terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Thiberville, FSSPX, Assis 3, a Cúria, etc

Este ano de 2011 não começou nada bem para os católicos tradicionais. Nuvens pesadas no horizonte indicavam tempestade e, com ela, um balde de água fria desabou sobre nossas cabeças.

O blog dos nossos amigos de Curitiba, o "S. Pio V", nos fez o precioso trabalho de traduzir um texto excelente sobre as recentes posições, um tanto complicadas, adotadas por alguns expoentes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Recomendo a leitura integral do texto.

As posições desses ilustres sacerdotes, conhecidos pela firme defesa da fé, são tristes. Demonstram que, infelizmente, ainda repousa na Fraternidade um espírito de cisma. Digamos com sinceridade e não é ofensa alguma à alma de Dom Lefebvre dize-lo. Mesmo quando vivo, Dom Lefebvre precisou lidar com essa espinhosa tarefa: combater o sedevacantismo. E o que o Pe. Régis de Cacqueray prega, embora não seja um sedevacantismo propriamente dito, é algo na prática que vai na mesma direção e atinge o mesmo objetivo.

Acredito que a Fraternidade, por incrível que pareça, adotou uma posição muito, mas muito semelhante a da Cúria Romana. Vemos na Cúria um festival de "disse e não disse" que chega a dar medo e isso acontece agora com os padres de Econe. Vejamos na prática:

Original aqui:
Em 23 de dezembro de 2010, Dom Fellay, encontrando-se em Nova Caledônia para celebrar a missa de meia-noite, no dia de Natal, na pequena capela da comunidade de Katiramona, teve a oportunidade de responder a algumas perguntas de um jornalista de “Nouvelles Caledoniennes”.
Duas ou três reflexões do prelado me chamaram a atenção:
Eis a primeira: “Aliás, o Papa regressa às idéias tradicionais. Ele vê muito bem que há um desvio e que é necessário corrigi-lo. Estamos, talvez, mais próximos do Papa do que pareça”.

Declarações como essas deixam os membros da fraternidade, especialmente aqueles que sustentam o apostolado, preocupados. Seria um indício de acordo com Roma? Seria a ponta do iceberg da submissão? Todas essas perguntas são feitas.

As declarações do Pe. Régis de Cacqueray exercem um efeito calmante na parcela mais inflexível da fraternidade. Isso, contudo, não diminui a gravidade das palavras.

E especialmente agora, neste momento, as palavras do Pe. Régis são mais doces aos ouvidos. Afinal temos Assis parte 3, temos as recentes nomeações na Cúria, como a presença do bispo Zollitsch na Nova Evangelização e Dom Aviz na Congregação dos Religiosos; temos até o Papa arborizando um parque em honra a Lutero. Não é natural endossarmos a posição pretendida pelo Pe. Régis? Claro que é!

2011 está se mostrando um ano onde o sedevacantismo pode se tornar uma terrível tentação. E o sedevacantismo é uma opção? Sim, é claro que é! Isso, contudo, não significa que seja a opção correta.
Vocês já repararam que as grandes heresias tem sua raiz num contexto e não na realidade bíblica ou magisterial? É precisamente isso que as difere dos dogmas. Explico:

Se você buscar bases para o primado de Pedro e sua infalibilidade, dogma da Igreja, encontrará uma base na Escritura (várias, aliás) e uma base naquilo que a Igreja sempre fez. A proclamação do dogma da infalibilidade foi só um ato formal de uma realidade já presente.

Contudo, você consegue buscar bases concretas para o sedevacantismo na Escritura ou no Magistério? Não,  porque ele é condicionado pelo contexto, essencialmente pelo contexto. Ele é uma reação, equivocada eu diria, a uma crise. Crises não são inéditas na Igreja.

Você consegue encontrar bases para, por exemplo, o monotelismo na Escritura? Não. E para o monofisismo? Também não.

Então acredito que o sedevacantismo é uma heresia? Sim, porque ela desafia de alguma forma a bíblia e a Tradição. Ela coloca entre parênteses a promessa de assistência perene de Cristo a Sua Igreja e a própria natureza do primado petrino. Essas duas realidades - assistência e primado - estão intimamente unidas. Não dá pra ter uma e não a outra. De que forma o Espiríto Santo ordinariamente assiste sua Igreja? Através do Sucessor de Pedro. E de onde vem a autoridade do Sucessor de Pedro? Da promessa feita por Jesus Cristo. Entenderam? É um círculo.

"Ah, mas o Papa pode rejeitar a assistência do Espírito Santo". Ok. Quantas vezes você viu isso na história da Igreja? Tivemos Papas horríveis que desafiaram a moral da Igreja, por exemplo, com seu comportamento reprovável e nem por isso foram menos Papas.

