(John Thavis) Enquanto o Papa Francisco presidia uma reunião com as lideranças da Cúria Romana, seu novo Secretário de Estado estava sendo notícia do outro lado do Atlântico.
O Arcebispo Piero Parolin, numa entrevista ao jornal venezuelano "El Universal", afirmou entre outras coisas que a tradição eclesial do celibato sacerdotal não era um dogma e esta, portando, aberta à discussão. E ele que embora a Igreja não seja uma democracia, ela precisa refletir o espírito democrático dos tempos e adotar uma forma colegiada de governo.
A declaração não é exatamente uma novidade, mas o fato do novo secretário de estado se sentir livre para fazê-la nos diz muito sobre a atual atmosfera no Vaticano. Parolin afirmou que o celibato sacerdotal, que é a norma para a Igreja ocidental, é uma tradição que remonta ao cristianismo primitivo e foi fortalecido ao longo dos séculos.
"O esforço empregado pela igreja para instituir o celibato eclesial deve ser levado em consideração. Alguém não pode simplesmente dizer que isso pertence ao passado", afirmou o secretário.
A questão, ele continua, representa "um grande desafio para o Papa", por que o ministério do papa é o da unidade e qualquer decisão sobre o celibato devera ser feita sem prejudicar a comunhão da Igreja.
Ele acrescentou que " é possível discutir e refletir sobre esses tópicos que não são definições de fé e considerar algumas modificações, mas sempre a serviço da unidade e de acordo com a vontade de Deus". Também é preciso se atentar para os sinais dos tempos, ele disse.
A questão do celibato sacerdotal tem sido um pára-raios no Vaticano. Em 2006 o cardeal brasileiro Claudio Hummes fez uma declaração semelhante, afirmando que embora o celibato fizesse "parte da história e da cultura católica, a igreja poderia rever essa questão, porque o celibato não é um dogma, mas uma medida disciplinar".
O cardeal Hummes fez este comentário numa entrevista no Brasil pouco antes de assumir o seu posto como prefeito da Congregação para o Clero. Em poucas horas da sua chegada em Roma, ele foi pressionado a publicar uma declaração dizendo que o celibato sacerdotal é um valor antigo na Igreja e não estava na mesa para ser discutido.
Arcebispo Parolin, que está terminando seu tempo como núncio na Venezuela antes de assumir sua nova posição no meio de outubro, disse que é uma coisa boa para a Igreja implementar "um espírito mais democrático, no sentido de ouvir atentamente, e eu penso que o Papa vem indicando isso como um objetivo do seu pontificado, uma liderança eclesial de forma colegiada na qual todos os desejos podem ser expressados".
Em Roma, enquanto isso, o Vaticano tem pouco a dizer sobre a reunião de três horas entre o Papa Francisco e os 30 chefes dos departamentos da cúria. O Papa abriu o encontro com palavras de acolhida, mas então se sentou e ouviu mais do que falou, afirmou uma fonte.
Foi a primeira vez que Francisco presidiu uma reunião entre as lideranças dos departamentos vaticanos, mas uma declaração emitida pelo porta-voz Pe. Frederico Lombardi afirmou que o Papa se encontrou pessoalmente com cada um dos oficiais de primeiro escalão da Cúria Romana.
Pe. Lombardi também enfatizou que as sugestões ou reflexões da reunião farão parte das discussões entre o Papa e o grupo de oito cardeais que se encontrará no começo de outubro para considerar reformas da Cúria e assuntos da governança da Igreja. O ponto parece destacar que a Cúria Romana será ouvida durante este processo de reforma e que o grupo dos 8 não irá trabalhar numa linha completamente separada.