(InfoCatólica | Tradução Blogonicus*) - A carta escrita pelo papa Francisco ao Arcebispo Agostino Marchetto, por ocasião da publicação de um livro sobre o primado papal, causou uma comoção em setores da igreja da Itália, porque consiste em apoiar a tese do prelado italiano, conhecido como um dos maiores expoentes da teoria da hermenêutica da continuidade do Concílio Vaticano II, em oposição àqueles que o interpretam em chave de novidade e ruptura. O Papa assegurou ao bispo que ele é considerado como o melhor intérprete do Concílio e ainda garante que o arcebispo corrigiu erros ou imprecisões suas [de Francisco], pelo que lhe agradeceu.
O texto completo da carta do Papa ao Arcebispo Marchetto Francisco (traduzido para o espanhol por InfoCatólica da versão dada na imprensa da Itália) [e traduzido para o português por este blog, NdT]:
Caro ao Arcebispo Marchetto,
Com estas linhas eu quero mostrar a minha proximidade e participar da apresentação do livro“Primato pontificio ed episcopato. Dal primo millennio al Concilio ecumenico Vaticano II”. Eu imploro que você me sinta espiritualmente presente.
O tema do livro é uma homenagem ao amor que você tem à Igreja, um amor fiel e ao mesmo tempo poético. Lealdade e poesia não podem ser negociados: não são comprados ou vendidos, são simplesmente as virtudes enraizadas em um coração de filho que sente a Igreja como mãe, ou para ser mais preciso, e dizê-lo com "ar" da família inaciana, como "a Santa Mãe Igreja Hierárquica".
Este amor você manifesta de muitos modos, inclusive corrigindo um erro ou imprecisão da minha parte - e por isso lhe agradeço de coração -, mas sobretudo manifesta com toda a sua pureza nos estudos realizados sobre o Concílio Vaticano II.
Uma vez lhe disse, querido Mons. Marchetto, e hoje desejo repetir, que o considero o melhor intérprete do Concílio Vaticano II. Sei que é um dom de Deus, mas também sei que você o fez frutificar.
Estou agradecido por todo o bem que nos faz com seu testemunho de amor à Igreja e peço ao Senhor que o recompense abundantemente.
E peço por favor para que não se esqueça de rezar por mim. Que Jesus o abençoe e a Virgem Santa o proteja.
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O Arcebispo Marchetto foi secretário do Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes até atingir os 70 anos, quando pediu ao então Papa Bento XVI seu afastamento para se dedicar exclusivamente ao estudo da hermenêutica do Concílio Vaticano II.
É conhecido na Itália por seu um ferrenho "ratzingeriano", defendendo a hermenêutica da continuidade. Desde 2005 o arcebispo vem escrevendo sobre o Concílio. É claro que nenhum desses livros foi traduzido para o português!
Por isso mesmo a carta de Francisco - totalmente pessoal e inesperada - está sendo vista com espanto pela imprensa italiana, como um elo que o conecta ao coração do pontificado de Bento XVI, algo que acreditava-se estar morto desde março deste ano.
Penso que um sinal amarelo começou a piscar entre os maiores admiradores de Francisco até o momento - os liberais e os "mass media".
Não é segredo para ninguém que a esmagadora parcela de católicos tradicionais e até mesmo uma parte significativa dos católicos conservadores vem encontrando dificuldades em Francisco. Sobretudo nos meses de julho, setembro e outubro, quando o Papa se empenho pelo caminho desastroso das "entrevistas".
Como escreveu o blogueiro espanhol Francisco José Fernández de la Cigoña, "El Papa, como todos sus antecesores, está aprendiendo a ser Papa. Y parece que con celeridad y aprovechamiento. Bendito sea Dios".
*Li primeiro no blog La cigüeña de la torre