Temos uma crise complexa e terrível na Igreja. E o sedevacantismo não nos dá elementos concretos para responder a esse crise adequadamente. Imagine um avião em pane geral; qual seria a melhor chance de salvação dos passageiros? Confiar no piloto que faz o que pode ou matar o piloto? Eu fico com o piloto justamente porque eu não sei pilotar, eu não posso pilotar.

O sedevacantismo nos leva a um protestantismo camuflado. Se não há Papa, quem é Papa? Ficaremos nesse limbo sedevacante até quando? Até que o próximo Papa seja ortodoxo, mas quem dirá que ele é ortodoxo? O consenso geral? Isso é relativismo (a verdade decidida pela maioria). Percebem a complicação?

Entendo, contudo, aqueles se sentem tentados de alguma forma pelo sedevacantismo. É uma saída mais fácil e aparentemente lógica. Mas quando você se debruça percebe que a lógica sedevacantista não é lógica.

Compreendo o medo dos padres e fiéis da Fraternidade em submeter-se por completo aos bispos diocesanos. Entre meu bispo diocesano e Dom Fellay fico com o segundo, é claro, mas na prática não posso. O recente caso de Thiberville demonstra como esses bispos podem ser terríveis com os tradicionalistas. Sejamos francos, 85% do episcopado mundial odeia o tradicionalismo e por isso a crise na Igreja não será superada pela canetada do Papa em acordos práticos com ninguém. Se não houver um movimento concreto de cima, através da nomeação de bons bispos, e de baixo, através da união dos católicos tradicionais em torno da fé da Igreja em comunhão com o Papa, a crise não será superada.

Defendo de maneira absoluta a união de esforços entre os leigos como uma tática muito mais eficiente que o sedevacantismo. O sedevacantismo isola as pessoas; mesmo em grupos sedevacantistas (como é o caso da SSPV, por exemplo) não há crescimento, não há vitalidade! Há força, isso sim, e só.

As vocações, sinal da saúde espiritual, crescem e florescem em locais onde o bem da Igreja é buscado. Os seminários da FSSPX estão cheios e são sinal de esperança para o futuro. Os da SSPV não estão tão cheios assim e a história mostra que eles foram, um dia, muito maiores que a FSSPX nos EUA.

A FSSPX precisará fazer uma nova autoavaliação, buscando coesão e clareza nos seus propósitos. Se o objetivo da FSSPX for esperar que o Papa se converta e tudo mais que está claro na carta do Pe. Régis, então não há futuro para eles. As conversações com Roma se tornariam inúteis, tudo o que Mons Fellay deveria fazer era sentar, rezar e torcer para que esse Papa ortodoxo aparecesse. As atitudes de Mons. Fellay demonstram o contrário, pois testemunham uma convicção sobre o Papa e uma proximidade.

O ano de 2011 começa, ao meu ver, como uma reação. Vocês imaginam tudo o que foi conquistado desde 2007? Três anos de boas vitórias: Summorum Pontificum, remissão das excomunhões, diálogo sobre Vaticano II, Dom Burke cardeal, novos bispos ortodoxos até mesmo no Brasil, cardeal Cañizares em Roma, Piacenza no lugar de Hummes, purificação dos Legionários de Cristo, Instituto Cristo Rei sendo oficialmente reconhecido como "de direito pontifício", Instituto Bom Pastor, recorde em ordenações tradicionais, etc. É muita coisa!

E, fala a verdade, você achou que a velha guarda progressista iria ficar estática assistindo a demolição dos seus "sonhos modernistas"? Ah tá bom! Eles ainda estão no poder, ou melhor, eles são o poder em muitos lugares. 2011 promete ser a reação progressista. Nos preparamos com união para enfrentar essa reação.

É hora também de vermos a coragem dos membros da FSSPX e não o abandono prático da batalha. Rezemos por eles e por nós mesmos, afinal, estamos todos na mesma barca.

21 comentários:

Bruno Luís Santana disse...

Confio no trabalho de monsenhor Fellay. Creio que tudo chegará a bom termo. Creio mesmo que os pés no freio que ora o padre de Caqueray ou tantos outros fazem tem um lado bom de puxar à realidade os católicos mais passíveis de afrouxamento.
O que diferencia um padre de Caqueray de um padre Ceriani? Talvez não tanto o modo de pensar, mas a maneira de reagir aos acontecimentos. O primeiro tem um discurso duro, mas não cria partidarismos. O segundo desconfiou das intenções oficiais da FSSPX, e sem cair no sedevacantismo, no entanto se separou da mesma, endurecido na postura em que se encontra.

