sábado, 22 de novembro de 2014

Reforma da Cúria. Round 2 das pancadas franciscanas.


Em julho deste ano escrevi um texto com o título "A Reforma da Cúria é tão ruim quanto os seus reformadores", do qual destaco alguns trechos:

(...)Francisco não sabe lidar com a Cúria porque carrega um grande preconceito contra ela desde os tempos de bispo diocesano. E os cardeais escolhidos por ele para o grupo de estudo compartilham a mesma opinião negativa sobre a Cúria, alguns mais outros menos. Não se trata de uma reforma, mas de uma revanche.
(...)
(...)o objetivo não é, nem de longe, melhorar a Cúria, mas destruí-la por completo. Uma cúria fraca pede conferências episcopais fortes, e Maradiaga está dizendo que é justamente isso o que vai acontecer.
(...)
De qualquer forma, estamos na iminência de uma catástrofe. O sínodo para a família no próximo outubro é uma antecipação necessária para a reforma da cúria. Veremos no Sínodo - Deus nos livre! - um embate de cardeais e bispos sobre os divorciados. Sem perder tempo para que os conservadores da cúria se recuperem do sínodo, vem imediatamente a reforma da cúria. Um golpe depois do outro.

Francisco e sua trupe de cardeais estão novamente com os olhos voltados para a cúria. O sínodo, em sua primeira etapa, cumpriu uma missão fundamental - identificar as cabeças da resistência ao "admirável pontificado novo", fundado sob a rocha arenosa de Jorge Mario Bergoglio. Alvo identificado, só resta neutralizá-lo. A tal "derrota" sofrida por Bergoglio e Kasper é apenas uma consequência negativa da identificação da liderança conservadora, mas não deixa de incomodar o papa argentino.

Agora mesmo o blog Fratres in Unum publica um texto de Tosatti, um vaticanista que vem se destacando e ocupando um lugar anteriormente reservado a Tornielli, intitulado "Grandes mudanças à vista na Cúria." Você deve ler o breve post por inteiro.

Com base no texto do Tosatti-Fratres, confirmo aquilo que até o momento apenas havia especulado também numa outra postagem (O Papa-Sol. A Igreja Sou EU!), onde escrevi:
Maradiaga, o vice-papa, poderia ser nomeado para algum cargo na Cúria Romana. Francisco precisa de um nome forte em Roma, porém inteiramente devotado ao projeto bergogliano, e na face desta Terra não há ninguém mais fiel ao processo revolucionário de Bergoglio que o cardeal arcebispo de Tegucigalpa Oscar Maradiaga.
Segundo Tosatti: Crê-se que Maradiaga seria o comandante de uma nova “super congregação”, que abarcaria o Conselho Justiça e Paz, o Conselho para os Migrantes, o Conselho Cor Unum, a Academia para a Vida e o Conselho para os Operadores Sanitários, bem como um quinto secretariado para o Direito das Mulheres.

O objetivo da reforma, repito, é a eliminação de cardeais curiais através da fusão de congregações e conselhos, resultando num peso menor desses prelados, de linha sempre mais conservadora que os bispos e cardeais residenciais, num inevitável conclave ou nos sínodos. A maioria dos cardeais da cúria participa automaticamente dos sínodos por força do cargo que ocupam. Francisco não quer que o sínodo de 2014 se repita em termos absolutos (derrota preliminar do teorema Kasper) e o seu processo revolucionário, agora, não pode encontrar resistências tão inquebrantáveis ou contestações tão fortes.

Os poucos cardeais que restarão na Cúria de Francisco serão prelados de segunda linha, como Stella ou Baldisseri, mas totalmente subservientes e obedientes aos caprichos e planos do Papa-Sol. A Cúria, que antes reunia os bispos "top de linha", os melhores e mais bem preparados, ficou para a história. Cardeais de peso e com grande expressão como Burke, Canizares, Castrillon Hoyos, Ruini, Medina Estevez, Ratzinger ou mesmo Ré e Sodano, gostem ou não dos dois últimos, não serão mais vistos em Roma.

Acredito que depois da aniquilação reforma da Cúria teremos também, é claro e natural, uma reforma do colégio de cardeais. Querem apostar? Francisco já não se sente obrigado a obedecer qualquer regra na nomeação de novos purpurados, esquecendo sedes que por direito adquirido ao longo da história da Igreja deveriam ter cardeais no comando (Lisboa e Veneza). Um antigo desejo progressista, daquela turminha endiabrada de 1970/80, era que os presidentes das Conferências Episcopais elegessem o papa. Um desejo que, se Deus permitir um pontificado franciscano mais longo do que 5 anos, se tornará realidade.

Quem viver, verá!
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