De vez em quando surgem algumas ideias estapafúrdias que, travestidas de humanitarismo, são na verdade um belo engodo. Uma delas, que parece tomar um novo fôlego recentemente, é a afirmação que se a Igreja Católica vendesse o Vaticano (a cidade Estado, com os prédios anexos que estão no território italiano), o montante seria suficiente para acabar com a fome no mundo. Certamente uma afirmação grave, com um profundo poder emocional.
Muito bem, extinguir a fome é um processo complexo no qual, para espanto de todos, o dinheiro é o menor dos problemas. De fato, dinheiro nem é uma questão para se extinguir a fome no mundo.
Segundo a FAO/Onu, são necessários aproximadamente US$ 40 bilhões de dólares para eliminar a fome da face da Terra. Como vocês veem esse montante não é absurdo e, de fato, algumas empresas multinacionais lucram muito mais que isso por semestre. Só em impostos, até setembro, o Brasil arrecadou US$ 500 bilhões de dólares. Então por que o Vaticano entrou nessa conversa toda?
O slogan bradado aos quatro cantos do planeta, traduzido em quase todos os idiomas e tweetado aos montes, não é outro que não um reflexo da campanha difamatória contra a Igreja Católica que existe desde dos tempos apostólicos. Difamar a Igreja com base num suposto poderio financeiro da Santa Sé é uma prática antiga, usada até mesmo por Lutero na Reforma Alemã e por Lord Cromwell, cabeça (decapitada) da primeira fase da reforma inglesa.
Por que a Igreja Católica? Por que as demais confissões cristãs não gozam de semelhante tratamento injurioso? Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós (São João 15,18), afirmou Cristo.
De fato há uma predileção pela Igreja Católica, uma predileção perversa que a conduz num caminho de sofrimento. Só a Igreja Episcopal (Anglicana) dos EUA vale, em termos contábeis, US$ 20 bilhões de dólares; a Igreja Evangélica Luterana da América (ELCA, em inglês) deve valer, pelo seu tamanho semelhante, outros tanto. Por que só a Igreja Católica, que não tem qualquer relação com a fome no mundo, uma vez que ela não é importadora ou exportadora de nada, não participa no comércio internacional, não tem poder decisório nos diversos países, enfim, "não manda nada!", por que somente ela é culpabilizada pela fome global?
Mais adiante, no mesmo Evangelho de João, lemos: Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Nada mais verdadeiro e atual.
A Igreja Católica, nadando contra o fluxo perverso da cultura atual, se posiciona contra o aborto, a eutanásia, o divórcio, a cultura gay, etc. e por isso é odiada violentamente pelos protagonistas do mundo em que vivemos. Eles sim - esses que agridem o Corpo Místico de Cristo - são os verdadeiros e os únicos culpados pela fome, pela miséria global.
Vender o Vaticano, despir a Igreja das suas vestes de esposa perfeita e imaculada, humilhando-a sinistramente não resolverá, evidentemente, os problemas globais de fome ou miséria. Mas uma mentira, dita mil vezes, especialmente hoje com a comunicação veloz, torna-se uma verdade dogmática irrefutável. Pobre dos tolos católicos que, tomados por um falso humanitarismo, propagam ideias tão perversas contra a única promotora da verdadeira dignidade humana na sociedade, contra o único lume de esperança.