O que me chamou a atenção foi uma fala, supostamente atribuída ao bispo Dom Waldyr Calheiros (emérito de Barra do Piraí e Volta Redonda). Eis o trecho, com grifos meus:
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Dom Waldyr |
– A tentativa de setores da Igreja de estabelecer a hegemonia de São Paulo sobre o país incomodava o Nordeste e boa parcela de religiosos de Norte a Sul do Brasil, o que colocou de um lado o cardeal paulistano e, de outro, os representantes das demais dioceses, representados por outro cardeal, D. Damasceno. Embora o atual presidente da CNBB seja de uma linha bastante moderada da Igreja, não se compara ao grupo de bispos que fez aquela besteira (o panfleto) contra o aborto, ainda na campanha eleitoral – avaliou.
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Deduzo que, por estar contido entre travessões, o segundo parágrafo todo seja fala de Dom Waldyr.
O tal panfleto que Dom Waldyr, assumindo ser sua a fala, afirma ser uma besteira foi o mesmo produzido pelo corajoso bispo de Guarulhos contra a então candidata e hoje presidentA Dilma.
Vemos como há uma diferença grotesca entre a qualidade do nosso episcopado tupinniquim e o norte-americano, por exemplo, que hoje luta ferozmente contra o aborto patrocinado pelo governo. A atitude de Dom Waldyr, qualificando como "besteira" a luta de Dom Bergonzini para impedir a ascensão de uma defensora do aborto é lamentável, para dizer o mínimo.
Enquanto nos EUA um cardeal reza pelas vítimas do aborto em frente a um centro de aborto internacional, no Brasil, para o nosso eterno desgosto, alguns bispos pensam (certamente o pensamento de Dom Waldyr é o mesmo de muitos prelados da CNBB, como demonstrou a rápida contra-reação da Conferência durante o episódio do panfleto na campanha presidencial) que alertar o povo dos perigos de uma candidata que pretende legalizar a morte de inocentes é uma besteira!
O papel do bispo é supervisionar, vigiar o povo de Deus a ele confiado pelo sucessor de Pedro. Infelizmente nossos bispos estão ocupados demais com seus acordos espúrios nos bastidores das conferências.
Parece que nossos bispos têm a defesa da vida apenas de modo ligth, apenas nos lábios. Lamentável.
É difícil, mas não impossível, acreditar que um bispo tenha dito isso. Mas é o que o CdB afirma. O modo como Dom Waldyr "avalia" o contexto todo é bem típico dos políticos do Congresso, das ratazanas de Brasília.
Dom Waldyr é um daqueles bispos eméritos que, como bem escreveu Pe. Clécio, não quer perder o controle sobre a CNBB. É de uma facção da TL que desgraçou a Igreja brasileira por anos e, agora, vê o seu trabalho de uma vida indo pelo ralo. Contudo, ainda sim era de se esperar um pouco mais de cristianismo da sua parte um tema tão fundamental quanto a defesa da vida.
Por favor, peço aos leitores que não percam tempo enviando mensagens do tipo "ah, você pode discordar dele, mas ele ainda é bispo e merece respeito" ou outras balelas do tipo. É pelo nosso "respeito" que isso ainda acontece no país.
O que espero sinceramente é que Dom Waldyr não tenha realmente se pronunciado dessa forma tão abjeta.
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Dom Waldyr
Biografia
Filho de Modesto e Maria Novaes, Dom Waldyr nasceu na cidade Murici, no estado de Alagoas, em 29 de julho de 1923, onde residiu até os treze anos de idade. Foi ordenado sacerdote aos 25 de julho de 1948, formou-se em teologia no Seminário de São José, na cidade do Rio de Janeiro, onde exerceu o sacerdócio até 25 de fevereiro de 1964, quando o Papa Paulo VI o nomeou bispo titular de Mulia e auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Foi ordenado bispo pelo Cardeal Jaime de Barros Câmara no dia 1 de maio de 1964 e escolheu como lema de vida episcopal: AMEN, ALELUIA!. Em 20 de outubro de 1966 foi nomeado bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda. Já no dia 8 de dezembro do mesmo ano, a diocese o recebia como o seu 5º Bispo Diocesano.
Ficou conhecido por seu engajamento nas lutas sociais em favor dos menos favorecidos, como o movimento dos posseiros e o movimento sindical, Dom Waldyr jamais negou abrigo e apoio a todos os perseguidos políticos que buscaram sua ajuda. Lutou desde sempre pelos direitos dos trabalhadores e de todos os segmentos oprimidos da população brasileira, estendendo o seu apoio também às lutas de outros povos pela liberdade e pelo fim da exploração econômica da força de trabalho.
Dom Waldyr teve atuação marcante no triste episódio do dia 9 de novembro de 1988, quando as tropas do Exército invadiram a Companhia Siderúrgica Nacional, matando três operários e deixando outros 40 feridos.
Foi condecorado em novembro de 1999 com a Medalha Tiradentes pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. No dia 17 de novembro de 1999 o Papa João Paulo II aceitou a sua renúncia por limite de idade.
No dia 21 de novembro de 2007 foi homenageado com a Medalha Mérito Legislativo pela Câmara dos Deputados, em Brasília.
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Vídeo onde Dom Waldyr enaltece um dos patriarcas da Heresia da Libertação, Jose Comblin, falecido recentemente.