A entrevista do National Catholic Reporter, reproduzida pelo La Buhardilla de Jerónimo, é desalentadora. Nas perguntas vemos que o então arcebispo não sabe absolutamente nada do ocorre no dicastério que irá presidir. Absolutamente nada.
Quando perguntado sobre a visitação apostólica às freiras norte-americanas, Dom João responde que "sabe porque recentemente falou com a irmã Clare Millea" e que "além disso, não sei nada". Como não sabe? As informações pipocaram por meses em toda a rede, será que Dom João não tinha, em sua cúria, alguém com acesso à internet?
Acho que alguns bispos brasileiros se fecham, literalmente, a qualquer notícia da Igreja em outros países que não seguem a "opção preferencial pela teologia da libertação". Me lembro que o meu próprio bispo afirmou por escrito "desconhecer os frutos da aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum". Eles vivem em outro planeta, num outro século. Depois retrógrados somos nós!
Ou seja, nós, blogueiros do orbe católico, sabemos infinitamente mais sobre a Congregação que Dom João. Absurdo!
Dom João afirma que aprendeu, com os Focolores, que é preciso ter uma visão mais confiante do outro, não vendo o outro como um inimigo e diz que "é muito importante encontrar o bom no que o outro crê e sente, sem condena-lo ou destruí-lo". Dom João afirma ainda que está aberto ao diálogo com as rebeldes religiosas norte-americanas e "quero aprender com elas, caminhar com elas". Ora, mas que interessante. Para as freiras tresloucadas dos EUA há espaço para aprender, caminhar e encontrar o bom naquilo que elas crêem (inclua-se o aborto e a ordenação feminina); para os católicos tradicionalistas de Brasília, num número tão pequeno, não houve espaço para a mesma coisa, não houve espaço para a mesma acolhida. Dom João não se preocupou em encontrar o "bom" neles, não! Ele se preocupou sim em condená-los e tentou destruí-los, como muitos bispos brasileiros fazem cotidianamente.
Na última pergunta, Dom João fala, com um discurso quase obamesco, sobre carismas, de flores formando um jardim, fala sobre diversidade, critica a visão individualista onde "todos querem fazer que a sua visão pessoal das coisas governe tudo". Bravo! Bravo! Dom João aprendeu uma coisa em Brasília, mas não foi exatamente com os católicos de lá. Aprendeu com as ratazanas do planalto a dizer uma coisa e fazer outra, aprendeu a contradizer-se sem pudor.
Onde esteve o respeito a "diversidade de carismas" com os católicos de Brasília? Houve sim uma imposição da sua vontade episcopal sobre todo o povo da capital e, sem constrangimento, ordenou-se uma perseguição velada (ou nem tanto) aos poucos católicos tradicionalistas de lá.
Refletindo sobre tudo isso.
Para os anglicanos a pressão progressista foi positiva, porque viabilizou um caminho de conversão, de encontro com a Igreja. E para nós? Que podemos fazer diante da perseguição?
"Olhando para o passado, para as divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos críticos quando a divisão estava a nascer, não fora feito o suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de culpa no facto de tais divisões se terem podido consolidar. Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação: realizar todos os esforços para que todos aqueles que nutrem verdadeiramente o desejo da unidade tenham possibilidades de permanecer nesta unidade ou de encontrá-la de novo" (cf. Carta do Santo Padre aos bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum).
A unidade da Igreja é ameaçada não pela pressão externa, mas pela intolerância interna, pela forma tirânica como alguns bispos assumem seu múnus episcopal.
Fico alarmado, mas não impressionado pelo número sempre crescente dos descrentes com a Igreja, daqueles que, ameaçados e torturados psicologicamente, se refugiam no sedevacantismo ou na indiferença. Há um trabalho interno muito bem feito de autodemolição.
Reforço a pergunta. Para onde correm os católicos que sofrem por crerem firmemente no Evangelho e na Fé deixada por Cristo? Certamente não são vistos como flores "nesse jardim" cheio de carismas, mas como erva daninha que precisa, a todo custo, ser arrancada e jogada ao fogo. A nenhum outro grupo, a nenhuma outra parcela do povo católico - inclua-se aqueles que defendem o aborto - se vê um esforço tão grande para combater. Os tradicionalistas são a única ameaça que merece todas as sanções e penas.
Muito mais se espera
Veremos como andará a Congregação. Alguns dizem, e espero que seja isso, que o senhor arcebispo foi removido. A posição do Oblatvs é a mais otimista. Remove-se um mau arcebispo e neutraliza sua influência na Cúria, sob a batuta de Bento XVI e policiado pelos cardeais Bertone e Levada. Deus queira!
Mas creio que teremos efeitos colaterais inevitáveis. O primeiro será a ineficiência e a neutralização da visitação apostólica. O cardeal Rodé queria, como quer Bento XVI e parte do episcopado norte-americano, uma reforma profunda nas congregações e ordens. Dom João quer fazer caminhadas e dialogar com as freiras. Só um milagre poderá salvar o trabalho de visitação e impedir que, como uma boa CPI brasileira, ela termine em pizza.
Penso como ficarão os institutos, mosteiros e ordens tradicionais - o Le Barroux, o Cristo Rei, os Redentoristas Transalpinos e os vários pequenos mosteiros e ordens que estão surgindo. A Ecclesia Dei não tem tanto poder assim e quando eles conseguem aprovação pontifícia viram assunto da Congregação.
Parece que depois de alguns meses da aposentadoria, o cardeal Rodé poderá dizer: Apres moi le deluge!