Sobretudo nos últimos dias que antecederam a viagem do Papa ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, a mídia atacou intensamente o caso do Nunzio Scarano, preso por lavagem de dinheiro, e Mons. Battista Ricca, protegido pelo próprio papa e ligado, segundo os indícios, ao mesmo lobby gay.
Neste ínterim mui breve veio a público o ataque da Congregação para os Religiosos contra a Congregação dos Franciscanos da Imaculada, com uma surpreendente restrição do uso da missa tradicional nesta comunidade.
A intervenção da Congregação foi pensada pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz com o auxílio do secretário da mesma, arcebispo Jose Rodriguez Carballo.
Antes que eu mesmo dê a minha opinião sobre o assunto, é preciso conhecer alguns dos envolvidos.
Braz de Aviz Fora de foco e longe do Vaticano |
Como arcebispo da capital nacional Dom Braz de Aviz não foi, nem de longe, um prelado ratzingeriano, tampouco foi exemplo de governo pastoral. Mesmo no cenário nacional o arcebispo não tinha qualquer expressão. Portanto sua nomeação ou promoção foi uma grande surpresa.
O cardeal também nunca se mostrou um “entusiasta” da tradição, guardando dela e daqueles católicos ligados a ela uma “distância saudável”, para dizer o mínimo.
Arcebispo Carballo com Bertone. Profético? |
De Carballo não se sabe muito. O que sabemos, isso sim, é do estado catastrófico dos religiosos na Espanha, sobretudo os franciscanos (e salesianos, dominicanos e jesuítas) que abandonam várias dioceses, uma após a outra. Desde 2012 já abandonaram Jerez, Lebrija, Herbon, Avilés, Artá, Alicante, Vich, Carcagente e uma presença centenária em Valencia.
Como bem notou o blogueiro espanhol Francisco José Fernández de la Cigoña:
“Frei Carballo como ministro geral da Ordem não foi capaz de parar o sangramento. Mas viu sua inépcia ser recompensada com a Secretaria da Congregação para os Religiosos. Se não soube o que fazer com a Ordem Seráfica tememos que à frente de todas as ordens e congregações, masculino e feminino, da Igreja, seu fracasso será maior”.
A denúncia contra os Franciscano partiu de uma meia dúzia de frades, num universo com mais de 300 membros. Segundo eles, que o jornalista Andrea Tornielli identifica nominalmente (Frs. Antonio Santoro, Michele Iorio, Pierdamiano [Peter Damien] Fehlner, Massimiliano Zangheratti, Angelo Geiger), havia da parte do fundador da congregação e da administração central uma imposição do rito antigo a todos os sacerdotes e uma visão “tradicionalista” da Igreja e crítica ao Concílio Vaticano II.
O que pensar de tudo isso?
A Comissão Ecclesia Dei, já em 2012, aprovou a forma como os Franciscanos da Imaculada usavam o antigo missal. Ou seja, para a Roma de Bento XVI não havia qualquer problema em se usar o antigo missal como instrumento do trabalho evangelizador e expressão da espiritualidade da comunidade. O Vetus Ordo nunca foi imposto, apenas favorecido.
O que eu vejo na intervenção nos Franciscanos da Imaculada é um laboratório para desencorajar outras comunidades religiosas e uma ordem implícita aos bispos e superiores religiosos que diz que agora, sob Francisco, “podemos recomeçar a marginalização dos tradicionalistas”.
Desde o início do Pontificado de Francisco já circulava a ideia que seria a linha de trabalho a partir de agora – colocar o papa contra os católicos “de direita” e vice-versa. Isso se deu nos primeiros momentos do papa ainda não balcão de São Pedro, onde jornalistas exaltavam a suposta humildade e simplicidade do pontífice contrapondo-o ao seu imediato – e vivo - predecessor. O blog Secretum Meum Mihi vem realizando um trabalho extraordinário ao denunciar a mídia formando, ou melhor, deformando a realidade. Em menos de uma semana, em vários jornais do mundo, foi possível ler a mesma notícia através da pena de pessoas diferentes – Francisco contra a Igreja Tradicionalista ou o contrário. Sobretudo depois da entrevista do Papa quando do retorno da JMJ. Creio que os bispos progressistas saberão muito bem usar isso a seu favor.
A intervenção nos Franciscanos, pensada sob a ótica deste breve pontificado, não faz nenhum sentido. Francisco, o Papa, quer uma Igreja pobre, para os pobres, missionária e que leva com alegria o Evangelho. Não penso em nenhuma ordem que se encaixe melhor nesse plano que os Franciscanos da Imaculada. São a perfeita combinação de missão, oração, espiritualidade, caridade, catolicidade, tradição e modernidade que a Igreja tanto precisa.
Papa com os membros da CLAR: É um momento de Sol - para eles! |
Junte-se a isto dois bispos, Aviz e Carballo, que detestam tudo o que é tradicional. Temos uma mistura explosiva.
