Circula na internet - e agora atingiu o Facebook - uma espécie de campanha sem dono e sem metas que advoga pelo uso de notebooks pelos alunos, substituindo assim os cadernos. A ideia é poupar as árvores e melhorar a vida no planeta. Viva o sustentável!
Contudo o sustentável parece carecer de raciocínio rápido. Pensem comigo. As árvores são recursos naturais renováveis, ou seja, são plantadas. Já tem algum tempo (creio que mais de 50 anos!) que não se corta árvore "selvagem" para fazer papel, sendo que hoje temos o que é conhecido por fazendas de celulose, que são grandes plantações de árvores (eucaliptos) para a produção de papel. Essa plantação consome apenas mais recursos naturais renováveis, como à água, os minerais do solo, adubo, etc.
Uma das desvantagens é que a plantação demanda espaço, mas uma vez conseguido esse espaço ele praticamente permanece estável.
Mas de onde vêm os notebooks. Bom, na cabeça dos ecologistas os notebooks são enviados de um planeta distante e os recebemos literalmente dos céus ou de alguma fada chamada HP, Sony, Apple ou Positivo.
Não! Eles não são gerados espontaneamente, tampouco surge do vácuo. Os notebooks são produtos tecnológicos e, como todo produto tecnológico, são poluidores em potencial.
Em suas composições, esses aparelhos possuem metais pesados que podem causar diversas complicações para o meio ambiente e para a saúde do ser humano, se descartados de forma inconsequente.
O mercúrio, metal que deteriora o sistema nervoso, causa perturbações motoras e sensitivas, tremores e demência, está presente em televisores de tubo, monitores e no computador. O chumbo, que compõe celulares, monitores, televisores e computadores, causa alterações genéticas, ataca o sistema nervoso, a medula óssea e os rins, além de causar câncer. O cádmio, presente nos mesmos aparelhos que o chumbo, causa câncer de pulmão e de próstata, anemia e osteoporose. O berílio é material componente de celulares e computadores e causa câncer de pulmão. “Tudo que tem bateria, placa eletrônica e fio possui algum material contaminante”, afirma a especialista em gestão ambiental do Cedir (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática), pertencente ao CCE (Centro de Computação Eletrônica) da Universidade de São Paulo (USP), Neuci Bicov, lembrando que esse tipo de material é acumulativo – quanto mais contato se tem com ele, pior para a saúde.
De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2010, a geração de lixo eletrônico cresce a uma taxa de aproximadamente 40 milhões de toneladas por ano em todo o mundo. E a maior parte desses resíduos tem condições de ser utilizada novamente ou de ser reciclada, mas o destino acaba sendo o pior possível: os aterros sanitários e lixões. “Os materiais eletrônicos, como placas de computador e monitores CRT, não soltam os contaminantes quando estão em um ambiente fechado. Mas em aterros a temperatura é mais alta e o contato com a chuva, que costuma ser bem ácida nas metrópoles, faz com que os metais pesados sejam liberados diretamente no solo”, explica a especialista do Cedir. Esse processo também pode contaminar as águas de lençóis freáticos, dependendo da região do aterro ou lixão.
Em um computador, 68% do produto é feito com ferro, enquanto 31% da composição de um notebook é plástico. No geral, 98% de um PC é reciclável. “Mas na prática esse número se reduz para cerca de 80%. A mistura de componentes plásticos e metálicos com os metais pesados torna difícil a separação” diz Neuci. Fonte eCycle
Não é preciso ser um cientista com doutorado na Alemanha para perceber que o simples caderno é bem menos perigoso para a saúde que o querido notebook.
O mundo tecnológico segue um padrão de obsolência programada, isto é, novas tecnologias surgem constante e cronometradamente para que você, pobre consumidor, seja obrigado a comprar um novo produto e descartar o antigo. Quem não se lembra das desejadas TVs de Plasma que, em menos de dois anos, foram sistematicamente substituídas pelas de LCD que, por sua vez, já estão atrás das modernosas e ultrafinas TVs de LED? Vem ai o LED 3D...
Adotar o Notebook seria um atentado contra a natureza. Imaginem os custos para o Sr. Erário! Compra de aparelhos, treinamento de professores (ou vocês acham que o notebook dará aula sozinho?), atualização de software, manutenção, etc. E no final de tudo isso, em dois ou no máximo três anos, troca-se tudo para que os alunos fiquem atualizados. E para onde iriam os notebooks descartados? Teria o governo condições de reciclar todo esse sucatão tecnológico e, simultaneamente, colocar novos equipamentos nas mãos das nossas crianças? Isso é difícil de imaginar num país de primeiro mundo; no Brasil isso é um delírio!
A indústria de celulose polui bem menos que a indústria do silício. O papel é facilmente reciclado. Isso sem contar o apelo cognitivo que as linhas do caderno exercem no estudante.
Olhem a imagem que encabeça este post! Vejam se é real e possível uma professora com essa dedicação, numa classe visivelmente lotada! Todos os alunos, adolescentes, esperando calma e pacientemente pela atenção individual da mestra em seus notebooks. Isso é irreal!
Longe de proteger o meio ambiente, campanhas como estas, desprovidas de todo sentido e apego pela realidade, favorecem única e exclusivamente os magnatas de Silicon Valley que para o meio ambiente estão se lixando!