domingo, 12 de fevereiro de 2012
7º Ano do Martírio de Dorothy Stang? Não senhor!
Neste domingo, dia 12 de fevereiro, celebra-se a memória de Dorothy Stang, pelos 7 anos de seu martírio. Sua luta por justiça ainda ecoa na floresta e entre os amazônidas. A presença de irmã Dorothy multiplicou-se. Sua morte irrompeu com a força da ressurreição. Sua ação, humilde e desconhecida, pequena e quase isolada, expandiu-se por todos os cantos do Brasil, conquistando corações e mentes e ganhou as dimensões do mundo.
A reportagem é do sítio da Comissão Pastoral da Terra, 10-02-2011.
O assassinato de Ir. Dorothy Stang, no dia 12 de fevereiro de 2005, na área onde se desenvolvia um projeto de desenvolvimento sustentável PDS que aliava a produção familiar com a defesa do meio ambiente, como a missionária propugnava e defendia, provocou uma gigante onda de indignação nacional e internacional. Qual uma verdadeira tsunami, esta tragédia invadiu o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Tomou conta das redações dos jornais e dos estúdios das TV’s e das rádios. E seus abalos se sentiram em todo o mundo. A pequena e desconhecida Anapu passou a ocupar um lugar de destaque na geografia mundial.
A reação do governo foi rápida. Ministros de Estado se deslocaram até Anapu (PA). Autoridades de todos os níveis se manifestaram condenando a agressão. O exército brasileiro deslocou contingentes para a região. Promessas de punição implacável dos culpados se repetiram. Medidas para regularizar a posse das terras foram anunciadas e áreas de proteção ambiental criadas.
Não demorou muito tempo e os dois pistoleiros executores do crime foram detidos. Depois foi preso o intermediário que os contratou e por fim dois fazendeiros, apontados como mandantes do crime. As investigações da polícia federal apontaram para uma ação envolvendo um consórcio de fazendeiros e madeireiros interessados na eliminação desta missionária. Os executores do assassinato, Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista e o intermediário Amayr Feijoli da Cunha, o Tato, foram julgados e condenados num processo muito rápido para a morosidade da justiça paraense. Um dos mandantes, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi condenado a 30 anos de prisão, em 2007, porém, menos de um ano depois, em segundo julgamento, foi absolvido. Julgado novamente em abril de 2010, foi condenado, após 15 horas de julgamento, a 30 anos de prisão em regime fechado. Em outubro de 2011 ganhou o direito de cumprir o restante de sua pena em regime semiaberto.
O outro acusado de ser mandante, Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, esteve preso durante um ano, mas foi solto, pouco depois, por habeas corpus emitido pelo Supremo Tribunal Federal. Julgado novamente em 2010, Regivaldo também foi condenado a 30 anos de prisão. O Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), ao rejeitar a apelação, decretou sua prisão cautelar. Um pedido de habeas corpus foi feito para que o réu pudesse permanecer em liberdade até o julgamento do último recurso contra a condenação. Este foi negado na última segunda feira, 06 de fevereiro, pelo relator do caso, desembargador convocado Adilson Vieira Macabu, que considerou não haver elementos que justificassem sua libertação.
As outras medidas governamentais não surtiram o efeito proclamado. Pior do que isso, em 2008 e 2009, o governo federal publicou as medidas provisórias 422 e 458 que acabam regularizando a grilagem de terras na Amazônia em áreas de até 1500 hectares. Com o discurso de propor um ordenamento jurídico para a ocupação da Amazônia, pavimenta-se, na realidade, o caminho para a ampliação do agronegógio, com suas monoculturas predatórias e voltadas para a exportação. Além disso, o projeto de reformulação do Código Florestal e a aberração com nome de Belo Monte, abrirão grandes feridas na Amazônia de Dorothy, de Chico Mendes e de tantos outros e outras, cujo sangue semeia e fertiliza as terras amazônicas. Em 2011, essa mesma realidade vitimou, também, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, assassinados por defender a floresta e a convivência harmônica dos povos com ela.
Passados sete anos, o que impressiona é que a presença de Dorothy, antes confinada a Anapu, multiplicou-se. A irradiação do seu sorriso contagia pessoas no mundo todo [? A única instituição que ainda se lembra da "missionária" é a CPT...]. Sua morte irrompeu com a força da ressurreição [Ooohhh!]. Sua ação, humilde e desconhecida, pequena e quase isolada, expandiu-se por todos os cantos do Brasil, conquistando corações e mentes e ganhou as dimensões do mundo.
Dom Erwin Kräutler, o bispo do Xingu, em cuja diocese Dorothy exercia seu trabalho pastoral, disse na missa do quarto aniversário de sua morte: “O sangue derramado engendrou uma luta que nunca mais parou. Sepultamos os mártires, mas o grito por uma sociedade justa e pela defesa do meio-ambiente tornou-se um brado ensurdecedor.”
Em vários lugares do Brasil, como em Belém e em Fortaleza [matematicamente, "dois" lugares podem ser considerados "vários", mas dificilmente são considerados "o mundo todo". Então acho que a memória de Dorothy Stang não é assim tão universal como querem seus postuladores de santidade e martírio], serão realizadas celebrações para lembrar os sete anos sem irmã Dorothy.
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Ok, pode parecer insensibilidade da minha parte. Mas estamos falando de um tema que possui uma definição precisa - o martírio. Lembremos que: Um mártir é uma pessoa que morre por sua fé religiosa, pelo simples fato de professar uma determinada religião ou por agir coerentemente com a religião que possui.