Católica Apostólica Romana disse...

sugiro a leitura deste manifesto de dom Lourenço antes de engatar a marcha sobre a FSPPX: http://www.permanencia.org.br/drupal/node/1915

In corde Jesu, Semper!

Danilo disse...

Judamore

O manifesto de Dom Lourenço limita-se a criticar, com justa razão, o encontro de Assis III. Em nada toca no ponto central e problemático exposto pelo padre da fraternidade.
A recomendação do padre de que não se pode comungar nas missas católicas tradicionais oficiais, ou seja, aquelas rezadas por padres diocesanos ou de institutos tradicionais, é gravíssima e não foi comentada nesse artigo que você me recomendou.
Querendo fazer justiça ao padres francês, Dom Lourenço apenas desviou a atenção do foco da questão. Não fez justiça. Seria o caso de perguntarmos se é lícito atender a uma missa tradicional fora da Fraternidade. SE não for, como Pe. Roger diz que não é, então o que ele quer dizer com isso? Fora da fraternidade não há salvação? Ou ainda, onde há a Fraternidade ali há a Igreja? São afirmações muito perigosas e todas elas, infelizmente, podem ser tiradas dessa carta.
Fazendo justiça ao Fratres, que não fez outra coisa senão informar. Dom Lourenço coloca como se fosse uma perseguição pessoal do site à fraternidade.
Inclusive Dom Lourenço diz que "o texto publicado contra a Fraternidade São Pio X no Fratres in unum é um panfleto maldoso, cheio de erros de interpretação, de erros de tradução, de má fé". Então que apresente a tradução correta! Cadê ela?
Para afirmar o que afirmou, Dom Lourenço certamente teve acesso ao texto original e, assim, pode compara-lo com o publicado pelo Fratres. Cadê?

Anônimo disse...

Amigo, salve Maria.

Você escreveu:

"(...) você consegue buscar bases concretas para o sedevacantismo na Escritura ou no Magistério? Não, porque ele é condicionado pelo contexto, essencialmente pelo contexto. Ele é uma reação, equivocada eu diria, a uma crise. Crises não são inéditas na Igreja".

Sem qualquer espírito de rivalidade ou discórdia, vou lhe dar rapidamente duas passagens, uma da Bíblia e outra da Tradição, que amparam a posição sedevacantista, para você equivocada mas nós a que melhor corresponde a doutrina da Igreja, àquilo que ela ensinou sobre si mesma e sobre os papas nos últimos dois mil anos e a reação dos católicos diante das heresias (inclusive vindas de Roma). A estas duas passagens que serão citadas eu acrescentarei comentários de um santo e de um teólogo (para que você perceba que as interpretações dadas a elas não são coisas da minha cabeça).
Vamos, então, as benditas passagens! A primeira eu a retiro da Bíblia, onde São Paulo nos ensinou:

Gálatas 1:8 - Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, SEJA ANÁTEMA.

Ora, São Vicente de Lerins, em sua obra “Commonitorium” (obra mais do que consagrada e usada largamente pela Igreja contra os protestantes na época da revolta luterana) comenta esta passagem e diz que ela se aplica até mesmo a São Pedro, portanto, até mesmo ao papa. Vejamos:

"8 (...) a autoridade do apóstolo se manifestou então com maior severidade: "mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema". (Gl 1,8) E por que disse São Paulo ainda que alguém – nós e não ainda que eu mesmo? PORQUE QUIS DIZER QUE SE INCLUSIVE PEDRO, André, João, OU O COLÉGIO INTEIRO DOS APÓSTOLOS anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. TREMENDO RIGOR, com ele que, para afirmar a FIDELIDADE Á FÉ PRIMITIVA, não se exclui nem a si mesmo nem aos outros apóstolos".

Fonte: http://cumexapostolatusofficio.blogspot.com/2009/08/commonitorium-sao-vicente-de-lerins.html

continua...

Anônimo disse...

Percebamos, então, que de acordo com o São Vicente de Lerins é exatamente o uso de um "tremendo rigor" que nos obriga a anatematizar qualquer herege, inclusive Pedro (se for o caso), inclusive o Papa! Aí está a posição sedevacantista amparada pelas Sagradas Escrituras! Existem muitas outras passagens bíblicas neste sentido. Mas como se aplicaria na prática esta teoria? Para responder a esta pergunta, cito outro ensinamento, desta vez do Papa Inocêncio III, conhecido pelo rigor com que combateu as heresias e pelo zelo excessivo pela fé católica. Eis o que ele nos ensinou sobre um papa herege e a posição que os fiéis podem adotar diante dele:

“(...) Pode o Romano Pontífice ser julgado pelos homens, ou antes, SER ELE MOSTRADO COMO JÁ JULGADO (por Deus) se ele infringir em heresia porque quem não crê já está julgado (Papa Inocêncio III – IV sermão sobre o Romano Pontífice - p. l. 217, 656-672 - passagem extraída do livro "A nulidade dos papas – bispos e concílios da "nova Igreja Católica" de autoria do Dr. Homero Johas – Editora Maia).

