domingo, 4 de janeiro de 2015

Os novos cardeais de Francisco - Um conclave do terceiro mundo



Já anunciado em dezembro, o próximo consistório para a criação dos novos cardeais se dará em fevereiro próximo. A lista, entretanto, dos agraciados com a púrpura cardinalícia só foi divulgada hoje. São eles, com direito a voto num eventual conclave:

1 – Mons. Dominique Mamberti, prefeito da Signatura Apostólica
2 – Mons. Manuel José Macário do Nascimento Clemente, Patriarca de Lisboa
3 – Mons. Berhaneyesus Demerew Souraphiel, C.M., Arcebispo de Addis Abeba (Etiópia)
4 – Mons. John Atcherley Dew, Arcebispo de Wellington (Nova Zelândia)
5 – Mons. Edoardo Menichelli, Arcebispo de Ancona-Osimo (Itália).
6 – Mons. Pierre Nguyên Văn Nhon, Arcebispo de Hà Nôi (Viêt Nam).
7 – Mons. Alberto Suárez Inda, Arcebispo de Morelia (México).
8 – Mons. Charles Maung Bo, S.D.B., Arcebispo de Yangón (Myanmar).
9 – Mons. Francis Xavier Kriengsak Kovithavanij, Arcebispo de Bangkok (Tailândia).
10 – Mons. Francesco Montenegro, Arcebispo de Agrigento (Itália).
11 – Mons. Daniel Fernando Sturla Berhouet, S.D.B., Arcebispo de Montevidéu (Uruguai).
12 – Mons. Ricardo Blázquez Pérez, Arcebispo de Valladolid (Espanha).
13 – Mons. José Luis Lacunza Maestrojuán, O.A.R., Bispo de David (Panamá).
14 – Mons. Arlindo Gomes Furtado, Bispo de Santiago de Cabo Verde (Cabo Verde).
15 – Mons. Soane Patita Paini Mafi, Bispo de Tonga (Ilha de Tonga).

Aqui cabe ressaltar a insistência em não criar cardeais ratzingerianos, que mais uma vez vemos como marca dos consistórios franciscanos e a única regra absoluta que o pontífice reinante se impôs a seguir. O patriarca de Veneza, Dom Moraglia, continua humilhado sem o barrete vermelho a que teria direito se o Papa-Sol respeitasse os antigos costumes da Igreja. Francisco preferiu criar como cardeal o arcebispo de Agrigento, diocese que nunca na história teve um cardeal como cabeça e cuja a importância dentro da própria igreja italiana é praticamente nula (alguém já ouviu alguma coisa sobre Dom Montenegro?), a fazer cardeal o Patriarca de Veneza, Sé que deu à Igreja três papas no século XX. Lamentável, sem dúvida.

Como no consistório anterior, Francisco aposta em cardeais de lugares inusitados e, em alguns casos, igrejas locais muito pequenas. São os cardeais do fim do mundo para acompanhar o Papa do fim do mundo.

Francisco parece querer moldar o próximo conclave com muita força. Todos os papas fazem isso, de uma forma ou de outra, mas gradualmente. Bento XVI levou oito aos deixando o colégio e a cúria ratzingerianos...e depois esses elegeram Francisco, o que é um mistério insondável da alma humana! Francisco, contudo, age pela força, autocrático como sempre. A sanha em criar cardeais vindos de lugares exóticos, de pouca importância para a política interna da Igreja já se tornou uma marca e com isso o Papa acredita - pura especulação minha - eleger seu sucessor para "além do fim do mundo".

Na minha modesta opinião, que nada vale, a insistência do Papa nesse tipo de consistório se torna um espetáculo lamentável e de consequências vindouras para a Igreja que ainda não podemos mensurar. Levará anos, talvez décadas, para a Igreja se recuperar dessas decisões obviamente equivocadas e, mais uma vez, de caráter eminentemente populista. É um consistório bolivariano, sem dúvida, muito próximo das políticas "sociais" aplicadas nos países do eixo "Foro de São Paulo".

O colégio de cardeais é, de alguma forma, o Senado da Igreja. Nele estão os melhores dos melhores (os melhores progressistas também), os bispos das dioceses mais importantes, das maiores igrejas particulares, das dioceses mais ricas (no caso dos alemães, é claro), etc. Não se enquadra em nenhuma categoria, por exemplo, a diocese de Santiago de Cabo Verde. Não é falta de respeito, é bom senso mesmo.

Que o Papa queira nomear cardeais de dioceses pequenas, localizadas no "fim do mundo", é uma prerrogativa pontifícia, mas preterir dioceses importantes e de relevo para a Igreja é colocar-se, mais uma vez, acima da própria Igreja. 

Analisando racionalmente, o arcebispo de Salvador  e primaz do Brasil - o maior país católico do mundo, por enquanto - tem muito mais precedência que o Bispo de Tonga. Entretanto, dom Murilo Krieger não foi feito cardeal, mais uma vez.

Não sei o que se passa na cabeça do pontífice quando decide seus novos cardeais. Talvez pense "quem é o mais desconhecido de todos? Que país está mais perdido no mapa?" e, pabum!, escolhe o bispo de Addis Abeba, na Etiópia. Talvez faça isso com a ajuda de um grande globo, girando-o e repousando seu dedo ao acaso. Não sei! Mas o que sei é que as nomeações e, especialmente, as não nomeações custarão caro o Papa que, penso eu, se acha inalcançável por qualquer ressentimento.

