Hoje, ao meio dia em Roma, o Papa Francisco aceitou a renúncia do bispo de Kansas City, Robert Finn, segundo o art. 401, §2, do Código de Direito Canônico, que prevê a renúncia de um prelado por problemas de saúde ou outro grave motivo que o impeça de continuar a exercer seu ministério.
A imprensa americana voltou seus olhos para Dom Finn após um técnico de informática ter descoberto arquivos de imagem de meninas nuas no computador do Pe. Shawn Ratigan e ter denunciado o caso à Cúria diocesana. Um processo foi aberto contra Dom Finn com a acusação de negligência em notificar de imediato as autoridades. Dom Finn se declarou culpado e condenado a dois anos de prisão domiciliar. Pe. Shawn Ratigan foi condenado à 50 anos de prisão.
É preciso deixar claro e reforçar que Dom Finn, diferentemente do que outros envolvidos em casos semelhantes fazem, se declarou culpado.
E eis que entra em cena, mais uma vez, o Papa Francisco. Armado com o Direito Canônico, Francisco ordenou mais uma das suas "visitas apostólicas" à diocese de Kansas City e, é claro, todos nós sabemos como elas terminam.
Tolerância zero para alguns. Misericórdia para outros.
Sem dúvida há motivos concretos para a remoção de Dom Finn, especialmente numa igreja como a americana, onde o escândalo sexual dos padres lhe custou a reputação, a confiança entre os fieis e bilhões - bilhões! - de dólares em indenizações.
Contudo... Recentemente o mesmo Papa Francisco resolveu promover o chileno Juan Barros (foto) à diocese de Osorno. O novo bispo chileno é acusado de encobrir casos de abuso sexual, por anos, do sacerdote Karadima - uma espécie de Marcial Maciel chileno. Juan Barros vem enfrentando fortes protestos desde a cerimônia de posse e anda pela diocese com escolta policial.
Segundo o Núncio apostólico no Chile e os representantes da conferência episcopal, Francisco foi informado integralmente sobre o passado de Juan Barros e mesmo assim o promoveu a bispo diocesano.
São dois casos com a mesma natureza e pediriam, por coerência, a mesma solução. Mas Francisco é jesuíta e se guia não por coerência ou bom senso, mas por afinidades ideológicas. Basta lembrar o caso do bispo de Merlo Moreno, quando Bergoglio ainda era arcebispo de Buenos Aires e defendeu o bispo Fernando María Bargalló depois deste ser pego num balneário caribenho de luxo com uma amante (uma mulher casada!). A misericórdia de Bergoglio tem dois pesos, isso sempre afirmamos.
O Círculo do Papa
Aqui cabe uma pausa. Vários blogs e jornais pelo mundo vem noticiando que o Papa Francisco, desde os primeiros dias de pontificado, vem se cercando de gente, digamos, nada recomendável. São cardeais que nos anos de Bento XVI sempre estiveram nas sombras da desconfiança e do descrédito.
Muitos vaticanistas (Tornielli, Tosatti, Allen e outros) já informaram que cardeais como Mahony e Danneels que, em seus respectivos países, foram responsáveis pelos maiores escândalos sexuais da história da Igreja, são vistos com frequência no Vaticano. Danneels, inclusive, foi apontado pelo Papa como membro de destaque na próxima assembleia do Sínodo dos bispos.
Outros cardeais do círculo intimo do Papa seriam o britânico Murphy O'Connor, o alemão Kasper, o brasileiro Hummes e alguns arcebispos italianos de menor projeção.
Já são sete!
O número de bispos ou arcebispos depostos ou removidos por Francisco não para de crescer. Sete prelados foram vítimas da misericórdia franciscana, todos eles conservadores ou próximos da tradição. Dom Finn se soma à Piacenza, Burke, Livieris, Franz Peter Tebartz-van Elst, Mollaghan e Mario Oliveri.
Pode parecer um número muito pequeno num universo de mais de cinco mil bispos, mas é suficiente para desencorajar aqueles prelados que flertam com a tradição e queiram promovê-la. Francisco, como bom progressista, não remove bispos sem visibilidade ou desconhecidos, mas procurar fazer movimentos cirúrgicos.
Cabe ressaltar que quase todos foram removidos sem uma única audiência com o Papa, onde poderiam tentar se explicar. O único prelado que conseguiu falar com o Papa antes da sua punição foi Tebartz-van Elst.
Outros nomes já poderão figurar na lista em breve, todos da linha ratzingeriana. Dom Salvatore Cordileone, arcebispo de São Francisco, vem enfrentando problemas por impor às escolas católicas as clausulas de moralidade, onde obriga os professores contratados por essas instituições a ensinarem a doutrina e moral católica, inclusive banindo professores homossexuais dos quadros escolares. Muitos grupos gayzistas já estão pedindo ao misericordioso pontífice a cabeça de Dom Cordileone.
A diocese de Liechtenstein, encabeçada por um dos poucos bispos tradicionalistas "em plena comunhão" (para usar esse termo bobo que vigora em blogs sedevacantistas...), também vem sofrendo com leigos revoltados com seu bispo. Mais aqui.
Pau que bate em Francisco nem sempre bate em Chico!
Desde a sua posse como bispo Roma, Jorge Mario Bergoglio não removeu um único bispo liberal. Pelo contrário, alguns foram até promovidos ou agraciados com a púrpura!
Não se trata de uma constatação vitimista ou de uma visão eminentemente bipolar. Se trata de fatos!
Francisco detesta o universo conservador-tradicional. Já deixou isso muito claro com adjetivos como neopelagianos, fariseus, ultrapassados, etc ao se referir a bispos, padres e, principalmente, leigos ligados à tradição católica.
Talvez seja um pouco de loucura dizer que há um plano arquitetado com metas e objetivos escritos para enterrar de vez a Tradição católica. Mas não é delírio, como alguns pensam, ligar os pontos e ver que há uma vontade concreta indo nessa direção. E ela parte de Francisco.
Lembremo-nos dos bispos removidos, dos consultores litúrgicos removidos, do Sínodo manipulado com tamanha desonestidade, da intervenção covarde nos Franciscanos da Imaculada e tantos outros acontecimentos do dia a dia que nos levam a uma única conclusão - breve ou longo este pontificado é um desastre para o Corpo de Cristo.