Amigo, eis um ensinamento de um Papa que vale ouro. Inocêncio III mostra CLARAMENTE que em caso de heresia um papa pode "ser julgado pelos homens". Porém, como esta frase dita assim, sem maiores explicações, levaria os fiéis a confusão e pareceria contrariar o dogma que um papa não pode ser julgado por ninguém eis que a necessária distinção é feita: "ou antes, ser ele mostrado como já julgado (por Deus) se ele infringir em heresia porque quem não crê já está julgado". Entendeu? Este ensinamento do Papa Inocêncio escrito há quase mil anos é tão forte que faz eco até os dias de hoje. Veja o que é dito dele:

"(...) Não pode ser provado, no entanto, que o Pontífice Romano, como um professor particular, não pode tornar-se um herege - se, por exemplo, ele teria pertinazmente (contumazmente) negado um dogma previamente definido. ESSA IMPECABILIDADE NUNCA FOI PROMETIDA POR DEUS. Com efeito, o Papa Inocêncio III admite expressamente que tal caso é possível. (...) SE REALMENTE ESSA SITUAÇÃO IRIA ACONTECER, ELE [O PONTÍFICE ROMANO], POR DIREITO DIVINO, CAIRIA (PERDERIA) DE SEU CARGO, SEM QUALQUER SENTENÇA, NA VERDADE, SEM SEQUER UMA DECLARAÇÃO. Ele que professa abertamente heresia coloca-se fora da Igreja, e não é provável que Cristo iria preservar o primado da sua Igreja em alguém (ou de um modo) indigno. Portanto, SE O PONTÍFICE ROMANO FOSSE A PROFESSAR HERESIA, antes de qualquer sentença condenatória (o que seria impossível qualquer jeito), ELE PERDERIA SUA AUTORIDADE" (Coronata — Institutions Juris Canonici, 1950).

Eis as palavras de Inocêncio III explicada pelos teólogos! Ora, se como está dito aí o Papa-herege perde a sua autoridade por causa da heresia manifesta como então os fiéis não poderiam reconhecer que ele perdeu a autoridade justamente quando é o amor pela fé Católica que nos obriga a desobedecer-lhe? E o ensinamento de São Paulo em Gálatas explicado por São Vicente de Lerins e por todos os santos doutores da Igreja católica que abordaram a questão? Ora, todos os santos doutores que abordaram esta questão foram unânimes em dizer que um papa herege perde o cargo.
De forma inequívoca, isto tudo que é dito corrobora a posição sedevacantista adotada atualmente por aqueles que nada mais são do que simples católicos apostólicos romanos, que fazem o possível para se manter em Estado de Graça e que crêem em tudo aquilo que a Igreja ensinou desde São Pedro até Pio XII.

Abraços,

Sandro Pelegrineti de Pontes

Danilo disse...