Mais uma vez os EUA foram preteridos na criação de novos cardeais. Com a ótica típica de um pensamento terceiromundista ou bairrista, Francisco se diverte criando cardeais os bispos que o mundo até então nem sabia que existiam. Outros, por sua vez, esperam.

Francisco, embora tenha vindo do fim do mundo, se esquece que o mesmo é redondo e dá voltas.

O que virá a seguir? O que sairá desse conclave cada vez mais "exótico", repleto de figuras do fim do mundo? Não sei... só sei que o fim está próximo!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015, o Ano da Vida Consagrada e a falência dos Franciscanos

Em 2015 celebra-se em toda a Igreja o "Ano da Vida Consagrada". Neste ano o Papa Francisco, através da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, "convida-vos a refletir sobre o tempo de graça que nos é dado viver".

O documento inicial deste ano, publicado com as rubricas do próprio Prefeito, João Braz de Aviz, e do seu fiel colaborador, José Rodrigues Carballo, apresenta de forma nada acidental a figura de Francisco de Assis já nos primeiros parágrafos. E quem poderia imaginar que, às vésperas do começo desse ano da Vida Consagrada, seriam justamente os franciscanos o símbolo mais gritante do modelo falido que a dupla Aviz-Carballo quer apresentar para toda a Igreja.

Recentemente o mundo católico foi surpreendido, ou talvez nem tanto já que os veículos de informação não se dignaram a reportar pelo mundo tal notícia, pela falência da cúria dos Frades Menores que se deu por  operações "financeiras opacas, por conta da reestruturação de um hotel em Roma, com vistas ao Vaticano". "O escândalo, que saiu em Panorama (18 de dezembro), teria explodido em outubro. Os investimentos, escreve o vaticanista do semanário, Ignazio Ingrao, remetem ao período em que era superior dos frades menores José Rodriguez Carballo, hoje secretário da Congregação para os religiosos. Está sob acusação o ex-ecônomo geral, o Fr. Giancarlo Lati, que foi demitido juntamente com alguns conselheiros.".

O arcebispo Carballo, como fez bem em nos lembrar o blog Fratres in Unum, foi a primeira nomeação de Francisco para a Cúria Romana como secretário da Congregação para os Religiosos. O mundo progressista amou de imediato a nomeação de Carballo, tecendo elogios mil a sua pessoa e ao Papa. Carballo é  "natural de Espanha, foi ministro da Província Franciscana de Santiago de Compostela, presidente da União dos Frades Menores da Europa e mestre dos jovens em formação".

Se analisarmos superficialmente o currículo de Carballo, vemos que o digníssimo 119.° sucessor de São Francisco de Assis é um completo desastre. Além da falência e das operações financeiras escandalosas, o arcebispo assistiu passivamente ao desmoronamento dos franciscanos na sua própria terra natal.

Franciscanos espanhóis reunidos em Madri. Reparem na "juventude" dos irmãos.

No último dia 29/dez os remanescentes das províncias franciscanas de Bética, Castilla, Cataluña, Cartagena, Granada, Valencia e a Custodia de San Francisco Solano, muitas delas centenárias, se reuniram em Madri para formalizar o processo de fusão que levará o país a ter uma única província. Segundo o comunicado, a nova província contará com aproximadamente 400 religiosos, a maioria bem acima dos 60 anos.

É escandaloso que Carballo seja secretário da Congregação que, de alguma forma, deveria tentar incentivar o crescimento e progresso das comunidades religiosas. Seu passado o desqualifica para a função! Pode ser escandaloso, mas é antes de tudo sintomático.

Carballo e Braz de Aviz, além de Francisco (o Papa, não o Santo), possuem uma visão muito diferente da vida religiosa. Seu magistério sobre a vida consagrada "significa renovar a vida segundo o Evangelho, não no sentido de radicalidade entendida como modelo de perfeição e, muitas vezes, de separação". Na prática isso quer dizer aderir, de alguma forma, à mundanidade e apresenta o regular como secular. O resultado prático desse magistério é a derrocada que vemos e noticiamos: milhares de conventos e mosteiros vazios, já que o religioso atual não deve se separar seja lá do que for, muito menos do mundo; religiosos e religiosas vivendo uma vida escandalosa e diametralmente oposta ao carisma dos fundadores, já que devemos entender a vida evangélica não "no sentido de radicalidade entendida como modelo de perfeição". É claro que tal crise não se originou com Francisco ou Carballo, sendo ambos religiosos (o primeiro, jesuíta, e o segundo franciscano), antes os dois a personificam perfeitamente.

De posse desse "magistério" apresentado pela trinca Bergoglio-Carballo-Aviz, entendemos com muita tranquilidade, por exemplo, o ódio visceral que os três sentem pelos Franciscanos da Imaculada. A congregação dos filhos da Imaculada é um anti-magistério, se posiciona como antítese a tudo aquilo que os três pregam e entendem como modelo de vida religiosa. Por isso deve ser esmagada de forma impiedosa.

2015 pode ser o ano da vida consagrada falida em todos os sentidos - financeiro, estrutural, vocacional e espiritual. Um ano que deveria colocar os secretários e membros da Congregação debruçados sobre o projeto de vida religiosa que deu errado, reavaliar e conduzir os religiosos por um novo caminho. Isso acontecerá? Claro que não! Bergoglio-Carballo-Aviz não possuem a capacidade crítica para enxergar o erro! Pelo contrário, insistem e persistem.

O documento para o ano da Vida Consagrada tem por título "Alegrai-vos". O mais justo, entretanto, seria "Arrependei-vos".
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