sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Primado de Pedro na visão protestante moderna

Bento XVI em visita aos Luteranos alemães. Pelo menos eles possuem um altar
Versus Deum.

Teólogo protestante deseja que papa lidere os cristãos

O teólogo protestante Reinhard Frieling defende que o papa Bento XVI seja nomeado líder honorário de todos os cristãos. A proposta surge poucas semanas antes da visita do líder católico a Alemanha.
"O sonho da comunhão de todos os cristãos pode se tornar realidade se os protestantes oferecerem ao papa o papel de chefe honorário da cristandade", disse o ex-líder do Institute Kundlichen, de Bensheim.

Para o professor emérito da Universidade de Marburg, o papa poderia “falar em nome da cristandade em situações extraordinárias”. Ele argumentou que uma liderança comum daria crédito ao cristianismo como mensagem.

Se a proposta se viabilizar, o aniversário da Reforma em 2017, com seus 500 anos, poderá ser a ocasião certa para concretizar a visão, baseada em sua opinião do papa já ser "porta-voz para todos os cristãos."

O teólogo protestante sugere que as igrejas da Reforma abandonem sua "auto-suficiência" e assumam as "corajosas consequências ecumênicas".

Essa proposta lembra a que foi feita pelo bispo Johannes Friedrich, da Igreja Luterana da Baviera, há dez anos. Friedrich argumentava que o papa poderia ser aceito como porta-voz do cristianismo mundial como serviço ecumênico de unidade..

A visita do papa a Alemanha está prevista para os dias 22 a 25 de setembro, e inclui as cidades de Freiburg e Berlim, com um discurso diante do Bundestag (Parlamento) alemão, e uma reunião com representantes da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) no mosteiro agostiniano em Erfurt.

AAgência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 23-08-2011.

***

Bom, a notícia parece, num primeiro olhar, algo positivo, um passo importante rumo ao "Ctrl+Z" da reforma protestante. Reconhecer o Papa como representante autêntico da cristandade global é algo importante e certamente querido por qualquer católico. O fim do cisma protestante e da heresia, como consequência, é desejo de todos os católicos verdadeiramente católicos.
Mas a visão sobre o papado de católicos e protestantes guarda uma substancial diferença que só pode ser percebida quando lemos as sentenças principais da notícia acima:

"O teólogo protestante Reinhard Frieling defende que o papa Bento XVI seja nomeado líder honorário de todos os cristãos."
" o papa poderia “falar em nome da cristandade em situações extraordinárias”"

O Papa não goza apenas de uma posição honorífica, mas goza de uma primazia de fato, jurisdicional e canônica que permite ao bispo da diocese de Roma criar bispos em todo o orbe, bem como removê-los quando necessário, por exemplo. O Papa é cabeça visível da Igreja e não uma cabeça "honorária", por isso mesmo ele fala sempre em nome da cristandade em situações ordinárias.

A proposta protestante esboçada acima não é compatível com a doutrina católica, especialmente aquela explicitada pelo Vaticano I e, pasmem, até pelo Vaticano II (através da bendita 'nota previa'). Embora quem me lê possa nutrir "sinceras reservas" sobre o Vaticano II, precisamos ser honestos e pelo menos admitir que o texto (da nota prévia) está lá, embora ninguém o leve em consideração...
Voltando...

O que os protestantes querem, embora tenha cá comigo que essa não é a opinião DOS protestantes, mas apenas de algum pequeno círculo luterano, é esvaziar o papado da sua autoridade, substituindo por uma liderança sem sentido. É mais ou menos o caso dos reis nórdicos de hoje que, mesmo sendo chefes de Estado, gozam de nenhum poder prático.

A primado de honra dos luteranos, com suas situações extraordinárias não é o Papado católico e é tão ruim quanto a negação do próprio papado. Não nos iludamos! O ecumenismo com protestantes está morto e até mesmo o Vaticano tem isso bem claro. O foco é o oriente, onde há ainda uma chance de esperança para a unidade num futuro ainda incerto.

Algumas pessoas, talvez até bem intencionadas, tentam reascender essa chama de diálogo com os protestantes, mas a brasa já não aquece, restam apenas cinzas. Aos protestantes só resta o caminho da conversão individual. E rezemos para que ela aconteça!

Um comentário:

Anônimo disse...

Caríssimo Danilo, a paz!

Creio que tuas observações são muito sensatas. Concordo que esta iniciativa protestante só iria dissolver a autoridade papal numa espécie de ONU cristã.

No entanto, discordo que o ecumenismo esteja realmente morto. O retorno dos anglicanos é um claro exemplo disso. Estou falando do verdadeiro ecumenismo, diga-se de passagem, não do sincretismo do CONIC. Talvez ainda haja esperança. É no que acredito...

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