Sandro

Obrigado pelas considerações, são realmente inteligentes!
Entendo como essas afirmações colaboram para a "doutrina", se podemos colocar assim, sedevacantista.
Contudo, elas dão meios para entrarmos no sedevacantismo, mas não nos deixam pistas para sairmos dele.
Pedro negou Cristo, e o negou três vezes. Isso não foi heresia, foi algo acima da heresia, uma abominação. Negar a Cristo na consumação da sua paixão é muito mais grave que qualquer heresia. E, contudo, Pedro não deixou de ser o príncipe dos apóstolos por causa disso.
contudo, compreendo os argumentos apresentados por você. O grande problema é que é muito dificil provar por A+B que os papas do pós-concílio cairam na heresia.
Eles não negaram publica e categoricamente nenhum dogma. O problema reside na ambiguidade que é aquele momento onde os papas do pós-concílio quase, quase caem no abismo da heresia formal e clara.
Eles negaram que fora da Igreja não há salvação. Não. Mas através de beijos no corão, de encontros como Assis eles dão um contra-testemunho desse dogma. São atitudes ambíguas e contraditórias.
A missa é sacríficio? Sim, um papa do pós-concílio professaria e realmente acredita que a missa é sacrifício, mas por muitos anos a congregação romana da liturgia e as próprias missas papais enfatizaram ambiguamente o caráter comunal e de refeição da missa, ao melhor estilo luterano.
Se eu ver uma pessoa morrendo e não ajuda-la, posso ser acusado de negligência ou impiedade, mas não de assassinato. O mesmo acontece com os papas da igreja em crise - e de fato a igreja está em crise - eles podem ser acusado de ambiguidade, relativismo, mas heresia formal... eu não sei.
Como eu disse, o sedevacantismo, na minha opinião, oferece uma pseudo solução. Ele permite encontrar uma suposta causa para a crise (não há Papa, pq os papas depois de 1965 são hereges). Mas como nós resolvemos isso? É uma situação complicadíssima.
Eu vejo esse momento como uma oportunidade para os leigos crescerem na fé. É uma re-evangelização. Nós, que compreendemos um pouco mais, deveríamos nos unir em missão. Realmente uma nova evangelização é necessária (não essa do Fisichella, mas uma de conversão e re-cristianização do mundo).
Onde o sedevacantismo ajuda nessa questão? Eu me sentiria desesperado (ainda mais, como se não bastasse as missas afro que pipocam por aqui...) se adotasse o sedevacantismo, pois não há para onde correr. A igreja sedevacantista deve viver uma paralisia, pq quando a Sé está vacante não há governo.
Imagine um país onde o presidente simplesmente desaparece e ninguém tem autoridade constitucional para ocupar seu lugar. Um reino sem rei, uma terra sem lei, já dizia o ditado.
Não demora muito para os sedevacantistas professarem doutrinas estranhas. Membros de algumas fraternidades sedevacantistas, principalmente nos EUA, já usam a missa de S Pio V pura, sem qualquer alteração feita pelos seus legítimos sucessores e não estou só me referindo a João XXIII, mas a Pio XII e Pio X também. Quem lhes deu direito para fazer isso (negar a autoridade de um Papa que, até para eles, foi papa de fato)?
Se não há Papa qual é o pilar da unidade entre os católicos? O que nos une? A doutrina? Mas a letra é morta, se não há quem, por Divina vontade, possa interpreta-la através do Espírito Santo. A não ser, é claro, que cada bispo sedevacantista ou padre, ou mesmo leigo, se julgue no direito a interpretar a fé apostólica e isso é... protestantismo.
Os vetero-católicos ficaram por muitos anos bem ortodoxos, só divergindo do catolicismo romano pela negação da infalibilidade papal. Hoje, entretanto, ordenam mulheres e consagram refrigerante de uva. Até mesmo a fé católica sobreviveu um bom tempo entre os anglicanos, mas no final a não-comunhão com Roma fez prevalecer o protestantismo.

Continua abaixo pq o blogger tem limite de espaço...

Danilo disse...

Quanto tempo um sedevacantista se mantém católico? Veremos com o tempo.
Já podemos ver, contudo, as experiências estranhas em grupos dos EUA, como relatei acima.
A doutrina católica nunca abordou o sedevacantismo. Qual o nível de autoridade pode ser dado ao sermão de Inocêncio III? Não encare como um descrédito ao que foi dito pelo Papa, mas é uma questão realmente importante. Bento XVI não é infálivel em tudo e hoje a distinção da extensão da autoridade pontifícia é crucial para entendermos a crise. Inocêncio III foi infálivel nessa declaração ou expressou apenas uma posição que, talvez, pudesse ser interpretada num determinado contexto.
Caberia a Igreja e, somente a ela, dar um real esclarecimento ao dogma da infalibilidade. A infalibilidade hoje parece um saco sem fundo de poder absoluto que salva e condena.
Tanto a posição extremamente progressista, quanto o sedevacantismo, ao meu ver, apoiam-se numa visão distorcida da infalibilidade do Papa e/ou do Concílio ecumênico.

Quando os diálogos de blogs se focalizam essencialmente em provar quem tem razão por pura disputa, não são produtivos. Mas acho saudável esse tipo de conversa onde se expõe argumentos e, de alguma forma, tentamos esclarecer dúvidas e posições.

São as minhas considerações, caro Sandro, creio que não estão completas, mas não podemos escrever demais de uma vez pq senão fica cansativo e o tema é demasiado interessante.

Forte abraço

Bruno Luís Santana disse...

