1- Se queremos a FSSP no Brasil é porque não temos apoio especializado no clero local.
A maioria das missas tradicionais rezadas no Brasil o são através das mãos dos padres diocesanos e alguns poucos religiosos. E nesse seleto grupo há dois tipos de sacerdotes: (a) aqueles que se envolvem com o cuidado pastoral dos leigos e, por iniciativa própria ou por convicção, celebram o rito antigo e (b) aqueles que foram colocados nessa função pelo bispo ou que celebram de maneira esporádica e não se engajam na promoção do rito pré-conciliar.
Mesmo contando com padres (a) e (b), ainda há um campo enorme que precisa ser preenchido e a tendência é aumentar a necessidade deste tipo de sacerdote.
A FSSP é conhecida por todos, acredito eu, por suas iniciativas de popularização do rito antigo, por seus cursos de treinamento para sacerdotes e seminaristas e por sua natureza missionária, mesmo em grandes centros urbanos. Eles desenvolvem um trabalho pastoral zeloso.
Eles também trabalham muito com grupos de leigos, gente que deseja que a liturgia extraordinária esteja disponível a todos. Segura esse pensamento!
2 - Onde está a Administração Apostólica?
A Administração Apostólica de Campos é a única estrutura oficial que poderia, teoricamente, exercer funções semelhantes as dos padres da FSSP, do Cristo Rei, etc. Em vários locais espalhados pelo Brasil seus padres oferecem missas na forma extraordinária.
Contudo, vocês não acham que a Administração está, digamos, apagada!? É mais fácil você acompanhar o trabalho pastoral dos redentoristas de Papa Stronsay, numa ilha isolada da Escócia, que ouvir alguma notícia sobre a Administração.
Não é uma crítica destrutiva, mas eu sinto (grifem o EU) que a Administração perdeu o gás e justo agora, num momento tão favorável após 30 anos de luta.
E por que disso? Bom, temos vários motivos. (a) não podemos negar que a Administração encontra-se no pior lugar da Terra para ser uma organização ligada ao rito tradicional - A América Latina. E, para piorar, ela foi criada no capital desse continente tão arisco ao missal de João XXIII - o Brasil. A CNBB não a suporta, os bispos do Brasil, em sua maioria (mas não todos), não a veem com bons olhos. E (b), para piorar ainda mais, ela sempre se encontra envolvida num eterno combate entre tradicionalistas e conservadores, fsspx (que também não a suporta) e Montfort (que também não a suporta). Segura esse também.
3 - Há estrutura eclesial para a FSSP?
Para a FSSP se estabelecer no Brasil uma estrutura mínima é necessária. Não falo apenas de prédio para acomodar o(s) sacerdote(s), mas de uma acolhida por parte do episcopado local. Se estivéssemos falando de uma congregação ordinária, o processo se daria de forma normal, mas esse não é o caso, não é mesmo?
A vinda da FSSP traria comoção e muitos problemas ao ordinário local que a acolhesse. Como é ligada ao rito pré-conciliar, acredito que haveria uma intervenção negativa e pesada da CNBB nesse projeto.
Numa determinada diocese onde havia conflito para a aplicação do Motu Proprio, o próprio bispo local havia informado que recebera as instruções [de bloqueio ao documento papal] do Núncio!!! Imaginem só se algum bispo vai contra o infalível Núncio!
O bispo que pensar em trazer a FSSP para o Brasil precisará passar por cima de um colégio inteiro de bispos, por cima do Núncio e, num futuro próximo, sofrerá as retaliações por isso. Guarda isso com você.
Houve um rumor que a FSSP foi sondada por Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, mas nunca mais se ouviu nada sobre isso. Dom Orani teria mais força para resistir, uma vez que será cardeal em breve, mas mesmo assim tenho as minhas reservas. Para ele, objetivamente falando, o esforço valeria a pena? Só Deus sabe a resposta...
4 - A FSSP não tem experiência na América Latina
A FSSP se estabeleceu com força nos EUA, França, Itália e Alemanha. Tem uma presença importante, embora menor, na Inglaterra, Canadá, Suíça, Polônia, Irlanda, Áustria, Nigéria, Nova Zelândia, Austrália.
