domingo, 11 de agosto de 2013

A cortina de fumaça de Aviz e Carballo

Desde o final do pontificado de Bento XVI até estes primeiros meses do pontificado de Francisco – e não promete parar tão cedo – a Santa Sé vem sendo sacudida por escândalos envolvendo homossexuais do infame lobby gay e por problemas de gerenciamento do misterioso Instituto para Obras da Religião, popularmente conhecido como “Banco do Vaticano”.

Sobretudo nos últimos dias que antecederam a viagem do Papa ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, a mídia atacou intensamente o caso do Nunzio Scarano, preso por lavagem de dinheiro, e Mons. Battista Ricca, protegido pelo próprio papa e ligado, segundo os indícios, ao mesmo lobby gay.

Neste ínterim mui breve veio a público o ataque da Congregação para os Religiosos contra a Congregação dos Franciscanos da Imaculada, com uma surpreendente restrição do uso da missa tradicional nesta comunidade.

A intervenção da Congregação foi pensada pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz com o auxílio do secretário da mesma, arcebispo Jose Rodriguez Carballo.

Antes que eu mesmo dê a minha opinião sobre o assunto, é preciso conhecer alguns dos envolvidos.

Braz de Aviz
Fora de foco e longe do Vaticano
O Cardeal Braz de Aviz foi arcebispo de Brasília antes de ser enviado à Roma, por ordem de Bento XVI, e nomeado presidente da Congregação para os Religiosos. Foi criado cardeal no último consistório comandado pelo agora Papa emérito.
Como arcebispo da capital nacional Dom Braz de Aviz não foi, nem de longe, um prelado ratzingeriano, tampouco foi exemplo de governo pastoral. Mesmo no cenário nacional o arcebispo não tinha qualquer expressão. Portanto sua nomeação ou promoção foi uma grande surpresa.
O cardeal também nunca se mostrou um “entusiasta” da tradição, guardando dela e daqueles católicos ligados a ela uma “distância saudável”, para dizer o mínimo.



Arcebispo Carballo com Bertone. Profético?
O arcebispo espanhol Carballo era o Superior da Ordem Franciscana desde 2003, sendo o 119º Sucessor de São Francisco. Foi nomeado pelo Papa Francisco em abril deste ano por pressão da CLAR (Conferencia Latino-Americana e Caribenha de Religiosas e Religiosos), como ele próprio lhes afirmou numa audiência “vazada”.
De Carballo não se sabe muito. O que sabemos, isso sim, é do estado catastrófico dos religiosos na Espanha, sobretudo os franciscanos (e salesianos, dominicanos e jesuítas) que abandonam várias dioceses, uma após a outra. Desde 2012 já abandonaram Jerez, Lebrija, Herbon, Avilés, Artá, Alicante, Vich, Carcagente e uma presença centenária em Valencia.
Como bem notou o blogueiro espanhol Francisco José Fernández de la Cigoña:
Frei Carballo como ministro geral da Ordem não foi capaz de parar o sangramento. Mas viu sua inépcia ser recompensada com a Secretaria da Congregação para os Religiosos. Se não soube o que fazer com a Ordem Seráfica tememos que à frente de todas as ordens e congregações, masculino e feminino, da Igreja, seu fracasso será maior”.

A denúncia contra os Franciscano partiu de uma meia dúzia de frades, num universo com mais de 300 membros. Segundo eles, que o jornalista Andrea Tornielli identifica nominalmente (Frs. Antonio Santoro, Michele Iorio, Pierdamiano [Peter Damien] Fehlner, Massimiliano Zangheratti, Angelo Geiger), havia da parte do fundador da congregação e da administração central uma imposição do rito antigo a todos os sacerdotes e uma visão “tradicionalista” da Igreja e crítica ao Concílio Vaticano II.

O que pensar de tudo isso?

A Comissão Ecclesia Dei, já em 2012, aprovou a forma como os Franciscanos da Imaculada usavam o antigo missal. Ou seja, para a Roma de Bento XVI não havia qualquer problema em se usar o antigo missal como instrumento do trabalho evangelizador e expressão da espiritualidade da comunidade. O Vetus Ordo nunca foi imposto, apenas favorecido.

O que eu vejo na intervenção nos Franciscanos da Imaculada é um laboratório para desencorajar outras comunidades religiosas e uma ordem implícita aos bispos e superiores religiosos que diz que agora, sob Francisco, “podemos recomeçar a marginalização dos tradicionalistas”.

Desde o início do Pontificado de Francisco já circulava a ideia que seria a linha de trabalho a partir de agora – colocar o papa contra os católicos “de direita” e vice-versa. Isso se deu nos primeiros momentos do papa ainda não balcão de São Pedro, onde jornalistas exaltavam a suposta humildade e simplicidade do pontífice contrapondo-o ao seu imediato – e vivo - predecessor. O blog Secretum Meum Mihi vem realizando um trabalho extraordinário ao denunciar a mídia formando, ou melhor, deformando a realidade. Em menos de uma semana, em vários jornais do mundo, foi possível ler a mesma notícia através da pena de pessoas diferentes – Francisco contra a Igreja Tradicionalista ou o contrário. Sobretudo depois da  entrevista do Papa quando do retorno da JMJ. Creio que os bispos progressistas saberão muito bem usar isso a seu favor.

A intervenção nos Franciscanos, pensada sob a ótica deste breve pontificado, não faz nenhum sentido. Francisco, o Papa, quer uma Igreja pobre, para os pobres, missionária e que leva com alegria o Evangelho. Não penso em nenhuma ordem que se encaixe melhor nesse plano que os Franciscanos da Imaculada. São a perfeita combinação de missão, oração, espiritualidade, caridade, catolicidade, tradição e modernidade que a Igreja tanto precisa.

