segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ex-Bispos Anglicanos, futuros padres católicos

Nestes últimos dias os católicos puderam testemunhar (e na era da internet, testemunhar virtualmente :) ) a conversão e recepção de vários anglicanos ao catolicismo. É sempre uma alegria!
O projeto do Ordinariato para os anglicanos é, nas palavras dos bispos convertidos, a resposta as orações de muitos anglicanos.

Para alguns católicos fica difícil entender a conversão desses anglicanos só agora. E o pensamento tem lá sua lógica. Se a razão para a conversão é a ordenação de mulheres, por que não deixaram a Igreja Anglicana quando a primeira diácona foi ordenada? Por que só agora, com a presença de mulheres bispos(as?)? E já não há bispas nos EUA e na Austrália há um bom tempo?

Sim, a ordenação feminina exerceu uma pressão imensa nos anglicanos e, especialmente agora, a possibilidade de bispas na Igreja-mãe da Inglaterra realmente assustou. Mas por que eles só saíram agora?

O anglicanismo sempre foi bipolar, de um lado os tradicionalistas do pólo anglo-católico e do outro os liberais protestantes. Exercendo a força de "cola" entre esses dois pólos, os moderados.

A ordenação feminina no anglicanismo foi aprovada na década de 70. Houve a primeira debandada histórica de anglicanos, os chamados "continuantes". Eles deixaram a comunhão anglicana, mas mantiveram o ethos anglicano, sem pretender união com a Igreja Católica. A saída dos continuantes abriu espaço para que o pólo progressista ganhasse mais força com os anos.

A ordenação de mulheres e a nova política moral do anglicanismo começaram a ser desenhadas na década de 80. Precisamos lembrar que ainda havia dentro da comunhão anglicana uma presença tradicional anglo-católica forte. Então, o que manteve esses anglo-católicos sob o mesmo teto que os liberais? A fidelidade a um passado anglicano.

Sim, esses anglo-católicos nutriam a doce esperança que a comunhão anglicana fosse, através de algum milagre, recuperar sua catolicidade. Com o passar dos anos, entretanto, eles foram percebendo que o progressismo e o modernismo anglicano só cresciam e, para piorar, as lideranças estavam tão comprometidas com a nova agenda liberal que não estavam mais dispostas a conceder exceções aos tradicionalistas.

O que fez o anglo-católicos sobreviverem por mais de 30 anos dentro da poluída comunhão anglicana foram as "exceções". Essa comunidade não aceita mulheres sacerdotes? Então vocês podem formar uma espécie de "diocese" onde a ordenação feminina não passe de uma teoria absurda. E assim por diante.

Por 30 anos os anglo-católicos ingleses viveram numa bolha dentro da comunhão. Só que alguns liberais resolveram estourar essa bolha. A aprovação, pelo Sínodo Inglês, da ordenação de mulheres ao episcopado sem a possibilidade dos anglo-catolicos recusarem a autoridade dessas bispas foi a gota d'água.

Ok, não dá mais! Esse foi o grito dos anglo-católicos ingleses. Mas o que fazer? Formar uma nova comunhão?

No meio tempo, aqueles continuadores que deixaram a comunhão há 40 anos tiveram a brilhante e profética ideia de - tádá! - se unirem ao Papa!

Dentro do movimento continuador, acredito, a conversão foi mais autêntica e refletida. Eles tiveram longos anos para discernir, em grupo, que sem Pedro não há catolicismo. Aqui houve um processo que culminou com o pedido pela TAC, um dos grupos continuantes, da comunhão plena com a Igreja Católica.

A conversão dos anglicanos que estavam na comunhão oficial foi mais uma reação e um esgotamento que um processo. Eles aproveitaram o caminho aberto pela TAC e encurtaram o processo, porque eles poderiam formar um novo ramo do anglicanismo e, depois de anos e gerações, se converter ao catolicismo.

A estrutura do ordinariato é ainda desconhecida. Como vai funcionar, os problemas e desafios são incertos. Mas há uma única certeza na cabeça desses novos católicos: as pedras fazem parte do caminho e o caminho merece ser trilhado.

Os primeiros problemas já despontam:
  1. Os sacerdotes anglicanos, por terem família, recebem o dobro que os pares católicos
  2. A comunhão anglicana já avisou que não vai dividir prédios (capelas, igrejas e oratórios) 
  3. Alguns bispos e padres católicos ecumenistas não querem o ordinariato
  4. A comunhão anglicana pode, no último momento, votar mais exceções sobre mulheres bispos e diminuir a evasão para o ordinariato, que acabaria extinto pelo seu tamanho mínimo
  5. Que liturgia vão adotar? O rito de Sarum, o Book of Divine Worship dos americanos ou um rito romano modificado? Eles terão direito à forma ordinária e extraordinária da sua liturgia?
Há dois ex-anglicanos que agora são bispos na Igreja Católica e que estão conduzindo a formação do ordinariato na Austrália e na Inglaterra. Dom Alan Hopes, auxiliar de Westminster, e Dom Peter Elliott, auxiliar de Melbourne. Acredito que os dois poderiam ter grande influência e proteção episcopal ao ordinário e aos fiéis do ordinariato, porque deixa-los a mercê dos bispos diocesanos é bem arriscado. Se estivesse ao meu alcance, os dois seriam ordinários do ordinariato, pelo menos nessa fase de transição.

O Oridinariato não terá a mesma cara em todos os países. O ordinariato católico americano será muito mais TAC-only. O da Austrália será misto, entre continuantes e alguns anglicanos oficiais. O inglês será o mais "cantuáriano" de todos. É bem possível que na Inglaterra dois ordinariatos sejam criados. Há ainda Canadá e Nova Zelândia, que são um mistério.

Há muitos anglicanos interessados no ordinariato. Mais até do que a Cúria Romana e as conferências episcopais podem supor. Depois da primeira onda, a dos bandeirantes anglicanos que desbravarão o caminho, outros virão e penso que o caminho para outros protestantes e vetero-católicos. E rezemos por eles e pela Igreja.

Um comentário:

Anônimo disse...

Isso é politicagem,,,

é uma vergolha acolher pastores que nem tem a mesma fé, e "expulsar" sacerdotes que decidira, casar...e os anglicanos,vão separar de suas esposas?????????

isso é uma vergonha....

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