A FSSP parece se dar muito melhor nos países de região mais anglo que nos países ligados à península ibérica. Prova disso é a inexistência da FSSP em Portugal, Espanha, Argentina, Brasil, Chile, etc. Há uma missão na Colombia, bem simples, e a casa da FSSP no México só existe pela proximidade geográfica com os EUA, onde a fraternidade tem sua força estrutural e financeira.
A Igreja latino-americana não apresenta condições mínimas para grupos religiosos tradicionalistas. Parte disso se deve ao histórico desastroso e penoso da Teologia da Libertação nesse continente. Uma das muitas heranças da TL foi a aversão a tudo o que é tradicional (isso e as igrejas políticas, o PT, a pastoral da Terra, o CMI, o MST, as subversão da fé, o crescimento das seitas, o abandono da missão, etc, etc).
Na verdade não é dizer que falta experiência da FSSP em terreno pedregoso, porque a França não é fácil também... Falta uma cultura católica no nosso continente que dê apoio aos organismos tradicionalistas, não é um problema só da FSSP. E essa cultura falta precisamente nos tradicionalistas! Vencer resistências no episcopado pode não ser o pior dos desafios; sobreviver aos tradicionalistas latino-americanos e, especialmente, os brasileiros é. Mais um pra você segurar.
Resumo da ópera.
Vamos ver o que eu pedi para você guardar:
- Eles [a FSSP] também trabalham muito com grupos de leigos, gente que deseja que a liturgia extraordinária esteja disponível a todos.
- Para piorar ainda mais, ela [a Administração Apostólica] sempre se encontra envolvida num eterno combate entre tradicionalistas e conservadores, fsspx (que também não a suporta) e Montfort (que também não a suporta).
- O bispo que pensar em trazer a FSSP para o Brasil precisará passar por cima de um colégio inteiro de bispos, por cima do Núncio e, num futuro próximo, sofrerá as retaliações por isso.
- Falta uma cultura católica no nosso continente que dê apoio aos organismos tradicionalistas, não é um problema só da FSSP. E essa cultura falta precisamente nos tradicionalistas! Vencer resistências no episcopado pode não ser o pior dos desafios; sobreviver aos tradicionalistas latino-americanos e, especialmente, os brasileiros é.
Infelizmente o laicato tradicionalista brasileiro é muito, mas muito ruim! Esmaga qualquer "experiência da Tradição" com picuinhas, polêmicas inúteis, problematizações ainda piores. Sinceramente eu não sei de onde isso vem, tenho cá minhas desconfianças, mas prefiro guarda-las para mim.
Não preciso lembrar o caso do Instituto Bom Pastor que desembarcou nessas terras com esperança e sumiu com a mesma velocidade, sacudindo a poeira dos pés. Preferiram enfrentar bispos franceses, absolutamente liberais, que receber ajuda de leigos brasileiros. Acredito que, se não houver uma mudança radical de postura, acontecerá o mesmo com a FSSP.
Após se estabelecer aqui, ela seria atacada pelo clero diocesano local, pela CNBB, pela FSSPX e seria instrumentalizada por outros grupos. Ficaria isolada em si mesma, sufocada por ataques de todos os lados.
A incapacidade dos leigos brasileiros é tão patente que podemos ver o exemplo da própria FSSPX que, há anos por aqui, é tão pequena. A FSSPX tem priorados mais eficiente em países como Índia, Singapura, Japão, etc. que no Brasil, o maior país católico do mundo e onde, teoricamente, seria mais fácil. Novamente, fome e pobreza parecem desafios menores que os terríveis leigos tradicionalistas brasileiros.
Os tradicionalistas e conservadores preferem mais uma eterna luta virtual de posições, infrutífera para a salvação das almas, que colocar as mãos na massa, arregaçar as mangas e trabalhar duro pela fé reta no país.
Quando você propõe algo desse tipo - e acreditem, eu propus - você esbarra numa muralha estúpida tão alta de preconceitos que não dá pra acreditar.
Para não ficar muito longo, não acredito numa sobrevivência duradoura da FSSP no Brasil. Não há estrutura para isso, por enquanto. Não há leigos maduros o suficiente para isso, por enquanto.