Várias dioceses católicas pelo mundo ganharam, com Bento XVI, novos bispos e, principalmente, bispos melhores que seus predecessores. Muitas dessas dioceses são Sés cardinalicias, ou seja, seus ordinários serão feitos cardeais nos consistórios futuros.
Há, entretanto, dioceses que são mais importantes que outras, mesmo no universo das exclusivas dioceses cardinalícias. Assim, Paris tem muito mais peso que Buenos Aires, por exemplo. Los Angeles é mais valiosa e influente que o Rio de Janeiro.
Na Itália, o maior grupo de cardeais do mundo, isso não é diferente. Milão é a Sé "primus inter pares" do colégio italiano. A arquidiocese é tão importante que, como comenta Paolo Rodari, seu bispo é automaticamente um papável. Podemos dizer que Milão está entre as Top 5 dioceses mais importantes do mundo ao lado de Los Angeles, NY, Westminster e Paris.
O Papa, segundo Rodari, está escolhendo com muito carinho um nome para Milão. O cardeal Tettamanzi já passou da hora de renunciar, beira os 80 anos.
Tanto na Cúria quanto fora dela há pessoas interessadas em continuar a linha desenvolvida pelo finado arcebispo Montini e exacerbada pelo "anti-papa" Carlo Maria Martini, a de um catolicismo acolhedor, aguado e insosso, se me permitem.
Dessa vez, pelo que parece, um papa não terá apenas que lidar com a pressão de bispos gananciosos pela cadeira de Santo Ambrósio (reza a lenda que Tettamanzi teria "pedido" a João Paulo II a Sé de Milão), mas uma outra força surge para problematizar ainda mais a nomeação: os novos movimentos leigos. Rodari afirma que o "comunhão e libertação" é muito forte na região.
A questão é que nomes não faltam. Bons nomes... ai já é uma outra questão.
Pelo andar das nomeações este ano, especialmente aqui no Brasil, podemos esperar, quase com certeza, a nomeação de um bispo em linha com o Cardeal Tettamanzi. Talvez um pouco mais romano, mas ainda sim uma nomeação que não nos fará soltar gritos de alegria pelo povo de Milão.
Os progressistas estão sem grandes nomes no colégio de cardeais. Seu líder, antes arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini desapareceu da vida pública (graças a Deus). Só lhes resta o delirante cardeal de Viena.
Rezemos pelo Papa e pela Sé de Milão.
MELBOURNE, sexta-feira, 28 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - O estabelecimento de um ordinariato para os australianos que desejam entrar na Igreja Católica aumentou a esperança de uma maior paz e unidade, segundo o bispo auxiliar de Melbourne, Dom Peter Elliott.
Dom Elliott, presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Austrália para o Ordinariato, e ele próprio um ex-anglicano, explicou a ZENIT que há um sentimento de entusiasmo e expectativa entre aqueles que desejam aderir ao ordinariato, conforme estipulado no Anglicanorum Coetibus.
O Comitê para a preparação do ordinariato australiano foi formado há apenas um mês. No próximo mês, haverá um encontro nacional para os interessados em saber mais sobre ele. Espera-se que o ordinariato seja estabelecido este ano.
Nesta entrevista com ZENIT, Dom Elliott fala sobre os desafios e as esperanças em torno deste ordinariato, seu impacto no ecumenismo e como pode ajudar os católicos a crescer na fé.
ZENIT: O senhor poderia nos falar sobre planos para o estabelecimento do novo ordinariato na Austrália?
Dom Elliott: Os planos avançam mais lentamente do que no Reino Unido. Mas a situação é mais complexa.
Em primeiro lugar, está o desafio da geografia - a Austrália tem o mesmo tamanho que os Estados Unidos.
Temos de reunir grupos que estão espalhados, inclusive isolados. Como delegado episcopal da Conferência dos Bispos, minhas milhas por voar com frequência estão aumentando rapidamente!
Depois, dois grupos muito diferentes precisam se unir: vários clérigos e leigos na oficial Igreja Anglicana da Austrália (ACA) e muitos membros da Igreja Católica Anglicana da Austrália (Traditional Anglican Communion, TAC). Os dois grupos compartilham uma herança anglo-católica, mas sua história é diferente.
Um dos frutos do ordinariato seria sua união em uma só comunidade.
ZENIT: Como se incluirá a comunidade de antigos anglicanos do Japão no ordinariato?
Dom Elliott: Esta possibilidade está apenas em seus estágios iniciais, por isso não tenho como dar mais detalhes.
ZENIT: Qual foi o sentimento geral entre aqueles que buscam fazer parte do ordinariato?
Dom Elliott: Há um sentimento de entusiasmo e expectativa entre esses anglicanos da Austrália.
