A Santa Sé informou hoje a lista com os nomes dos novos cardeais que serão criados por Francisco no seu primeiro consistório em fevereiro. São 16 cardeais votantes, alguns da Cúria Romana, mas a grande maioria são bispos de diversos continentes.
Francisco manteve-se coerente com a tônica que vem dando ao seu pontificado - um papa do fim do mundo, com cardeais não muito longe do mesmo fim. A predominância é de nomes não-europeus e, para espanto de muitos vaticanistas, nenhum nome estadunidense foi anunciado.
Quem está dentro?
Gerhard Ludwig Müller, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado por Bento XVI e um dos primeiros nomes confirmados por Francisco. O futuro cardeal vem assumindo uma função inédita na história da Igreja, atuando como um "corretor" do próprio Papa. A cada nova entrevista, declaração, ligação, etc. do Papa Francisco, Müller surge das sombras da Santa Inquisição para "esclarecer" o que o Papa realmente quis dizer e acalmar os ânimos. Embora venha realizando defesas importantes da doutrina da Igreja, sobretudo no caso do levante dos bispos alemães favoráveis ao divórcio, não podemos esquecer que em Roma são poucos os cardeais (ou bispos) com um ódio visceral à FSSPX tão grande quanto o Müller. Neste ponto, por motivos diversos, Müller se junta à Braz de Aviz na perseguição a tudo aquilo que cheira à Tradição.
Lorenzo Baldisseri, antigo Núncio para o Brasil. Para mim o discurso anti-carreirista do Papa Francisco é uma grande ilusão. O Papa já criticou os bispos "de aeroporto", os padres carreiristas, os padres com carrões, já vetou a honra de monsenhor aos padres mais jovens, etc. Na prática, entretanto, Francisco é o Papa que mais vem premiando os mesmos carreiristas que condena. Não creio que algum levantamento nesse sentido tenha sido feito, mas é fácil observar como os bispos de carreira, sobretudo aqueles vindos da sombria academia eclesiástica, estão maravilhados com as possibilidades com Francisco. Dom Baldisseri representa, na minha opinião, a pior escolha deste pontificado. Podemos dizer que Baldisseri representa aquele incômodo sinal de contradição, que ninguém ousa apontar, mas que todos sabem que está lá.
Bispos do Fim do Mundo. Nicarágua, Costa do Marfim, Burkina Faso e Haiti foram contemplados com o barrete. Acho interessante e até produtiva a presença de bispos de lugares afastados. Uma Igreja missionária precisa de uma visão das terras de missão. Entretanto, não podemos deixar de notar que a presença desses bispos tem um duplo efeito. Por um lado ela amplia a visão da Igreja, por outro enfraquece o colégio de cardeais trazendo para dentro bispos com pouca experiência de política eclesial que, bem ou mal, é importante.
O mais importante deste consistório é saber quem não tem lugar na Igreja de Francisco. A Igreja inclusiva, pobre e mariana do papa Francisco, que esmaga violentamente a congregação dos Franciscanos da Imaculada, parece não ter lugar para alguns.
Nomes impressionantes ficaram de fora da lista, sobretudo nomes Ratzingerianos.
Dom Moraglia. Ortodoxia litúrgica e doutrinal não estão na moda neste pontificado. |
Dom Francesco Moraglia, patriarca de Veneza. Os patriarcas latinos de Veneza e Lisboa são elevados ao cardinalato, por privilégio papal, no primeiro consistório após a sua nomeação para as dioceses. Francisco deixou Francesco de fora deliberadamente. Francesco Moraglia é um bispo de teologia forte, conservador, próximo a Bento XVI. Justamente a sua proximidade teológica com o antigo papa pode ter sido o motivo da sua exclusão.
Dom André-Joseph. Atacado pelo mundo e esquecido pela Igreja. Um exemplo de Bispo! |
Dom Murilo Krieger, primaz do Brasil. É verdade que a presença de Dom Orani no consistório pode ter excedido as vagas reservadas aos brasileiros, mas preterir o Primaz do Brasil pelo Arcebispo do RJ é um pouco complicado e contraria as expectativas. Mas a perda, olhando generosamente, não foi tão grande assim...
Nenhum americano. Como todo latino-americano, o argentino Francisco parece ter uma rusga ideológica com os estadunidenses. Pelo menos o arcebispo de Baltimore, Dom William Edward Lori, poderia receber o barrete, mesmo seu antecessor não tendo completado 80 anos, já que o cardeal Edwin Frederick O'Brien foi nomeado para outra função (algo semelhante aconteceu com Dom Odilo e Dom Hummes).
Os cardeais dos EUA que deverão ser criados nos próximos consistórios serão uma pedra no sapato de Francisco. Não adianta o leitor dessas linhas elevar seus olhos aos céus achando que estou sendo duro ou malicioso! É fato! Talvez por isso mesmo Francisco esteja enchendo o colégio de bispos 'do fim do mundo', para contar com algum respaldo político dentro da Igreja para as famosas reformas franciscanas que virão. Isso meus amigos é política eclesial. É feia, não é santa, mas existe.
Bispos Tridentinos. Com exceção de D. Gualtiero Bassetti, arcebispo de Perugia, e do próprio Dom Orani, nenhum outro bispo elevado por Francisco ao cardinalato celebrou ou assistiu a uma celebração da missa tridentina. Algo muito característico dos consistórios de Bento XVI era a presença de bispos simpáticos ao rito antigo. Penso que a proximidade com a missa tradicional, agora, pode ser um fator a mais para a exclusão do nome.
E o que pensar?
Os consistórios de Bento XVI eram motivo de alegria na blogosfera católica. Nomes fortes, bispos com excelente formação intelectual e teológica, pastores atuantes, etc. Ratzinger, nas suas escolhas para o colégio, procurava centrar na pessoa do nomeado.
Já os consistórios de Francisco, tomando por base o que vemos nesse, serão recheados de obviedades.
O colégio de cardeais é muito importante e, vendo a lista de hoje, fico me perguntando para onde o Papa guia a barca de Pedro.
Os novos cardeais são conhecidos por sua ortodoxia, pela defesa da fé e dos valores católicos? Não! Simplesmente são bispos de Burkina Faso ou da Nicarágua. O único mérito de alguns cardeais de Francisco é a sua origem geográfica e o único pecado mortal neste pontificado é ter nascido na Europa ou nos EUA.
A Igreja Franciscana parece muito diferente no discurso e na prática. Censura os carreiristas nas homilias da Santa Marta, mas lhes concede barretes. Pede a Deus religiosos que anunciam o evangelho com doçura, mas pune com ferocidade os Franciscanos da Imaculada. Pede bispos corajosos, mas não reconhece aqueles prelados que lutam com todas as forças pela fé católica.
O que pensar? Penso que em breve teremos cardeais do Suriname, da Libéria, de Lampedusa, etc. E por que seriam criados cardeais? Porque são do Suriname, da Libéria, de Lampedusa, etc. com tudo isso o colégio de cardeais se torna cada vez mais parecido com os congressos sul-americanos, onde políticos são eleitos simplesmente porque são simpáticos ou têm um bordão divertido.
E mais alguma coisa...
Quem aposta que os anéis dos cardeais serão de prata ou de algum outro material diferente do ouro? Talvez sejam até de tucum.