terça-feira, 24 de setembro de 2013

Senhora Cardeal



(Giacomo Galeazzi | Tradução Blogonicus) A proposta de criação de cardeais mulheres - relançado pelo jornal espanhol El País como uma possibilidade que estaria sendo pensada pelo Papa Francesco - não é nova: foi levantada pela primeira vez em um sínodo, o de 1987, mas não foi incorporada nos documentos finais.

No entanto, esta hipótese - numa linha inteiramente teórica - não estaria em contraste com o "não" às mulheres sacerdotes que o Papa João Paulo II declarou definitivamente (aprovação de um documento de 1995, assinado pelo então prefeito da Congregação da Fé, Joseph Ratzinger) e ao qual Bergoglio já disse que pretende seguir:  a porta está fechada, ele disse aos jornalistas na viagem de volta do Rio de Janeiro.

Na verdade - embora nos últimos séculos não tenham sido criados - os leigos também têm acesso ao cardinalato, recebendo a ordenação diaconal logo após a "o recebimento do barrete". E havia mulheres diáconos na igreja primitiva, apesar de seu serviço, de acordo com historiadores do cristianismo mais sérios, não era litúrgico, mas simplesmente de caridade aos pobres.

Em 1997, dez anos após o Sínodo onde se abordou a questão, o cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo de Milão, queria reviver a ideia de re-estabelecer as diaconisas apontando que o "não" de João Paulo II estava relacionado apenas ao sacerdócio. De acordo com o mesmo princípio, na verdade, seria possível mulheres cardeais, mesmo se a hipótese parece um tanto remota.

Sua Eminência Reverendíssima Dona Francesca Chaouqui?
Os cardeais são na verdade os eleitores do Papa como "donos" de diaconias, sacerdotes da diocese de Roma ou com o título de uma das pequenas dioceses suburbicárias e a inclusão de mulheres modificaria seriamente essa tradição. Mas o Papa é o legislador supremo da Igreja Universal e absolutamente livre para decidir sobre todos os assuntos canônicos.

Sem ir tão longe, João XXIII e Paulo VI já inovaram parcialmente a prática de competência exclusiva (mas apenas teórica) do clero romano (que é do rito latino) na eleição de seu bispo, inserindo no Colégio dos Cardeais alguns patriarcas e arcebispos maiores dos ritos orientais que, certamente, não podem ser considerados como "clero romano".

João Paulo II e o Papa Ratzinger na verdade confirmaram esta novidade ampliando o número de cardeais do rito oriental. Outras considerações incluem o fato de que a Comunhão Anglicana, que difere da doutrina católica em apenas alguns pontos, já tem pastoras e está debatendo com grande paixão (até o risco de um cisma) sobre as mulheres bispos. De acordo com o arcebispo emérito de Bruxelas, cardeal Godfried Dannels, considerado um grande eleitor de Bergoglio, para obter a ordenação de mulheres, no entanto, "é preciso converter primeiros os bispos e padres."

O argumento clássico contra a ordenação de mulheres é que Jesus, ao instituir a Eucaristia, não previu a sua presença na Última Ceia, quando disse: "fazei isto em memória de mim." Na mesma linha, no entanto, a favor de cardeais mulheres talvez pudesse ser argumentado que, na época de Pentecostes, quando o Espírito Santo que é prometido por Jesus desceu sobre a Igreja nascente, a Virgem Maria estava com os Apóstolos e na Igreja lhe é concedida - como recordou recentemente pelo Papa Francesco - a maior honra, o seu nome precede o de qualquer santo.

***

O pontificado informal de Francisco, desapegado de qualquer fixação por normas, parece conduzir os progressistas ao êxtase. Como bêbados que retornam trançando as pernas para casa, os progressistas de plantão escorregam nas especulações.

A misteriosa nomeação da "bella" Francesca Chaouqui como integrante do grupo que ajudará o Papa a reformar a Cúria criou um ambiente propício para o aparecimento de teorias absurdas, além de fungos e bactérias na cabeça dos jornalistas.

O texto acima, sobretudo no seu último parágrafo, parece confundir intencionalmente o sacramento da ordem com o título de honra do cardinalato. Repito, é intencional, pois o autor, um célebre vaticanista, certamente sabe diferenciar muito bem uma coisa da outra.

Como a ordenação feminina é uma carta fora do baralho, é preciso trabalhar pela "conversão" do clero, ou seja, é preciso apresentar novidades que possam ser assimiladas lentamente, criando um "costume" confortável dentro da Igreja. Essa é a estratégia adotada, por exemplo, com os diáconos permanentes - buscou-se, num esforço de arqueologismo eclesial, uma prática que não estava originalmente dentro da Igreja latina ou que foi abandonada por um motivo qualquer, inserindo-a no contexto moderno para, na verdade, minar uma tradição ou disciplina verdadeira que é o celibato. Outro costume criado, usando desse mesmo arqueologismo impreciso, foi a nefasta comunhão na mão, tida pelos astutos teólogos progressistas como uma "prática apostólica" ou da igreja primitiva.

Outro detalhe que chama a atenção é a referência do jornalista aos nomes dos dois cardeais "advogados" da ordenação feminina: Martini e Daneels. O primeiro, não obstante sua inteligência, atuou como um aglutinador de ideias estapafúrdias, o segundo é o grande protetor de padres sodomitas e pedófilos que mergulhou a igreja na Bélgica na maior crise da sua história. E Daneels ainda foi "um grande eleitor de Bergoglio"! Li em algum lugar - que não me recordo - que Lehmann, da Alemanha, também foi outro grande eleitor de Bergoglio. Está bem o Papa Francisco!

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