Não estou isentando o próprio Papa de alguma parcela de culpa por essa imposição injusta. É muito provável que exista uma grande afinidade na trinca Bergoglio-Aviz-Carballo, mais até do que possamos imaginar. Lembremo-nos do que o Papa (supostamente) disse aos membros da CLAR - "Aproveitem este momento que vivemos na Congregação para a Vida Consagrada... É um momento de sol... Aproveitem. O prefeito é bom”.
A Cortina de Fumaça
Uma cortina de fumaça é usada para confundir e distrair. A visitação dos Franciscanos serve muito bem a esse duplo propósito.
Confunde o mundo tradicional que vê a segurança jurídica do Motu Proprio Summorum Pontificum ameaçada com a abertura de um perigoso precedente.
Distrai a mídia e a opinião pública da questão do IOR e do lobby gay, voltando sua atenção ao duelo entre os “perversos” e “intolerantes” tradicionalistas contra Francisco, o Papa bom dos pobres.
Conclusão
Quando foi despachado para Roma, Braz de Aviz – o confuso – se deparou com a investigação da Santa Sé contra a LCWR, um grupelho de “religiosas” americanas feministas e obamistas.
Aqui é importante fazer um parênteses. A LCWR só recebeu uma visitação apostólica depois de ser denunciada, anos a fio, por leigos, religiosas, sacerdotes, bispos e até cardeais. Não foram seis ou sete pessoas, mas milhares; os pecados da LCWR eram (são) públicos e notórios. A elas Braz de Aviz recomendou o remédio do diálogo, adiantando um quase “quem sou eu para julgá-las?” franciscano. Recentemente a Congregação para a Doutrina da Fé aprovou junto ao papa uma série de medidas ainda não conhecidas pelo público para a reforma do grupo, mas nenhuma delas foi colocada em prática ainda. De 13 a 17 de agosto acontecerá a reunião geral da LCWR, aparentemente sem qualquer alteração ou intervenção do Vaticano.
Em contrapartida, meia dúzia de frades rebeldes são rápida e concretamente considerados pelo mesmo Braz de Aviz que, agora, não só pode julgar como impõe uma pena antes da investigação.
A Congregação dos Franciscanos da Imaculada escolheu obedecer. É injusto? Sim! Mas é o melhor caminho. O seu sofrimento espiritual frente a este patrulhamento ideológico de Aviz-Carballo será recompensado, não tenho dúvida!
Braz de Aviz, como apontou Tornielli, é um prefeito confuso. Não se sabe ao certo o que ele faz no Vaticano; o eminentíssimo não combina com a decoração da Cúria, nem com a da Casa Santa Marta. Sua remoção é esperada para breve e tenho certeza que Aparecida poderá, como boa mãe, fazer este favor em acolhê-lo.
Mas debaixo daqueles cabelos negros como a noite, impecavelmente pintados, se esconde um cardeal que sabe muito bem o que quer e não deve, absolutamente, ser subestimado. É um inimigo nato de qualquer coisa que cheira à tradição.
É irônico e chega até ser maldoso que o Francisco, o Papa, se comporte como Inocêncio III quando viu São Francisco pela primeira vez:
Tendo reunido mais um grupo de seguidores, Francisco dirigiu-se para Roma a fim de obter do papa a autorização da primeira Regra para a fundação de sua Ordem, a chamada Regra primitiva, que prescrevia uma pobreza absoluta para os monges e para a Ordem, em imitação literal da vida de Jesus Cristo e seus apóstolos conforme narrada nos Evangelhos, que não possuíam nada pessoalmente nem em comum. Segundo o cronista inglês Matthew Paris, lá chegando, sujos e vestidos pobremente, foram ridicularizados pela cúria de Inocêncio III, que mandou não aborrecê-lo com sua Regra, considerada excessivamente rigorosa e impraticável, e que fosse pregar entre os porcos. Tendo-o feito num chiqueiro próximo, coberto de lama voltou para o papa, que refletindo um momento, decidiu recebê-los em uma audiência formal depois que se lavassem. Francisco e seus amigos se prepararam então para esse outro encontro conseguindo o apoio de prelados eminentes para a sua causa. Segundo os relatos antigos, nesse ínterim Inocêncio teve um sonho, onde viu a Basílica de São João de Latrão prestes a desabar, apenas sustentada por um pobre religioso, que ele interpretou como sendo Francisco. Com a recomendação favorável de alguns conselheiros e com o aviso recebido em sonho, Inocêncio finalmente autorizou a Regra, mas não por escrito, nem outorgou o estatuto de Ordem maior ao grupo, apenas permitiu que pregassem e dessem socorro moral às pessoas, mas acrescentando que se eles conseguissem frutos de seu trabalho, voltassem a ele para que sua situação fosse completamente regularizada.
Do destacado acima, ressaltamos a obediência de Francisco indo pregar aos porcos, a mesma obediência a uma ordem injusta que os Franciscanos da Imaculada escolheram seguir. Rezemos para que Francisco, o Papa, possa perceber que são ordens e congregações como os Franciscanos da Imaculada que estão impedindo a Igreja de desmoronar.