Danilo, sua explicação satisfaz o que a maioria dos tradicionalistas não conseguiriam expressar (refiro-me aos que rejeitam a tese sedevacantista).
Só completando: além desta primeira pergunta sobre o que fazer, considerando que a alternativa sedevacantista seja verdadeira - qual seria o próximo passo?
Além de todos os problemas que temos, teríamos mais este abacaxi: os papas deixaram de ser papas.
E agora? A Igreja, da forma que conhecemos, terminou? A monarquia papal daria lugar a uma federação de dioceses, aos moldes da ortodoxia cismática, ou a Igreja se organizaria nos moldes do presbiterianismo desagregador? Ou em algum momento um dos bispos sedevacantistas (ou um tradicionalista, ou qualquer outro considerado não-herético) se dirigirá a Roma para ocupar a Cátedra de Pedro?
Tudo bem, não caberia aos sedevacantistas responderem, visto que os mesmos já teriam feito demais em descobrir, ou melhor, identificar tal tragédia.
Agora, enquanto se volta os olhos para o problema dos papas que se auto-excluiram, coisa que custaria ainda mais divisões, mais estranhamentos, mais esfriamento mo que restou da fé sobre a terra, como ficariam os problemas PALPÁVEIS, quero dizer, o modernismo evidente, muito menos especulativo e que até agora causa ruína? Por acaso a decadência da Fé, da Moral, da Disciplina, tudo isso entrará em recesso enquanto a grave questão "a Sé de Pedro está ocupada, ou vacante" não se resolve?
***
Creio que isso é uma ocasião que trará ainda mais divisão entre os cristãos, e um fosso a mais, e uma oportunidade extra para deixar aprofundar a crise já existente. Nosso Senhor disse a Pedro que as portas do inferno não prevaleceriam. Pois bem: a casa ruiu. Então o fundamento que restou - Pedro - agora ruiu. O que sobra?
Um sedevacantismo de cinco décadas ligado a uma Igreja em que tudo foi modificado para o comum dos mortais significa simplesmente: o inferno prevaleceu.
No dia em que eu afirmasse que o sedevacantismo seria a solução, seria o dia em que eu diria em seguida: Cristo mentiu, não há mais para onde ir, a Igreja acabou.
Para mim já estamos no limite. Ultrapassá-lo é cair no vazio.
Diante do Evangelho diferente, nós o anatematizamos com a resistência. Nos basta seguir a Tradição do que sempre foi ensinado. E creio que resistir ao modernismo já é muuuuuita coisa. Os papas pregam o ecumenismo liberal, a colegialidade, a missa nova e nós não acatamos tais novidades. Está pouco?

Bruno Luís Santana disse...

Danilo, sua explicação satisfaz o que a maioria dos tradicionalistas não conseguiriam expressar (refiro-me aos que rejeitam a tese sedevacantista).
Só completando: além desta primeira pergunta sobre o que fazer, considerando que a alternativa sedevacantista seja verdadeira - qual seria o próximo passo?
Além de todos os problemas que temos, teríamos mais este abacaxi: os papas deixaram de ser papas.
E agora? A Igreja, da forma que conhecemos, terminou? A monarquia papal daria lugar a uma federação de dioceses, aos moldes da ortodoxia cismática, ou a Igreja se organizaria nos moldes do presbiterianismo desagregador? Ou em algum momento um dos bispos sedevacantistas (ou um tradicionalista, ou qualquer outro considerado não-herético) se dirigirá a Roma para ocupar a Cátedra de Pedro?
Tudo bem, não caberia aos sedevacantistas responderem, visto que os mesmos já teriam feito demais em descobrir, ou melhor, identificar tal tragédia.
Agora, enquanto se volta os olhos para o problema dos papas que se auto-excluiram, coisa que custaria ainda mais divisões, mais estranhamentos, mais esfriamento mo que restou da fé sobre a terra, como ficariam os problemas PALPÁVEIS, quero dizer, o modernismo evidente, muito menos especulativo e que até agora causa ruína? Por acaso a decadência da Fé, da Moral, da Disciplina, tudo isso entrará em recesso enquanto a grave questão "a Sé de Pedro está ocupada, ou vacante" não se resolve?
***
Creio que isso é uma ocasião que trará ainda mais divisão entre os cristãos, e um fosso a mais, e uma oportunidade extra para deixar aprofundar a crise já existente. Nosso Senhor disse a Pedro que as portas do inferno não prevaleceriam. Pois bem: a casa ruiu. Então o fundamento que restou - Pedro - agora ruiu. O que sobra?
Um sedevacantismo de cinco décadas ligado a uma Igreja em que tudo foi modificado para o comum dos mortais significa simplesmente: o inferno prevaleceu.
No dia em que eu afirmasse que o sedevacantismo seria a solução, seria o dia em que eu diria em seguida: Cristo mentiu, não há mais para onde ir, a Igreja acabou.
Para mim já estamos no limite. Ultrapassá-lo é cair no vazio.
Diante do Evangelho diferente, nós o anatematizamos com a resistência. Nos basta seguir a Tradição do que sempre foi ensinado. E creio que resistir ao modernismo já é muuuuuita coisa. Os papas atuais nos propõem um ecumenismo liberal, uma missa artificial, uma colegialidade estranha à Tradição, um conceito de liberdade religiosa que anula o Syllabus, e nós não acatamos tais coisas. Isso não basta?

