Nos últimos dias também vimos a vergonhosa e vil tentativa de algumas criaturas ainda não identificadas que desejam, sem sombra de dúvida, atrapalhar e impedir tal regularização. Essas sombras de batina agem nos dois lados, tanto dentro da estrutura canônica da Igreja quanto nos contingentes da Fraternidade. O vazamento ainda anônimo das cartas do Vaticano ao IBP e da comunicação interna da FSSPX só prova o tipo dos "sacerdotes honrados" caminham nos escritórios de Pe. Laguérie e Mons Fellay. Claro que não estou generalizando, mas há uma massa podre ativa (sic).
Agora vemos também o choro e o ranger de dentes dos sedevacantistas, dos privacionistas e daqueles outros que nunca desejaram submissão ao Pontífice, qualquer que seja ele, por simples orgulho. Estes precisarão, na eventualidade de um acordo, deixar as sombras do anonimato e cismar de fato. O único escudo que lhes restava - a irregularidade canônica - lhes será retirado. Estarão expostos estes que, longe de lutar pela Igreja e pelo triunfo da fé, querem seguir o próprio orgulho embatinado de Tradição.
Ameaçam com a história precedente. Dizem que a voz de Fellay é igual a de Dom Gerard (Barroux) ou Pe. Rifan, por exemplo, nos momentos dos seus respectivos "acordos" com Roma modernista. Vejam, vejam! A história ensina como é perversa a Roma herética e apóstata, eles gritam.
O que não enxergam é que a FSSPX vai simplesmente voltar a fazer o que sempre fez. A FSSPX voltará a ser aquela mesma obra iniciada por Dom Lefbvre em 1970. Por acaso Dom Lefbvre fundou a FSSPX alheio aos procedimentos eclesiais? Claro que não! Pediu autorização aos bispos locais e procedeu conforme o direito. Seria então Dom Lefebvre um legalista, um subserviente da Roma Apóstata? Ou Roma caiu em apostasia somente após a excomunhão de Lefebvre? Então deduziríamos, no caso de uma resposta positiva a este último questionamento, que Mons Lefebvre deixou de ser um simples bispo, passando a ser a encarnação da própria Tradição.
Não se enganem! Quem fundou a FSSPX foi Dom Lefebvre, mas quem a regularizou foi o bispo diocesano François Charrière, de Losana-Genebra-Friburgo. Tenhamos isso em mente quando avançamos neste texto.
Precisamos ainda ter em mente qual era o contexto da época em que Dom Lefebvre fundara a FSSPX e o contexto atual e, dessa forma, compreenderemos que um acordo agora não é uma armadilha, exceto, é claro, para os sedevacantistas que serão forçados, por expectoração, a sair.
Na década de 1970
Anos críticos para a FSSPX. Dom Marcel funda essa "nova comunidade", digamos assim, e começa a perseguição. Contudo, Dom Lefebvre ainda está em situação regular. Mesmo após a sua suspensão a divinis, Dom Lefebvre nunca pensou a priori em "deixar a Igreja" ou isolar-se num movimento paralelo ou irregular; nunca desejou outra situação canônica para a FSSPX que não aquela que ele próprio havia buscado ao fundá-la. Veja, caro leitor, que se o objetivo de Mons Lefebvre fosse a permanência da FSSPX numa situação irregular, ele a teria fundado dessa maneira desde o começo. A irregularidade da FSSPX é um acidente e não faz - e jamais poderia fazer - parte da sua substância.
Mas qual era o contexto desta década? Bem, é fácil ter uma ideia. Foi imediatamente após o Vaticano II, os liberais estavam no comando das maiores dioceses do mundo e de altos postos da Cúria Romana. Ideias inovadoras e mesmo heréticas eram "a última moda". Os grandes leões da ortodoxia perdiam espaço e poder, graças às decisões desastradas de Paulo VI.
Na Cúria Romana estavam:
- Franjo Šeper (1968-1981) - Doutrina da Fé
- James Knox (1974-1981) - Culto Divino
- Sebastiano Baggio (1973-1984) - Bispos
- John Wright (1969-1979) - Clero
Nas dioceses estavam:
- Roger Marie Élie Etchegaray - Marseille (França)
- Gabriel Auguste François Marty - Paris
- Leo Jozef Suenens - Bruxelas
- Franz König - Viena
- George Basil Hume, OSB - Westminster
- Giacomo Lercaro - Bolonha
- Paulo Evaristo Arns - São Paulo
- Helder Câmara - Olinda e Recife
- Aloísio Lorscheider - Fortaleza
Franjo Šeper era favorável ao vernáculo na liturgia e foi um partidário da reforma bugniniana; James Knox realizou uma missa com nativos australianos, já na década de 1970; Etchegaray detestava, segundo Mons Fellay, a Fraternidade; o cardeal Marty comandou a triste luta pela posse da Igreja de St Nicholas du Chardonet, a principal e mais simbólica Igreja da FSSPX no coração da França; os cardeais Suenens e König eram progressistas de alto calibre; o beneditino Basil Hume nunca demonstrou qualquer inclinação ou simpatia com a missa tridentina perseguindo-a o quanto pôde; Lercaro nutria simpatias pelo comunismo.
