Cardeal Koch: Decisão da FSSPX em consagrar novos bispos virá "em breve"
(de uma entrevista no jornal Nachrichten / do inglês de Rorate Caeli / Tradução Blogonicvs)A primeira parte da entrevista, na qual a passagem abaixo está situada, lida com ecumenismo. Primeiro há questões sobre o diálogo com protestantes, e também questões sobre tendências progressistas e conservadoras dentro da Igreja e se um ecumenismo "intra-eclesial" é necessário. Então o entrevistador questiona o cardeal:
Mas isso [ecumenismo "intra-eclesial"] não se dá de forma desigual? Roma conversa com a ultra-conservadora e difícil Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Não há um diálogo parecido com os progressistas.
Cardeal Koch: Há uma diferença fundamental: De um lado há movimentos e iniciativas, do outro há a Fraternidade, que possui estruturas eclesiais claras. A Fraternidade enfrenta a difícil decisão de, em breve, consagrar novos bispos [sem o mandato de Roma, como observa o autor do artigo]. Se isso acontecer, o fim de qualquer forma de diálogo chegará. É por isso que foi uma preocupação de Bento XVI prevenir um cisma. Na sua opinião [de Bento XVI] a Igreja não fez, no passado, tudo o que poderia para prevenir cismas. Essa é uma situação completamente diferente daquela dos movimentos de reforma. Não é preciso dizer que deve haver diálogo com eles também".
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Não é preciso ir muito longe nas considerações para ver que o que se deseja, de fato, não é o triunfo ou, como diriam alguns, a restauração da tradição. Não. É preciso, sob certas condições previamente acertadas, abrir espaço para que a tradição ou algo parecido com ela coexista pacificamente com a modernidade.
Uma síntese, como deixou claro o Papa Francisco ao falar sobre seu cerimoniário, afirmando que a sua formação litúrgica "emancipada" deveria coexistir com o espírito mais tradicional do padre. Guido Marini e Francisco são, mais por exigência deste último que por vontade do primeiro, um projeto de igreja que busca conciliar duas forças antagônicas dentro de si. De um lado a formação "emancipada", ou seja, a novidade, a informalidade, a dubiedade no discurso que pede revolução e não-condenação e, do outro, uma clareza e objetividade que se realiza na máxima "sim, sim, não, não".
A FSSPX deve existir dentro de Roma se, e somente se, concordar em viver uma tradição subordinada à modernidade. Isso criaria situações muito interessantes, por exemplo, em encontros ecumênicos que a FSSPX seria forçada a não criticar.
Em contrapartida a FSSPX ganharia apenas uma liberdade operacional prática - celebraria missas tridentinas, teria paróquias tridentinas e nada mais.
Eventualmente, e não é preciso ser muito esperto para deduzir, a FSSPX sofreria uma "fagocitose teológica".
Alguns pensam que essas duas forças (tradição e modernidade) que estão dentro da Igreja, como dá a entender a entrevista, possuem o mesmo peso ou força bélica. Não é verdade e para isso basta ver a guinada que houve com a eleição de Francisco. Em apenas 5 meses quase 8 anos de pontificado de Bento XVI já foram apagados ou, o que é pior, censurados.
Os progressistas não dormem de touca. Não possuem "estruturas eclesiais claras" porque não precisam delas. Pelo contrário, eles precisam única e exclusivamente da liberdade que a informalidade lhes garante. Eles penetraram todos os círculos da existência eclesial e, tal como o terrorismo, é muito difícil combater um inimigo sem rosto claro.