sábado, 4 de junho de 2011

Piero Marino está certo sobre o novo beato?

Um recente livro lançado pelo ex-cerimoniário pontifício está causando algumas dúvidas. É fato que ainda ninguém tomou nota do livro completo, mas nesse caso acho isso irrelevante.



No livro, o arcebispo Piero Marini, que foi cerimoniário do Papa João Paulo II por praticamente (quase) todo o seu pontificado, justifica as suas escolhas nada ortodoxas para a liturgia do pontífice - tudo vontade direta de João Paulo II.



Isso levanta muitas questões (mais até) sobre a suposta santidade do papa polonês. Um argumento muito usado pelos defensores da santidade e, nesse caso, inocência de Wojtyla sobre os abusos escandalosos cometidos nas suas liturgias era aquele do "cativeiro litúrgico" do Papa, ou seja, quem mandava com um poder quase absoluto era Piero Marini e ao Papa restava apenas concordar e conduzir o show. Parece que não foi bem assim, como relata Marini.



"Marini dedica muitas páginas à controvérsia que o envolveu nos últimos anos, até dizer que o avanços das liturgias papais foram desejados por Wojtyla, que, na verdade, “queria algo mais” no caminho que levava as suas celebrações litúrgicas a integrar elementos pertencentes às diferentes culturas do mundo, mas estranhas aos rígidos cânones romanos. Este, diz Marini, foi Wojtyla: um Papa que quebrou a rigidez da liturgia romana introduzindo novas culturas no espaço sagrado." (cf.O sacro show de Wojtyla. Assim o ex-mestre de cerimônias (Piero Marini) revela que era o Papa Polaco quem desejava todas aquelas novidades, de Paolo Rodari, traduzido pelo Fratres in Unum)



Fica realmente difícil de imaginar um Papa com temperamento para erguer o dedo publicamente para uma delegada da ONU ser refém de um cerimoniário enlouquecido por mais de 20 anos.



Havia uma contradição gritante entre o que JPII pedia textualmente para a liturgia (cf. Redemptionis Sacramentum e Ecclesia de Eucharistia), por exemplo, o que ele fazia na prática. E todos acreditavam ser obra exclusiva de Piero Marini.



Creio que a contradição existente entre a prática e a teoria se deve à duas mentes conflitantes que davam estrutura ao pontificado do Papa JPII e, por incrível que pareça, nenhuma delas era a mente de Wojtyla. Marini comandava o circo litúrgico enquanto Joseph Ratzinger se contorcia para dar um rumo ortodoxo ao pontificado. Isso (uma teoria minha), contudo, não isentaria o Papa JPII da responsabilidade por suas péssimas liturgias e pela grave confusão que causou à Igreja.



É claro que Marini (I) não é o morto mais morto do cemitério. Membro de uma escola litúrgica de ruptura com o passado, ele pode dizer o que lhe der na telha para tentar justificar ou dar credibilidade ao legado do seu mestre e articulador do Novus Ordo, Bugnini. Especialmente agora, com Bento XVI, onde sua obra litúrgica é amplamente criticada.



Contudo, o mais impressionante é que isso não foi levado em consideração e, pelo que sabemos, não está sendo considerado no processo de canonização do finado papa. Impressionante! Os chamados "advogados do diabo" da Congregação para a Causa dos Santos, responsáveis por ouvir o lado negativo, estão de férias. Isso tira um pouco da lisura do processo e nos dá muitas dúvidas sobre a verdadeira santidade do Papa.



E sempre vemos e lemos mais do mesmo: "Ah, mas em Assis ele não quis assim, foram os organizadores..." ou "Seus encontros eram comandados por oficiais da Cúria", "devemos analisar suas obras apenas" etc. Me desculpem, mas esse tipo de argumento não "cola", especialmente para o Vigário de Cristo.



JPII certamente foi um exemplo muito positivo em muitos aspectos, isso não se nega. Mas essas questões e outras tantas (beijos no Corão, Buda sentado no sacrário, etc... vocês já sabem!) não podem perder a sua grave importância. E, se não me engano, não existe "meio santo".

Um comentário:

Henrique disse...

Danilo,
1-É muito imprudente fazer análises de trechos não oficiais de um livro que nem lançado foi;
2- Qual o escândalo em um papa beijar o Corão? Só pessoas de fé fraca e cartorial no Evangelho não reconhecem nisso apenas um gesto (meus Deus, um simples gesto!) de respeito pelo livro sagrado de uma religião. O fortíssimo exemplo de vida de JPII mostra que ele viveu o Evangelho de maneira encarnada, viva;
3- Só um completo ignorante para achar que o papa Wojtyla era comandado intelectualmente por caixas de ressonância (Marini e Ratzinger); seus escritos eram extremamente coerentes com sua prática; assiti dezenas de celebrações deste Beato Pontífice, e posso dizer que nunca vi um "ars celebrandi" como o dele. Em suas viagens apostólicas, algumas vezes ocorriam exageros, mas qualquer pessoa que tenha trabalhado com liturgia na vida sabe que isso não tinha como ser controlado diretamente pelo papa ou mesmo por seu MC (é só ver a briga recente em Veneza, onde a organização local tanto fez que conseguiu impedir Mons Guido de fazer o papa usar uma ricamente ornada casula romana que pertenceu a Pio VII - disseram que passaria a "mensagem errada numa época de crise econômica" - ridículo). Uma coisa é o papa querer aproximar a cultura local da liturgia (nada de errado), outra é usar essa frase para justificar erros ocorridos como desejo do papa!!
4- Em Roma as liturgias sempre foram belíssimas e tão dignas quanto as do nosso amado B16;
5- Questionar a santidade de um papa que a Igreja beatificou em tempo recorde, inclusive por vontade expressa do Pontífice reinante, e que sem dúvida será canonizado em breve, é o primeiro passo para deixar de ser católico, cuidado meu amigo. Já li até padre querendo dar a entender que as canonizações depois do CVII seriam atos não infalíveis para justificar o erro que seria a canonização (que repito, virá) do beato papa. Lamentável;
6- Vc me parece ser alguém que ama a Igreja e tem particular veneração pela liturgia, e isso é muito bom!! Porém, não enverede pelo caminho da negação dos atos da Igreja que não lhe agradam (afinal, se fosse a canonização do nosso amado e grande papa Pio XII, aposto que vc não escreveria essas besteiras todas sobre a eventual não santidade dele).
Sei que vc não vai publicar esse comentário pois nunca vi gente que discorda de vc ser publicada, mas gostaria que vc refletisse sobre isso: seu amor para com a liturgia não pode afastá-lo dos atos da Igreja: negar isso é deixar de ser católico, é entrar num estado de negação igual ao da FSSPX, que acha que mantém a ortodoxia e que um dia será reconhecida com a salvadora da Igreja e que seu fundador será canonizado (esquecendo que pessoas que rompem com Roma fazem o trabalho do inimigo de Cristo, nunca o de Nosso Senhor).
Pax Christie!
Surrexit Vere, Alelluia!!!

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