Nos últimos 20 anos, eles sofreram devido a seus princípios católicos, foram confrontados e deixados de lado em graves questões doutrinais e morais. [notam alguma semelhança?]
Neste país, não havia nenhuma disposição pastoral para estas pessoas de boa vontade na Igreja oficial. [gente sendo perseguida dentro da Igreja por sua fé católica... sinto algo familiar] Tinham de aceitar a nova ordem, ou organizar-se entre eles. Até hoje são considerados injustamente como "anglicanos descontentes". [é essa imagem que se costuma criar dos tradicionalistas ou conservadores, gente insatisfeita e reacionária, contrária a tudo e todos, basicamente "gente do NÃO". Foi justamente a organização e a fraternidade estabelecida entre eles que fez o Anglicanorum Coetibus ser uma realidade]
Ao mesmo tempo, os que criaram paróquias e dioceses anglicanas independentes (TAC) sofreram rejeição e ridicularização, e fizeram muitos sacrifícios para seguir as suas consciências.
Ambos os círculos estavam começando a ver que a oferta generosa do Santo Padre significa paz e unidade. Estão estudando diligentemente o Catecismo da Igreja Católica - um bom exemplo para todos nós.
ZENIT: O senhor poderia dizer algo sobre as relações inter-religiosas com a Igreja Anglicana na Austrália? Que tipo de respostas o senhor ouviu dos anglicanos que não desejam se tornar católicos?
Dom Elliott: Em geral, as relações entre católicos e anglicanos na Austrália são boas.O ordinariato não prejudicará o ecumenismo.
No ano passado, tive a oportunidade de liderar os círculos oficiais de diálogo de anglicanos e católicos. Quando expliquei o ordinariato, houve uma resposta amistosa e cortês. Seguiu uma interessante conversa teológica, mas não houve reação negativa.
Temos de fazer distinções entre os anglicanos que não têm nenhum desejo de voltar ao catolicismo. Os evangélicos têm enviado mensagens de boa vontade. Eles acreditam honestamente que todos os anglo-católicos deveriam voltar à unidade com Roma. [só que alguns demonstram isso de uma forma nada amável, quase zombeteira]
Muitos anglicanos parecem indiferentes, acreditando que o ordinariato será pequeno, pelo menos inicialmente. Um bispo anglicano estava irritado com a oferta do Papa, mas foi rapidamente corrigido por outro bispo evangélico.
Aqui se vê o que nós chamamos de "elefante na sala ao lado" no mundo do anglicanismo, o grande número de evangélicos, especialmente em Sydney e na Nigéria, mas também em outros locais. O que farão esses comprometidos cristãos, que acreditam na Bíblia, é um mistério. Depois, quando os ordinariatos tomarem forma, esses evangélicos decidirão o futuro da Comunhão Anglicana.
ZENIT: O que isso significa para o senhor pessoalmente, como um ex-anglicano?
Dom Elliott: Eu tenho na minha vida um forte sentido do que o Beato John Henry Newman descreveu como uma "providência particular".
Minha recepção na Igreja, realizada em 1968, em Oxford, tem hoje mais sentido do que nunca. Minha tarefa é ajudar os anglicanos de tradição católica a seguir o mesmo caminho de unidade e paz em Cristo [da mesma forma como está fazendo o bispo inglês Alan Hopes].
Mas o meu lema episcopal é "Parare vias eius", ou seja, preparar seus caminhos. Estas palavras de Benedictus têm agora um significado mais profundo e mais focado.
Há também uma pontinha de tristeza; eu gostaria que meus queridos pais, o reverendo Leslie Llewelyn Elliot e June Elliot, estivessem vivos para ver esse dia. Eu sei que eles estão orando pelos ordinariatos. Não há subúrbios no céu.
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Será que nós também precisaríamos de um "Coetibus" para os tradicionalistas? Infelizmente no Brasil ele não seria possível, pois como bem destacou o bispo Elliott, a unidade prévia dos grupos tornou possível a criação do Ordinariato. No caso dos conservadores ou tradicionalistas católicos brasileiros a desunião é o motto perene e absoluto. Até hoje eu simplesmente não consigo entender as razões, as causas e objetivos dessa falta de união. Mistério.
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Será que nós também precisaríamos de um "Coetibus" para os tradicionalistas? Infelizmente no Brasil ele não seria possível, pois como bem destacou o bispo Elliott, a unidade prévia dos grupos tornou possível a criação do Ordinariato. No caso dos conservadores ou tradicionalistas católicos brasileiros a desunião é o motto perene e absoluto. Até hoje eu simplesmente não consigo entender as razões, as causas e objetivos dessa falta de união. Mistério.