Os brasileiros não precisam de apresentação. Eram autênticos expoentes de tudo aquilo que hoje chamamos de "Hermenêutica da Ruptura" e que com força condenamos.
Leonardo Boff era lido e aclamado. Outros teólogos do tipo também avançavam numa onda destruidora, em nome do Concílio. Professores universitários hereges e ateus, maçons comungando com a anuência dos bispos, marxismo, feminismo e outros ismos dentro dos seminários e conventos. Em suma, foi uma verdadeira prova de fogo que mostrou a mão divina dentro da Igreja, impedindo-a de morrer devido a gangrena de muitos membros.
A Missa Tridentina estava oficiosamente proibida e os santuários eram invadidos por demolições. A comunhão na mão avança, os genuflexórios são removidos, as péssimas traduções entram em vigor.
Até 1975...
Até 1975 a FSSPX fazia parte oficial e canonicamente da Igreja. Em 1975 foi revogada a condição de Pia União.
O que é interessante notar é que Mons Lefebvre e a FSSPX faziam parte dessa "Roma Modernista". Estavam dentro da estrutura da Igreja Conciliar, eram "romanos", para usar os termos que colocam a nós.E a Roma modernista de antes era muito pior, reconheçamos, que a Roma modernista de hoje.
Mons Lefebvre defendia a ortodoxia católica desde dentro, a mesma postura vista no superior do IBP, por exemplo, mas que é estranhamente condenada pelos membros da FSSX de hoje.
Depois de 1975...
Depois do ano de 1975 a relação Vaticano-Econe começa a azedar. Culmina com a excomunhão de 1989, quando consagrou os 4 bispos.
Foi precisamente ai que temos aquilo que podemos considerar como o primeiro e mais grave erro de Mons Lefebvre e que plantou a semente do sedevacantismo dentro da FSSPX (essa teoria surge na FSSPX). Não falo das consagrações em si, mas da sua "bula". Para justificar a consagração ilegítima, Mons Lefebvre explica, no momento da leitura da bula papal (que não existia, é claro...), que ele o faz [as consagrações] por fidelidade à Roma eterna e não à Roma Modernista. É ai que Mons Lefebvre corta a Igreja nesta Terra em duas.
É claro que Mons Lefebvre nunca quis fundar uma outra Igreja, mas foram essas palavras que, como fogo em palha, deram ignição ao sedevacantismo que, ironicamente, ameaça destruir a Fraternidade desde dentro.
Esse conceito de "Roma Eterna" só encontra sustentação dentro do sedevacantismo. Acredito que ele quis dizer que permanecia fiel ao que a Igreja sempre ensinou, mas hoje, mais de 20 anos, suas palavras claras tornam-se obscurecidas e evanescentes, e despidas do contexto servem para justificar a doença que corrói a Fraternidade.
Ele nunca quis sair
Os detratores do acordo com Roma ameaçam. Afirmam que Mons Lefebvre retirou a sua assinatura do acordo com o então-cardeal Ratzinger por não confiar nas autoridades hereges e que Dom Fellay, ao confiar, irá cometer um erro terrível.
É preciso notar que Mons Lefebvre nunca quis sair. Foi justamente essa vontade de ficar - dentro da Igreja modernista, apóstata, herege e descontrolada, etc - que o inclinou a um acordo. Acordo este que assinou, embora tenha rechaçado posteriormente.
Numa Cúria mais agressiva à Tradição, com condições piores que o acordo oferecido ao Mons Fellay [pelo pouco que sabemos deste último], até então sem qualquer precedente, Mons Lefebvre assina. Se retirou a assinatura, é um problema posterior, mas demonstrou que estava disposto a ficar e num ambiente eclesial muito mais insalubre.
Bento XVI e os três presentes
Mons. Lefebvre pedira espaço para apenas continuar a fazer a experiência da Tradição, algo bem simples e muito limitado. Mons Fellay foi mais ganancioso e mudou a Igreja. Você, caro leitor, tem ideía do que o superior geral da FSSPX conseguiu?
Com Bento XVI a relação e o contexto mudaram drasticamente. Este Papa modernista, herege, subjetivista concedeu três presentes à FSSPX, mas que são também três dons para toda a Igreja.
(1) Summorum Pontificum
(2) Levantamento das Excomunhões
(3) Discussões Doutrinais e questionamentos sobre o Vaticano II
Em termos de Igreja, seria o equivalente a tirar a lua da sua órbita!
O contexto mudou radicalmente desde 1989 e por isso a carta dos bispos e o choro raivoso dos sedevacantistas "amigos" não tem razão de ser.
A Cúria romana está muito mais inclinada à Tradição hoje que em 1989. Os cardeais e arcebispos do mundo estão mais inclinados à missa tradicional, pois de 2007 até hoje mais de 260 deles já participaram dessa forma, algo impensável no tempo de Mons Lefebvre! Seminários diocesanos estão ensinando a forma extraordinária, há religiosos que estão voltado a celebrar exclusivamente esta forma.
