Um chazinho para os nervos do Arcebispo Anglicano
É visível a degradação moral que abateu a Igreja Anglicana da Inglaterra. Diria que não apenas ela, mas praticamente qualquer denominação protestante antiga da ilha da Rainha Elizabeth II.
A publicação da Anglicanorum Coetibus foi uma reação do Santo Padre na salvação não apenas dos anglicanos tradicionais, mas um verdadeiro recado aos demais cristãos.
Mas toda ação implica uma reação. E a reação a qualquer guinada para a direita, relembrando o homem dos seus valores fundamentais, é vista sempre com desconfiança, no melhor dos casos, e fúria.
Alguns bispos anglicanos, especialmente o "influente" e, minha opinião, bizarro, arcebispo de York viram da constituição do Santo Padre algo totalmente anômalo, incrível e anti-eclesial. Outros, atacando diretamente o bispo dos bispos, afirmaram ser uma armadilha aos tolos "anglo-católicos" que os levará à submissão petrina (algo que qualquer anglicano sempre aprendeu a odiar) e à idolatria.
Contudo, suas opiniões parecem não exercer a menor influência nos 5 bispos anglicanos que deixaram essa comunidade e pretendem, nos primeiros dias de 2011, cruzar o Tibre (expressão que já se popularizou ultimamente). E seguindo as pegadas desses "pioneiros", vemos vários pastores (50, exatamente) e milhares de fiéis. Lembram os "puritanos" que também fugiram da Inglaterra rumo aos EUA em busca de liberdade, só que neste caso, os "puritanos" de agora não são persistentes no erro, mas decidiram acertar.
A estrutura do Ordinariato, uma novidade canônica, já foi amplamente comentada. A possibilidade de preservação litúrgica é a grande chave da questão. Contudo, é preciso reforçar que a fé será a católica. Creio que os anglicanos convertidos, ou melhor, os novos católicos não têm qualquer problema com isso, mas sempre há a tentação, especialmente em tempos ecumênicos, de se manipular essa nova estrutura para que se torne ecumenicamente correta, agradável.
Deve ser em busca de um Ordinariato mais anglicano que católico que o Arcebispo da Cantuária, Dr. Rowan Williams, visitou mais uma vez o Papa Bento XVI.
Essas visitas, não cobertas ou anunciadas pela mídia, nos dão a impressão, talvez falsa (quem sabe?), de um líder em pânico. Quando do lançamento da Anglicanorum Coetibus, o mesmo Arcebispo realizou uma visita rápida e urgente ao Bispo de Roma. Agora, a conversão rápida de 5 bispos para a fé católica através de uma estrutura que, convenhamos, ainda não se sabe se irá funcionar corretamente (ajustes podem e devem ser feitos ao longo dos primeiros 5 anos de experiência) é surpreendente.
O caos anglicano é consequência direta do esquecimento da fé que, um dia, esteve presente nas ilhas britânicas que, bem ou mal, preservou-se por tempo mesmo durante o cisma protestante.
E agora vemos um líder puxado para todos os lados. Os progressistas anglicanos, desejosos da ordenação de mulheres bispas e das mais estranhas liberdades, o acusam de ser demasiado fraco. Os anglo-católicos, representando a direita anglicana, simplesmente desistiram de implorar e já pensam com mais carinho no Ordinariato. No meio da confusão temos os anglicanos "históricos", aqueles que afirmam perseguir a fé anglicana como sempre; esses estão mais confusos que cegos em tiroteio, não sabem, ou melhor, não têm para onde correr. Criam estruturas novas na tentativa de manter o vínculo de comunhão entre todos.
Some-se a isso a remodelação da liderança católica inglesa. Sempre solícitos aos anglicanos, os novos bispos católicos ingleses, especialmente os criados por este Papa, estão mais focados em preservar a fé católica que em conversar com anglicanos. Em Roma, a mudança do presidente do Conselho para Unidade dos Cristãos também foi um duro golpe. Sai o dialogável Cardeal Kasper e entra o duro e teologicamente conservador Cardeal Kurt Koch.
Um momento de turbulência, sem dúvida, para os protestantes e para os católicos. Transformações importantes acontecendo, novas prioridades. Tudo isso nós observamos com os olhos bem abertos e os joelhos dobrados.