quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mais um bispo-presidente?

A história nos ensinou, com Fernando Lugo, que realmente os bispos não devem ocupar cargos públicos, não devem confundir Igreja e política partidária. Entretanto, como todo progressista é, por natureza, um alienado da realidade, vivendo num mundo paralelo e descolado do traçado histórico, os erros não o ensinam, mas até justificam suas ações.

Comentários e destaques meus. A reportagem é de Paul Jeffrey, publicada no sítio Catholic News Service, 11-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto (Golias Unisinos)

***

Dom Luis Santos Villeda, de Santa Rosa de Copan, vai celebrar seu 75º aniversário em novembro e planeja submeter imediatamente a sua renúncia ao Vaticano, como exigido pelo direito canônico. Uma vez que sua renúncia seja aceita e ele estiver liberado das responsabilidades de bispo, Dom Santos afirma que irá concorrer para presidente como candidato de uma facção progressista do Partido Liberal, cujo último presidente, Manuel Zelaya, foi deposto em um golpe [não houve golpe! É claro que, para todo esquerdopata, qualquer possibilidade de restringir suas pretensões políticas é vista como "golpismo"] de 2009.

"Eu não aspiro a ser presidente de Honduras. Não é essa a minha ideia", disse Dom Santos ao Catholic News Service.

Ele disse que foi convidado pela primeira vez pelos líderes do Partido Liberal para se candidatar nos anos 1990 e novamente em 2009, mas nas duas vezes ele recusou.

"Mas agora que eu estou me aposentando como bispo, espero falar com o papa e obter a sua permissão. Eu já não seria mais bispo nem teria qualquer ofício eclesial, mas continuaria sendo sacerdote. Eu poderia celebrar a missa de forma privada na manhã, antes de ir ao gabinete presidencial às 8h [simples assim, quase corriqueiro, equiparando a missa com suas funções de gabinete... entre uma canetada e outra, celebra-se a missa, como se não fosse nada de mais]", disse Santos.

Dom Santos tem sido um antigo apoiador público do Partido Liberal, cuja bandeira vermelha contribuiu para o seu apelido. Ele também foi um ardente adversário do golpe de 2009, posição que o colocou em desacordo com o cardeal de Tegucigalpa, Óscar Rodríguez Maradiaga, que apoiou o golpe [o cardeal apoiou o "golpe" justamente porque não havia golpe. Onde está o governo golpista agora? Quase todos os governos do mundo se apressaram para declarar golpe de estado em Honduras, desconsiderando o contexto local].

Analistas dizem que o apoio do cardeal para o golpe custou-lhe capital político. O cardeal é visto muito menos frequentemente em público nestes dias. Dom Santos, por outro lado, continua muito visível, apesar de sua remota diocese no oeste do país, que inclui algumas das comunidades mais pobres da América Central. Ele tem sido um entusiasta apoiador da Resistência, a estreita coalizão de grupos civis que se opõem ao governo desde o golpe.

No entanto, nem todo mundo ficaria satisfeito com uma candidatura de Dom Santos.

"A decisão do bispo de se envolver na política depois de deixar o cargo como bispo prejudica, sim, a Igreja e prejudica a política" [o que é isso? Uma voz sensata em pleno século XXI? Um século ultrailuminado pelas bases comunistóides e esquerdopatas! Tão iluminado que nos deixou cegos!], disse o padre jesuíta Ismael Moreno, diretor da Rádio Progreso, uma estação estreitamente identificada com a esquerda hondurenha.

"A política aqui é histórica e intimamente ligada ao clericalismo. Assim, quando um bispo ou um padre decide participar da política partidária, isso não nos ajudar a nos movermos em direção a uma cultura política da cidadania", disse o Pe. Moreno.

"E isso iria prejudicar a Igreja, porque ele não é um bispo da unidade; ao contrário, ele tem promovido o confronto. Por isso, dividiria os católicos ainda mais do que agora, e não em nome da luta pelos pobres, mas sim em nome da política partidária. Isso prejudicaria aquelas pessoas na Igreja que estão lutando para servir a comunidade sem estarem interessado em alcançar cotas de poder [o verdadeiro poder é o serviço]. Faria com que muitos de nós pareçamos que estamos participando de movimentos sociais porque estamos interessados no poder pessoal", disse o Pe. Moreno.

Thelma Mejía, jornalista independente e analista político de Tegucigalpa, vê poucas chances sobre a possibilidade de Santos ser eleito presidente.

"Embora ele tenha apoio dentro de uma facção do Partido Liberal, ele não é muito elegível dada a sua natureza polêmica e a sua permanente postura de confronto. Os hondurenhos, em geral, não gostam do confronto frontal, e, desde o golpe, estamos ainda mais cansados do confronto", disse ela.

Mejía disse que a as pesquisas mostram que mais de 50% dos hondurenhos se identificam como centristas, independentes dos partidos Liberal e Nacional, que têm dominado a política do país há um século.

"Precisamos de um líder político que apele a esse centro, a fim de realizar a mudança que é necessária. E ainda não apareceu ninguém da Resistência, nem da tradição bipartidária, que possa fazer isso", afirmou.

Dom Santos rejeita a noção de que os líderes da Igreja devem permanecer fora da política partidária.

"É muito conveniente para os ricos que a Igreja permaneça fora da política, porque, dessa forma, eles podem maltratar e roubar dos pobres sem que a Igreja proteste. Eles ficam felizes porque nenhum padre vai reclamar. E, se o fizer, eles o rotulam como comunista", disse Dom Santos.

"Por que eu me envolvo na política? Porque foi a política que oprimiu o pobre", disse o bispo.

Ele disse que muitos bispos católicos de Honduras ficaram quietos sobre assuntos políticos porque são estrangeiros.

"Se eles intervierem na política interna de Honduras, eles poderiam perder a sua residência, por isso, no fim das contas, eles ficam quietos. Mas é a política que torna as pessoas pobres, que deixa a clínicas e hospitais sem medicamentos, que rouba o dinheiro dos vilarejos. É a política que suporta a corrupção desenfreada de Honduras [então cabe ao bispo, por coerência, lutar pelo fim da política, não é mesmo?]. Como bispo, eu não posso me desinteressar pela saúde e pela educação das crianças, os últimos dos meus irmãos e irmãs", disse Dom Santos.

"Este é um país rico, com terras produtivas. Mas há muita injustiça" [vamos construir um outro mundo possível!], desabafou.

Ele citou o exemplo da mineração de ouro em sua diocese: segundo Dom Santos, empresas estrangeiras levam embora o ouro de Honduras em helicópteros, sem passar pela alfândega.

"Eles não pagam impostos sobre ele, apenas uma pequena quantidade para as prefeituras. Nós, hondurenhos, não sabemos quanto as empresas levam embora ou quanto isso vale. Por que não sabemos disso?"

Dom Santos disse que não tem interesse em modelar a sua possível presidência de acordo com a de Fernando Lugo, o bispo paraguaio que virou presidente, "porque ele abriu mão de tudo. Ele deixou o ministério para trás e foi eleito como leigo. Eu vou continuar sendo sacerdote, mas sem qualquer posição dentro da Igreja".

Se não for eleito presidente, disse Dom Santos, ele planeja trabalhar com os agricultores indígenas Lenca para expandir as oportunidades de educação e desenvolver um melhor comércio para a sua produção agrícola.

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