"Eles estão tão presos num modelo de sacerdócio do passado" |
(The Tablet | Tradução Blogonicus) - A coragem do Papa Francisco está causando inquietação entre aqueles com "um catolicismo muito conformista e fechado" alertou o arcebispo de Dublim.
Num discurso proferido em Melbourne, o arcebispo Diarmuid Martin fez referência a um jovem padre que recente contou ao seu pároco que não estava tão feliz com algumas das coisas que o Papa dizia.
O jovem sacerdote sentia que [as palavras do Papa] "não estão alinhadas com o que aprendemos no seminário" e ele sugeriu que elas estavam "deixando os fiéis inseguros e até mesmo encorajando aqueles que não professavam as crenças católicas ortodoxas a desafiarem o ensinamento tradicional".
O arcebispo alertou os católicos progressistas e conservadores contra o encerrar-se sobre suas próprias ideias. Ele também reconheceu que o catolicismo irlandês tinha uma forte tradição de ensino estrito.
Respondendo aos comentários, Pe. Seamus Ahearne da Associação de Padres Católicos, afirmou que as palavras do arcebispo eram "adequadas" e o que a Igreja na Irlanda precisa ouvir mais comentários como estes.
Ele afirmou que a preocupação do arcebispo com o 'jovem padre' era bem familiar já que muitos estão preocupados com alguns jovens padres que na Igreja irlandesa aparentam abraçar uma visão muito tradicionalista da Igreja.
Eles estão "tão presos num modelo de sacerdócio do passado", comentou e disse que isso se manifesta na "forma como eles se vestem, na forma como celebram a missa e na forma como se posicionam".
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Nossos comentários...
A Associação de Padres Católicos é um grupo que até bem pouco tempo atrás se colocava como crítico e desconfiado de Bento XVI e João Paulo II, por exemplo, mas agora se converteu na guarda pretoriana do Papa Francisco. Isso vem acontecendo em todo o mundo, com grupos que sempre estavam não só à margem da ortodoxia, mas divergiam de tudo o que a Igreja dizia. Coincidência? Ou talvez eles vejam em Francisco alguém capaz de responder aos seus mais profundos anseios por mais mudanças, mais "aggiornamento"? Vai saber...
Nós estamos assistindo, novamente, a uma grande mudança de valores - o certo agora é errado. É motivo de escândalo "a forma como eles se vestem, a forma como celebram a missa e a forma como se posicionam"!
O jovem padre se questiona: Por que o que me ensinaram no seminário parece ser tão diferente do que sai da boca do Papa? Um questionamento certamente legítimo nesses tempos de incertezas e de magistério oficioso das entrevistas e telefonemas, e só por essa dúvida cruel temos a certeza da perplexidade deste jovem padre e do nível de formação que recebeu. Certamente não frequentou um seminário progressista, porque se tivesse passado por uma casa de formação moderna não iria ligar muito para o que o Papa fala.
O jovem sacerdote está confuso e preocupado com os fiéis e com a Igreja e aí vemos que é realmente um padre de linha mais tradicional. E que resposta recebe? Ora! O culpado é o próprio padre, certamente afetado com alguma doença mental que o impede de ver o quão maravilhoso é este pontificado! Já o acusam, embora sem empregar o termo, do maior pecado e da maior heresia que a Igreja já viu: cripto-lefebvrianismo. Ário e Lutero não fizeram mal algum, mas Mons Lefebvre... misericórdia!
Aqui é importante a gente ter em conta que todos os papas são criticados, mas o que importa é o teor da crítica. A divisão em direita e esquerda, embora não seja apropriada num ambiente eclesial, nos ajuda a entender. João Paulo II e Bento XVI (só para considerar os mais recentes) eram criticados por serem conservadores demais, por pregarem o que estava no catecismo ou na doutrina social da Igreja, exigindo fidelidade à liturgia (Bento XVI mais do que JPII). Os críticos desses papas eram também os críticos da doutrina e da ortodoxia da Igreja Católica, em suma os revolucionários.
Com Francisco acontece o inverso. Os críticos desse papa são aqueles que por anos lutaram para defender a ortodoxia nos níveis mais fundamentais da comunidade de fé, seja nas paróquias, nos grupos de oração e estudo, etc. Eram desprezados pelo clero revolucionário, pelos bispos progressistas, espezinhados pelos teólogos da PUC, etc. Não se trata, portanto, de um revesamento da crítica, uma lei do pêndulo que diz que agora quem critica é a direita ou a esquerda. É nessa análise que falham os conservadores que tentam, pobres coitados!, defender ações do Papa que são objetivamente contrárias "aquilo que aprendemos no seminário".
O ambiente no qual Francisco circula com mais desenvoltura é o mesmo ambiente que era hostil à Bento XVI e JPII.
Eu confesso que tenho dó do trabalho que os bispos conservadores mais eminentes estão tendo para defender Francisco. Recentemente o arcebispo da Filadélfia, Charles Chaput, numa palestra proferida no Napa Institute na Califórnia chegou a afirmar, numa constatação óbvia para nós, que "nem todo mundo está feliz com o Papa Francisco"! E ele disse a frase não num contexto de "quem não tá feliz com Francisco é ruim da cabeça ou doente do pé", como sugerem os progressistas, mas ponderando e tentando argumentar que Francisco é o Papa que precisamos hoje.
Se por um lado alguns bispos (coitados!) buscam defender o Papa, outros já preparam as fogueiras para a caça as bruxas que se avizinha, como é o caso do arcebispo irlandês. E Francisco dá sinais claríssimos que não gosta de conservadores, muito menos de tradicionalistas ou, como ele chama, de "restauracionistas". Todos os bispos removidos ou visitados por ordem de Francisco são ou podem ser enquadrados como conservadores, a única ordem religiosa no mundo que foi severamente interferida é uma ordem conservadora, em várias entrevistas oficiais ou oficiosas ele já deixou claro que não entende os padres e fieis que desejam a missa tradicional ou que fazem buquês espirituais, ou que se vestem dessa ou daquela forma, etc. São os mesmos preconceitos repetidos pelo padre da Associação de Padres Católicos da Irlanda. Coincidência? Paranoia?
Estamos realmente vivendo um período de aquecimento para uma caçada. Quem vai soar as trombetas? A morte de Bento XVI, é claro. Acredito - e aqui é pura especulação minha, fique avisado - que o Motu Proprio Summorum Pontificum só não foi revogado ou anulado porque Ratzinger ainda vive. A partir do momento que o Santo Padre Bento XVI for ao encontro do Senhor, as porteiras se abrem e os cães furiosos são soltos. Rezemos então pela saúde do Papa... emérito!