Anônimo disse...

Prezado amigo Danilo, salve Maria Santíssima, mãe de Deus e nossa!

Fiquei muito feliz de ver a forma educada e serena como me respondeu. Realmente, é assim que aqueles que amam a Igreja devem se tratar, com amabilidade, o que não impede certa veemência das partes no momento de se abordar o problema. Destaco o seguinte trecho de sua mensagem:

“(...) Quando os diálogos de blogs se focalizam essencialmente em provar quem tem razão por pura disputa, não são produtivos. Mas acho saudável esse tipo de conversa onde se expõe argumentos e, de alguma forma, tentamos esclarecer dúvidas e posições”.

Sim, é isso. Sem espírito de disputa (que não convém aos católicos) e desejando ardentemente a verdade (ainda que esta nos contrarie) é que devemos abordar estas questões realmente problemáticas.
Então, se me permite, vou comentar passagens escritas por você, visando esclarecer os fatos e fazer com que aja algum tipo de progresso entre nós, nunca nos esquecendo que é Deus quem nos julgará no tempo devido, e que ele saberá ter misericórdia de nós que estamos morrendo agonizando abandonados pelo clero modernista. E defendemos nossas posições com a devida moderação, sempre desconfiados de nós mesmos, que não somos infalíveis, portanto, passiveis de erros, os quais ficaria feliz de descobri-los. Portanto, favor apontá-los, caso os encontre. Inicio comentando o seguinte trecho escrito por você:

“(...) Pedro negou Cristo, e o negou três vezes. Isso não foi heresia, foi algo acima da heresia, uma abominação. Negar a Cristo na consumação da sua paixão é muito mais grave que qualquer heresia. E, contudo, Pedro não deixou de ser o príncipe dos apóstolos por causa disso”.

Danilo, aqui constato, com espírito fraterno, o seu primeiro erro, que é o erro cometido pela esmagadora maioria dos católicos, tradicionalistas ou não, que conversei sobre este assunto: o de dizer que Pedro era papa quando negou Cristo. Não era! São Tomás explica que naquele momento Pedro ainda não havia sido feito papa, pois que ouviu de Cristo no tempo futuro que as chaves seriam dadas. Ele já era sacerdote e bispo, mas ainda não tinha Jurisdição. Esta somente lhe seria dada após a Ressurreição de Cristo. É o que diz o doutor angélico:

Anônimo disse...

1850 - Mas [o Senhor] disse: Eu te darei. Na verdade, [as chaves] AINDA NÃO TINHAM SIDO FORJADAS: UMA COISA NÃO PODE SER DADA ANTES DE EXISTIR. Essas chaves deviam ser forjadas na paixão. Assim, a [sua] eficácia foi tirada da paixão. Eis por que [o Senhor] prometeu e, APÓS A PAIXÃO, ELE DEU, quando disse: "Apascenta as minhas ovelhas” [Jo 21, 17] (Comentário de Santo Tomás ao Evangelho de São Mateus – Cap. 16,19)

Portanto, Danilo, Pedro ainda não era Papa (jurisdição) quando negou Cristo, mas somente sacerdote (pois recebeu a ordem na quinta-feira santa, durante a santa ceia). Tornou-se Bispo e Papa após a Ressurreição de Cristo. Perceba que São Tomás explica que as chaves, forjadas na paixão, são dadas depois da ressurreição, quando Nosso Senhor diz duas vezes para que Pedro apascentasse seus cordeiros (os bispos) e uma vez para que apascentasse suas ovelhas (nós, os fiéis). Pedro não poderia ser papa com Cristo ainda vivo e pregando, passando pela paixão, pois a Igreja teria duas cabeças, e seria uma aberração. Mas mesmo que hipotéticamente Pedro já fosse papa, eu não concordo com a sua análise de que a negativa de Cristo por ele seja ato mais grave do que uma heresia, pois se assim o fosse ele não poderia mais ser sequer considerado cristão. O ato dele foi de covardia, pois teve medo de morrer, e neste sentido negou o mestre: “não o conheço”! Mas ele não negou nenhum dogma, objetivamente falando. Foi covarde, mas não herege e nem algo pior do que isso. Você também escreveu:

“(...) O grande problema é que é muito dificil provar por A+B que os papas do pós-concílio cairam na heresia. Eles não negaram publica e categoricamente nenhum dogma. O problema reside na ambiguidade que é aquele momento onde os papas do pós-concílio quase, quase caem no abismo da heresia formal e clara”.