Papa com os membros da CLAR:
É um momento de Sol - para eles!
Francisco, o Papa, não tem uma experiência com o universo tradicional. Como bispo latino-americano o então Cardeal Bergoglio não conviveu com o tradicionalismo, uma vez que isso é pouco visto na Argentina e, podemos dizer, é muito difuso na América latina como um todo. Diferentemente de Ratzinger e Wojtyla, que compreendiam muito bem as críticas do universo tradicional, embora nem sempre concordando com elas, Bergoglio é um neófito.

Junte-se a isto dois bispos, Aviz e Carballo, que detestam tudo o que é tradicional. Temos uma mistura explosiva.

Não estou isentando o próprio Papa de alguma parcela de culpa por essa imposição injusta. É muito provável que exista uma grande afinidade na trinca Bergoglio-Aviz-Carballo, mais até do que possamos imaginar. Lembremo-nos do que o Papa (supostamente) disse aos membros da CLAR - "Aproveitem este momento que vivemos na Congregação para a Vida Consagrada... É um momento de sol... Aproveitem. O prefeito é bom”.

A Cortina de Fumaça

Uma cortina de fumaça é usada para confundir e distrair. A visitação dos Franciscanos serve muito bem a esse duplo propósito.
Confunde o mundo tradicional que vê a segurança jurídica do Motu Proprio Summorum Pontificum ameaçada com a abertura de um perigoso precedente.
Distrai a mídia e a opinião pública da questão do IOR e do lobby gay, voltando sua atenção ao duelo entre os “perversos” e “intolerantes” tradicionalistas contra Francisco, o Papa bom dos pobres.

Conclusão



Quando foi despachado para Roma, Braz de Aviz – o confuso – se deparou com a investigação da Santa Sé contra a LCWR, um grupelho de “religiosas” americanas feministas e obamistas.

Aqui é importante fazer um parênteses. A LCWR só recebeu uma visitação apostólica depois de ser denunciada, anos a fio, por leigos, religiosas, sacerdotes, bispos e até cardeais. Não foram seis ou sete pessoas, mas milhares; os pecados da LCWR eram (são) públicos e notórios. A elas Braz de Aviz recomendou o remédio do diálogo, adiantando um quase “quem sou eu para julgá-las?” franciscano.  Recentemente a Congregação para a Doutrina da Fé aprovou junto ao papa uma série de medidas ainda não conhecidas pelo público para a reforma do grupo, mas nenhuma delas foi colocada em prática ainda. De 13 a 17 de agosto acontecerá a reunião geral da LCWR, aparentemente sem qualquer alteração ou intervenção do Vaticano.

Em contrapartida, meia dúzia de frades rebeldes são rápida e concretamente considerados pelo mesmo Braz de Aviz que, agora, não só pode julgar como impõe uma pena antes da investigação.

A Congregação dos Franciscanos da Imaculada escolheu obedecer. É injusto? Sim! Mas é o melhor caminho. O seu sofrimento espiritual frente a este patrulhamento ideológico de Aviz-Carballo será recompensado, não tenho dúvida!

Braz de Aviz, como apontou Tornielli, é um prefeito confuso. Não se sabe ao certo o que ele faz no Vaticano; o eminentíssimo não combina com a decoração da Cúria, nem com a da Casa Santa Marta. Sua remoção é esperada para breve e tenho certeza que Aparecida poderá, como boa mãe, fazer este favor em acolhê-lo.

Mas debaixo daqueles cabelos negros como a noite, impecavelmente pintados, se esconde um cardeal que sabe muito bem o que quer e não deve, absolutamente, ser subestimado. É um inimigo nato de qualquer coisa que cheira à tradição.

É irônico e chega até ser maldoso que o Francisco, o Papa, se comporte como Inocêncio III quando viu São Francisco pela primeira vez:

Tendo reunido mais um grupo de seguidores, Francisco dirigiu-se para Roma a fim de obter do papa a autorização da primeira Regra para a fundação de sua Ordem, a chamada Regra primitiva, que prescrevia uma pobreza absoluta para os monges e para a Ordem, em imitação literal da vida de Jesus Cristo e seus apóstolos conforme narrada nos Evangelhos, que não possuíam nada pessoalmente nem em comum. Segundo o cronista inglês Matthew Paris, lá chegando, sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela cúria de Inocêncio III, que mandou não aborrecê-lo com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa e impraticável, e que fosse pregar entre os porcos. Tendo-o feito num chiqueiro próximo, coberto de lama voltou para o papa, que refletindo um momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. Francisco e seus amigos se prepararam então para esse outro encontro conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa. Segundo os relatos antigos, nesse ínterim Inocêncio teve um sonho, onde viu a Basílica de São João de Latrão prestes a desabar, apenas sustentada por um pobre religioso, que ele interpretou como sendo Francisco. Com a recomendação favorável de alguns conselheiros e com o aviso recebido em sonho, Inocêncio finalmente autorizou a Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto de Ordem maior ao grupo, apenas permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas acrescentando que se eles conseguissem frutos de seu trabalho, voltassem a ele para que sua situação fosse completamente regularizada.

Do destacado acima, ressaltamos a obediência de Francisco indo pregar aos porcos, a mesma obediência a uma ordem injusta que os Franciscanos da Imaculada escolheram seguir. Rezemos para que Francisco, o Papa, possa perceber que são ordens e congregações como os Franciscanos da Imaculada que estão impedindo a Igreja de desmoronar.

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