O IBP pode criticar o Vaticano II, algo que Mons. Lefebvre sempre quis liberdade para fazer. A Administração Apostólica tem um bispo próprio, mostrando que Roma pode sim continuar a prover à FSSPX do necessário episcopado. Os padres da tradição podem comandar paróquias pessoais, etc.
A FSSPX com bala na agulha
1/5 dos padres franceses estão ligados exclusivamente à forma extraordinária. Desses, mais da metade é da FSSPX. Em 20 anos serão 1/2.
Antes Mons. Lefebvre era persona non grata e seu seminário era hostilizado. Hoje a FSSPX é o futuro e a esperança de salvação da França em muitos aspectos. Com mais de 500 padres a FSSPX torna-se uma força missionária num mundo de vocações decrescentes. Sem contar que as famílias tradicionais têm mais filhos por casal (em média 4).
Eles nos engolirão
Os bispos da FSSPX rogam ao Mons Fellay que não assine, pois declarará a morte da obra de Dom Lefebvre. Como Dom Fellay deixou claro a questão não é nem nunca foi a Fraternidade, mas a Igreja.
A FSSPX não existe para servir à FSSPX, mas para servir à Igreja.
E se os bispos da FSSPX não conseguem confiar na formação que deram aos seus padres, achando-os tão fáceis de corromper, que péssima obra fizeram com a herança de Dom Lefebvre!
O copo sempre meio vazio
Mas Roma é modernista, os encontros de Assis vão continuar, o ecumenismo, a nova missa. Nada irá mudar com a FSSPX dentro, por isso não podemos assinar um acordo prático, dizem eles.
Sim. Muita coisa irá continuar por muito tempo ainda, mas é preciso admitir que muita coisa mudou. Ver o copo sempre meio vazio é cair em desespero. Ou será que houve um tempo em que a Igreja esteve completamente livre de problemas doutrinais?
Aqui cabe uma comparação. A Fraternidade deve retornar à Roma quando esta deixar de ser modernista, herege, subjetivista, etc. Essa é a opinião dos três bispos e de uma boa parte da fraternidade e de algumas comunidades
Os três bispos querem enterrar o talento num buraco, querem esconder a lanterna embaixo da cama. São como o sacerdote e o levita que passam longe do pobre judeu saqueado, que ia de Jerusalém a Jericó. Olham, veem sua situação temerária e continuam seu caminho. Essa é a obra de Dom Lefebvre?
Numa entrevista (ao canal canadense Salt n Light) Mons Fellay fala que o trabalho da Fraternidade é ser justamente o bom samaritano!
Esperança x covardia
O que estamos assistindo é um festival de desespero da parte daqueles que se acostumaram e preferem a situação irregular. Eles gritarão como demônios num exorcismo, se contorcendo e bravejando contra o superior geral. Eles não querem deixar o corpo, mas não podem habitá-lo mais.
O bispo Williamson já deu provas mais que suficientes que não obedece ninguém a não ser a si próprio. Proibido por escrito pelo Superior Geral de manter qualquer tipo de correspondência, ameaçado de expulsão inclusive, Mons Williamson continua produzindo seus comentários Eleison e enviando-os aos sedevacantistas, privacionistas, detratores papais, etc. como alimento para suas inclinações perversas.
Aqueles contrários ao acordo - sem ainda conhecerem os termos do mesmo - preferem a segurança da marginalidade. Não percebem o perigo em que estão expondo as suas almas, perigo este muito maior do que os monges de Dom Gerard, os padres de Campos ou os "desertores" do IBP estão expostos. O perigo do cisma, da mentalidade sectária e do orgulho ser transformado em seu ethos.
Muitos sedevacantistas são covardes, alguns são apenas tolos. Não admitem que são sedevacantistas, mas concordam com essa esdruxula teoria, ridicularizam o Papa, afirmam que os padres fiéis dentro da Igreja são embusteiros e traidores, etc. Perderam completamente o foco da Tradição. Entre Tradição e Traição há apenas um pequeno 'd' que faz toda a diferença.
Um dica de Tolkien
Acho o vídeo abaixo muito característico da situação que vivemos. Ilustra a última batalha em frente à principal cidade do mundo dos homens (Gondor), cercada de inimigos e a beira da destruição.
Para socorrer Gondor, caminham os cavaleiros de Rohan, mas estes só foram convencidos após muita argumentação. "Por que deveremos socorrer aqueles que nunca vieram ao nosso socorro?" perguntou Théoden, rei de Rohan. Os soldados de Rohan caminham como um reforço necessário aos cambaleantes soldados de Gondor, mas caminham com medo em seu coração, pois estão em guerra!
A obra de Tolkien tem um profundo apelo cristão. De fato ela ilustra aquela honra, aquela coragem de santidade presente na alma de cada um de nós.
Acostumar-se ao medo é a mais autêntica covardia. Superá-lo, isto sim é um verdadeiro sinal de coragem!
Fico me perguntando se a FSSPX terá a coragem necessária e a honra suficiente para socorrer "a cidade em chamas".