Abades austríacos altamente influentes disseram nesta semana que os boatos de um cisma na Igreja austríaca não poderão ser apaziguados, e o atual conflito também não poderá ser resolvido, por meio de um encontro entre o arcebispo de Viena, o cardeal Christoph Schönborn, e os representantes dos padres dissidentes.
Fonte: Unisinos
A Igreja tem estado em crise desde que mais de 300 sacerdotes liderados pelo Mons. Helmut Schüller (foto) convocaram para a desobediência em questões como o celibato sacerdotal e a Comunhão para divorciados de segunda união. Depois de ter dito aos membros da Iniciativa dos Párocos Austríacos, no dia 10 de agosto, que ele não poderia permitir que o seu apelo ficasse como estava e que eles deveriam voltar atrás ou deixar a Igreja, o cardeal Schönborn deu um tempo para que os sacerdotes "refletam" antes de uma segunda reunião, a portas fechadas, prevista para o dia 10 de setembro.
Mas os abades e os prepósitos austríacos disseram que as posições estão agora tão endurecidas que uma segunda rodada de conversações possivelmente não poderá resolver os problemas. Existem cerca de 40 abades e prepósitos na Áustria, e a metade de todas as paróquias têm padres de ordens religiosas como párocos.
O persidente da Conferência dos Superiores Religiosos da Áustria, o abade Maximilian Fürnsinn, da Abadia de Herzogenburg, disse que um encontro da cúpula da Igreja é necessário, já que certas reformas defendidas pela Iniciativa dos Párocos, como a permissão de que homens mais velhos e casados celebrem missa, podem ser aceitas e são, pelo menos, dignas de discussão. O abade Martin Felhofer, da Abadia de Schlagl, disse: "Isso já não pode mais ser resolvido pelo cardeal [Schönborn] sozinho. Todos – bispos, abades, religiosos e representantes da Iniciativa dos Párocos Austríacos – devem se sentar e discutir os problemas juntos".
Enquanto o cardeal Schönborn estava em Madri para a Jornada Mundial da Juventude – onde aparentemente seus colegas bispos lhe questionaram repetidamente sobre a Iniciativa dos Párocos – e posteriormente em Roma para o encontro Schülerkreis deste ano, a iniciativa continuou atraindo manchetes quase diariamente na mídia austríaca.
Quatro padres deixaram a Iniciativa, mas 86 se juntaram à causa, de modo que agora ela soma 400 padres – aproximadamente um em cada 10 – e 12 mil apoiadores ativos. Em suas muitas entrevistas à imprensa nas últimas três semanas, Mons. Schüller confirmou ter recebido apoio de todo o mundo, em particular do Brasil, dos EUA, da Irlanda, da França, da Alemanha, da Itália e do México.
As reações internacionais mostraram que o Vaticano estava "obviamente" diante de problemas em todo o mundo e que "as nossas preocupações certamente não são questões à la Mickey Mouse", disse Mons. Schüller no dia 25 de agosto. Ele admitiu que a Iniciativa também havia sido alvo de diversas críticas muito duras. "Alguns querem nos expulsar da Igreja Católica completamente e chegaram até mesmo a nos amaldiçoar. Eles nos chamam de cismáticos e rebeldes que estão destruindo a Igreja", disse ele à revista semanal News. O cardeal Schönborn retornou a Viena no dia 29 de agosto, e fontes próximas a ele dizem que ele está extremamente preocupado. Há rumores de que ele tem poucas alternativas a não ser suspender os líderes rebeldes, mas há temores de que isso possa levar a um cisma, já que a última pesquisa (do Instituto Oekonsult, encomendada pela Austrian Press Agency) aponta que 76,5% dos austríacos apoiam a Iniciativa.
Dom Egon Kapellari, bispo de Graz, número dois da Conferência dos Bispos da Áustria, disse à revista Profil, na ausência do cardeal Schönborn, que questões como o celibato sacerdotal obrigatório ou a ordenação feminina, que a Iniciativa dos Párocos gostaria de discutir, eram "tarefas que se apresentam diante de nós e que temos que controlar no longo prazo, mas que não podem ser adequadamente respondidas no curto prazo".
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Cardeal Schönborn Só um milagre salva o episcopado do protegido de Bento XVI |
Um desastre e mais um escândalo na administração Schönborn. De fato, hoje é possível ter a nítida dimensão do estrago que nomeá-lo bispo e, principalmente, cria-lo cardeal produziu na Igreja da Áustria. E pensar que ele também foi considerado um forte papabile no conclave de 2005.
O estrago é tão grande que alcançou dimensões internacionais e obrigará, evidentemente, o Vaticano a interferir.
A Igreja na Áustria tem um histórico não muito agradável de desobediência. Nos últimos 100 anos ela vem sendo celeiro de teólogos progressistas que, quase sempre, gozavam da proteção do episcopado ou de altas autoridades eclesiásticas.
Mas voltando a revolta dos padres, é claro que se não for resolvida agora, poderá espalhar-se por toda a Áustria e alem. O Vaticano precisará ser menos diplomático e mais incisivo na sua ação e, sem dúvida, não deverá permitir que Schonborn seja parte de uma equipe de conversa.
O tempo de tolerância com o desastroso cardeal é chegado ao fim. Certamente há, no Vaticano, um dicastério sem grande importância e onde a presença do cardeal se faz adequada e incapaz de causar mais danos a Igreja.