Frequentemente quando se escreve algo negativo sobre o pontífice, somos logo acusados de ódio ao Papa. Nada mais falso! Sigamos.
Acredito que todos conhecem ou pelos já foram informados sobre as eleições americanas. Neste momento há a definição dos candidatos de cada partido através das convenções. Na prática é uma eleição para a grande eleição que se realiza em novembro deste ano e definirá o nome para ocupar a Casa Branca - a residência politicamente mais importante do mundo - pelos próximos quatro anos.
Como o sistema americano é tecnicamente bipartidário, temos os Republicanos, que possuem hoje o controle do Congresso e o maior número de governadores, e os Democratas, partido do presidente Obama.
O que vem abismando os comentaristas e cientistas políticos é a escalada do pré-candidato republicano Donald J Trump, um bilionário do ramo dos imóveis e da construção, celebridade televisiva e, segundo seus apoiadores, um outsider, isto é, alguém que não vive no mundo político de Washington e que, portanto, estaria mais conectado com os desejos do americano comum.
Trump tem muitas propostas, entre elas a construção do tal Muro que vai separar México e EUA. E, para desespero dos progressistas e até mesmo dos moderados, Trump afirma categoricamente que fará o México pagar pela imensa obra.
Sobre as posições de Donald Trump, o Papa Francisco disse:
“(...)uma pessoa que pensa apenas em construir muros, seja onde for, e não construir pontes, não é cristã. (...) Sobre se eu aconselharia a votar ou não votar, não me meto. Apenas digo: esse homem não é cristão".
Trump respondeu, é claro, de forma dura ao Papa, afirmando num comunicado oficial que "é uma vergonha que um líder religioso questione a fé de uma pessoa".
E os eleitores americanos católicos, como ficam? Os católicos nativos do EUA, ou seja, aqueles que não vieram pela imigração, estão...contra o Papa e a favor de Trump! Numa entrevista recente ao canal conservador Fox News, Raymond Arroyo, apresentador principal da rede americana católica EWTN afirmou, quando questionado sobre os votos dados por católicos e protestantes ao pré-candidato (transcrevo o que se vê no vídeo):
"Evangélicos e católicos, nestes estados de disputa: Louisiana, Texas, Virginia, Alabama; quando eu lhes perguntei, quando saiam das cabines de votação, em quem eles haviam votado, eu diria que 8 em cada 10 disse Trump. E quado você começa a conversar com eles e perguntar por que, eles dizem 'eu estou votando contra o establishment [elite dominante, NdT] do meu partido', mas eu digo 'olha na superfície a sensibilidade de católicos e evangélicos e Trump não parece ser coerente', mas eles também me dizem 'eu também estou votando contra o establishment da minha Igreja'. Eu digo: o que você quer dizer com isso? Quase todos me dizem, 'olha a Igreja está se movendo, politicamente, nessa direção, estão abraçando ecologismo, as políticas [mais liberais] de imigração...O Papa! Então as pessoas estão preocupadas, então esse é um instrumento para registrarem sua insatisfação mesmo com a própria fé"
Ora, mas vejam só! O Papa Francisco se tornou o melhor cabo eleitoral de Donald Trump, o homem que não é cristão, segundo Jorge Mario Bergoglio.
O que é certo é que os católicos nativos dos EUA nunca gostaram de Bergoglio porque o papa argentino tem sim - e é evidentíssimo - uma aversão aos EUA enquanto nação, enquanto agente político, etc. São os católicos oriundos da imigração latino americana que fizeram a visita de Francisco aos EUA um relativo sucesso.
Ao rejeitarem a doutrina de Francisco, os católicos americanos, majoritariamente conservadores, perdem o referencial e acabam, obviamente, num outro lado do extremismo.
Mas quem sou eu para julgar!?