quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ordenação Feminina (de novo)


Para a assembleia dos leigos católicos, estão na agenda do dia importantes questões no processo de diálogo dentro da Igreja, mas também sobre a crise europeia. Entrevistamos, a esse respeito, o presidente da ZDK (Comitê Central dos Católicos Alemães), Alois Glück.
A reportagem é de Christoph Schmidt, publicada no sítio Domradio.de, 17-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: IHU.

Eis a entrevista.

No início do diálogo na Igreja, o senhor disse uma vez que, se dentro de alguns anos não forem visíveis desenvolvimentos concretos, a resignação e a frustração vai se difundir, juntamente com um massivo abandono da Igreja por parte dos fiéis. Esse temor chegou aos bispos?

Há sinais encorajadores. O início do diálogo neste verão em Mannheim, do qual diversos bispos participaram, surpreendeu muitas pessoas positivamente, por causa da sua abertura. Estou otimista de que poderemos alcançar mudanças significativas na Igreja. Mas não imagino que haverá decisões concretas nos próximos dois, três anos. Atualmente, não se trata tanto de grandes inovações. O direito canônico ainda oferece, por exemplo, muitas margens de movimento até agora não plenamente exploradas para uma direção paroquial feita por equipes que envolvam tendencialmente leigos e padres.

Um ponto importante da reunião de vocês em Bonn será a deliberação sobre um documento sobre o lugar da mulher na Igreja. Até onde chegam as demandas?

O esboço do documento requer claramente o acesso das mulheres ao diaconato, o primeiro dos três ministérios ordenados. Precisamos urgentemente de uma maior participação das mulheres, porque elas trazem um carisma próprio e uma riqueza de experiência em determinados âmbitos da vida que faltam aos homens. Nos grupos representados no ZDK, existe um amplo consenso em favor disso. Corresponde à convicção cristã do sacerdócio comum de homens e mulheres, que todos possuem pelo batismo e a crisma.

Não está em discussão a ordenação das mulheres?

Pode ocorrer que cheguem intervenções nessa direção, mas, no documento, isso não está previsto. Acredito que, atualmente, a demanda do ministério ordenado para as mulheres pode ter um efeito polarizador e pode impedir reivindicações mais realistas. Entre os bispos, a rejeição do presbiterato feminino é unânime, e, além disso, seriam abordados problemas mais drásticos referentes à Igreja universal. O mesmo pode ser dito sobre a ordenação de homens casados. Não leva a nada experimentar isso só entre nós, na Igreja alemã local.

Pelo que se sabe, com relação ao diaconato das mulheres, alguns bispos têm uma posição mais aberta. Como o senhor avalia a composição do episcopado alemão?

Uma subdivisão entre bispos conservadores e bispos progressistas me parece muito esquemática. Dependendo do assunto, a composição dos grupos é diferente. O compromisso com o diálogo também é muito diferente nas várias dioceses, o que depende também do correspondente compromisso dos leigos. Isso é normal. De todos os modos, na minha opinião, é crescente a aceitação por parte dos bispos de diálogos abertos, sem temas tabus.

***

A ordenação de mulheres parece ser o grande tema do progressismo germânico, assim como a abolição do celibato é um tema recorrente na Inglaterra e na França.

O pronunciamento definitivo da Igreja sobre o assunto, com João Paulo II, parece estar num eterno "entre aspas". Muitos teólogos perderam o sentire cum ecclesia, perderam o chão sobre o qual trabalham os grandes temas teológicos. Por isso hoje não é incomum ouvir expressões como "fazer teologia" ou "produzir teologia", como se a Teologia Católica fosse um bem de consumo mutável e flexível, não suportando as exigências do Evangelho.

Há claramente um plano de destruição do sacerdócio católico tradicional, entendido pela Igreja como desejo de Cristo. E esse plano não se manifesta apenas nos pedidos ousados pelo sacerdócio feminino, mas é algo gradual. Longe de teorias da conspiração, podemos ver como, após a permissão de ter acólitas no serviço do altar, o número de vocações sacerdotais foi reduzido e, dessa forma, justificaria a necessidade por reformas no sacerdócio. Um erro para cobrir outro...

Tal processo aconteceu na Igreja Anglicana. Primeiro com a teologia feminista, de gênero, sendo inserida nas paróquias, com acólitas. Depois, a cada reunião geral do Anglicanismo (Lambeth), podemos ver como  a ordenação feminina foi evoluindo. A mesma conversa fiada de "diaconato feminino" foi usada para inserir a mulher na hierarquia, numa total oposição ao desejo de Deus. Um vez o diaconato feminino aprovado, segundo os teólogos anglicanos, não havia fundamento sólido para se negar o presbiterato ou episcopado. Foi nessa progressão, ou melhor, derrocada teológica, que hoje os anglicanos gozam de bispas em muitas das suas dioceses.


E os frutos? Segundo os novos "gurus" da teologia católica, a ordenação feminina permitiria (1) a maior participação da mulher na vida da Igreja porque "elas trazem um carisma próprio e uma riqueza de experiência em determinados âmbitos da vida que faltam aos homens" e (2) um crescimento vocacional e de serviço, já que muitas paróquias não contam com sacerdotes.

Aqui é preciso analisar os frutos obtidos com a ordenação feminina onde ela existe, ou seja, no mundo protestante. Em nenhuma comunidade protestante - anglicana, luterana, presbiteriana, metodista - houve essa "nova primeira" que prometem os defensores da ordenação feminina. Pelo contrário, houve cisma, diminuição de fiéis (a Igreja Episcopal norte-americana passou de 20 milhões de fiéis na década de 1960 para 2 milhões atualmente, ainda em queda contínua) e graves crises teológicas e pastorais.

É isso o que querem para a Igreja Católica? Acredito que sim, dado o empenho com que defendem esse absurdo.

Recomendamos, como não poderia ser diferente, a leitura da Ordanatio Sacerdotalis de João Paulo II, que diferente do que muita gente pensa, não é um documento sobre a ordenação feminina, mas sobre a ordenação reservada somente aos homens.

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