do diabo, baixa de entidades, igualzinho a quaisquer centros espíritas ou "terreiros", satanismo dos brabos!...
Confiram o que magnífico S Pio acha do protestantismo....

Anônimo disse...

Caro Danilo, Creio que o Sandro Magister forçou uma barra pesada contra o Papa Francisco, todos os Papas possuem suas limitações, Bento XVI era extremamente limitado políticamente.
Não podemos esperar que o Papa tenha respostas prontas para todos os problemas, O grande Papa Pio XII já dizia,Papas não falam de improviso``O Papa Francisco é um homem muito sabio e prudente ele sabe a hora em que deve falar e até improvisar e o momento de calar-se. Quanto a visita aos pastores protestantes é uma questão estratégica!! Os cristãos estão sofrendo intensa perseguição nas mãos do islamismo radical, tanto católicos como protestantes estão sendo mortos, Como diz Olavo de Carvalho, não é hora de os cristãos estarem disputando suas diferenças, mas devem deixarem suas arestas de lado e se protegerem do inimigo maior chamado islã Radical.
Luis Augusto.

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