Onde exatamente a "Ir" Dorothy se encaixa nisso? Pelo que se lê no texto a norte-americana foi "assassinada por defender a floresta" e não a fé católica. Um mártir é alguém que morre por uma perseguição religiosa e não porque ama abraçar árvores.
Tenha bem claro que não estou fazendo uma apologia da devastação ambiental, tampouco estou desconsiderando a morte da Dorothy, que de fato foi assassinada e cuja memória merece justiça. O que me oponho veementemente é o uso descarado e distorcido da palavra "mártir" associada com uma senhora que foi assassinada por defender árvores e não a fé de Jesus Cristo!
Para os membros da CPT, como bons progressistas revolucionários que são, é preciso, para prosseguir com a desconstrução do catolicismo brasileiro, dar novos significados para palavras católicas. Assim o martírio se torna o simples assassinato de um defensor da causa revolucionária, não mais a morte violenta de alguém que persistiu até o último momento na sua fé por Jesus Cristo.
Ir Dorothy era o ícone do progressismo moderno e revolucionário: Religiosa sem hábito, com anel de tucum no dedo, missionária que não convertia ninguém, ativista social distante da doutrina social da Igreja, etc. Ir Dorothy era o arquétipo de "freira" norte-americana que o Vaticano estava tentando consertar na sua investigação conduzida pela Congregação para os Religiosos, mas que foi interrompida por um.... brasileiro recém chegado à Cúria!
Agora, por coerência, preciso dar exemplos de freiras - no sentido pleno da palavra - que realmente são mártires:
Irmã Leonella, religiosa italiana e enfermeira num hospital infantil na Somália. Assassinada com tiros a queima-roupa por muçulmanos numa onda de violência contra o Papa Bento XVI.
Irmã Denise Kahambu, assassinada no Congo por muçulmanos. Os assassinos entraram no monastério trapista alguns dias depois de terem assassinado um padre missionário.
Irmã Jeanne Yemgane assassinada no Gana por muçulmanos
Irmã Cecilia Moshi Hanna foi violentamente esfaqueada e teve sua cabeça decapitada por muçulmanos no Iraque. A irmã se preparava para dormir quando os assassinos invadiram o pequeno monastério com a intenção de matar todas as três religiosas do Sagrado Coração de Jesus; como apenas Irmã Cecília estava lá, concentraram o perverso ataque na religiosa de 71 anos cujo ministério era dedicado aos doentes.
Perceberam a diferença entre uma autêntica religiosa e mártir e uma senhora que abraça árvores que foi assassinada por motivos alheios à fé?
A morte de Dorothy foi estúpida, em todos os sentidos que esta palavra comporta. A morte das irmãs Leonella, Kahambu, Yemgane e Hanna foi um testemunho de fé e perseverança no amor de Deus!
A única coisa que podemos fazer, depois de 7 anos do assassinato político de Dorothy, é rezar
Senhor, Deus de misericórdia e Pai amoroso
Que inflamastes nos corações das vossas filhas,
as Irmãs Leonella, Kahambu, Yemgane e Hanna
um verdadeiro amor pelos pequeninos e desamparados
e despertastes nelas a coragem da missão em terras
repletas de perigos.
Enviai para a sofrida terra da Amazônia
missionárias com o mesmo coração;
Para que elas sejam semente de um novo mundo
totalmente voltado para o Vosso misericordioso coração!
Conservai também a Vossa filha, Dorothy Stang, na Vossa paz!
Tudo isso nós, indignos filhos de Maria, Vos pedimos
por Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Amém
2 comentários:
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Também estranhei quanto chamaram sua morte de martírio e fiz o mesmo questionamento. Porém, é precipitado descartá-lo tão veementemente. Não sabemos ao certo como a Ir Dorothy atuava em seu dia a dia... ao proteger "as árvores" na verdade ela também defendia o povo daquela região, oprimido pelos poderosos, e se atuava junto a esse povo levando a palavra de Deus, sim ela foi uma mártir. Li em algum lugar há muito tempo que apenas um jovem testemunhou o crime. Antes assassinas a freira, o jagunço teria perguntado se a irmã estava armada (pois já vinha sendo ameaçada e andava em lugares perigosos). Ela teria dito "A arma que tenho é esta", pondo a mão na bolsa para pegar sua Bíblia. Se isso não é martírio, também não sei o que é.
- 12 de fev. de 2012, 23:12:00
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Parabéns pelo texto Danilo, muito bom e esclarecedor.
Infelizmente nos dias de hoje o titulo de mártir e utilizado que forma tão abusiva que qualquer pessoa que morre por uma causa político-social e logo intitulada de mártir. Eu já escutei coisas abusivas do tipo: mártir da causa LGBT, mártires da ditadura e os tão exaltados mártires da Amazônia. Tais aplicações do termo acabam por ofender a memória de tantos outros que derramaram seu sangue em nome da SANTA IGERJA CATÓLICA.
Nos círculos de formação pastorais o nome da irmã Dorothy juntou-se a nomes conhecidos, como D. Oscar Romero, e quando se pergunta por pessoas que viveram suas vidas em plenitude com os Santos Evangelhos seu nome é um dos primeiros a serem citados. Quando se ousa citar nomes como: Santa Luzia, São Tarcísio, São Brás e outros, chegamos a escutar coisas do tipo: haaa... eles estão muito distantes de nossa realidade. Se ser católico, professar a fé até na hora da morte está fora de nossa realidade, então as irmãs Irmãs Leonella, Kahambu, Yemgane e Hanna estão inseridas em que contexto?
São Patrício, Rogai por nós! - 13 de fev. de 2012, 11:32:00