Hum....será? Bem sabe você que o bispo da FSSPX Dom Tissier disse que padre Ratzinger defendeu em um livro heresia que nem Lutero ousou defender, a saber, que Cristo não satisfez por nós na cruz, pois isso, de acordo com ele, “contraria o evangelho do amor”. Veja:

“(...) Observando certos textos de devocionários, não se pode escapar à idéia de que a fé cristã na cruz vê um Deus cuja justiça implacável exige uma vítima humana, o holocausto do seu próprio Filho. E RECUAMOS HORRORIZADOS DIANTE DE UMA JUSTIÇA, cuja ira tenebrosa torna incrível a mensagem do amor. TÃO ESPALHADA QUANTO FALSA É ESTA IDÉIA. (...) Quase todas as religiões giram em torno do problema da expiação. ELAS NASCEM DA CONSCIÊNCIA DO HOMEM quanto à sua culpa para com Deus e denotam a tentativa de sufocar a consciência da culpa, de vencer a culpa por meio de ações oferecidas a Deus. A obra reparadora com que os homens querem apaziguar [236] a divindade e torná-la propícia, ocupa o centro da história das religiões” (trecho retirado da página 133 do livro “Introdução ao Cristianismo” escrito por Padre Ratzinger e publicado em 1967, sendo reeditado até os dias atuais).

Anônimo disse...

E neste mesmo livro três páginas depois de negar que a morte de Cristo na cruz satisfez a primeira pessoa da Santíssima Trindade padre Ratzinger declara abertamente que a doutrina da missa tal qual a Igreja sempre a sustentou está ultrapassada e por isso não pode ser mais aceita. Vejamos a página 136 de livro:

“(...) a essência do culto cristão NÃO SE ENCONTRA NO SACRIFÍCIO DAS COISAS, nem em alguma substituição qualquer, COMO SE LÊ REPETIDAMENTE NAS TEORIAS SOBRE A MISSA, A PARTIR DO SÉCULO XVI – segundo as quais, deste modo, seria reconhecido o supremo domínio de Deus sobre tudo. Todas estas considerações SÃO ULTRAPASSADAS PELO ACONTECIMENTO DE CRISTO E POR SUA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA. O CULTO CRISTÃO CONSISTE NO ABSOLUTO DO AMOR, tal como podia oferecê-lo somente alguém no qual o amor divino se tornou amor humano; consiste na forma nova da representação incluída neste amor, a saber, que ele ocupou o nosso lugar e nós nos deixamos tomar por ele”.

Danilo, eis o link onde você pode encontrar texto sobre este tema:

http://cumexapostolatusofficio.blogspot.com/2008/08/o-pensamento-de-bento-xvi.html

Portanto, aí está pelo menos uma heresia escancarada e rechonchuda proferida por Padre Ratzinger, que inclusive a continua sustentando, pois nunca se retratou dela e já como Bento recomendou a leitura deste seu livro herético pelo menos duas ou três vezes, além de permitir que fosse reeditado (a última reedição foi em 2005). Ou seja, o veneno continua sendo jogado nos fiéis. E você:

“(...) Eles negaram que fora da Igreja não há salvação. Não. Mas através de beijos no corão, de encontros como Assis eles dão um contra-testemunho desse dogma. São atitudes ambíguas e contraditórias”.

Anônimo disse...

Penso eu haver material suficiente para provar que desde Paulo VI os “papas” negam objetivamente o dogma “fora da Igreja não há salvação”. João Paulo II, inclusive, defende a tese da redenção universal, pela qual cada homem está unido a Cristo, ainda que não saiba. Mas isso não importa agora: perde-se a fé negando ou duvidando de um único dogma da Igreja. Bento nega vários, mas por hora eu lhe provo apenas um, que já é o suficiente. E sem fé é impossível agradar a Deus, logo, Bento é detestável aos olhos de Deus. E você:

“(...) A missa é sacríficio? Sim, UM PAPA DO PÓS-CONCÍLIO PROFESSARIA E REALMENTE ACREDITA QUE A MISSA É SACRIFÍCIO, mas por muitos anos a congregação romana da liturgia e as próprias missas papais enfatizaram ambiguamente o caráter comunal e de refeição da missa, ao melhor estilo luterano”.

Prezado, eles usam a palavra “sacrifício” no sentido de sacrifício eucarístico, e não no sentido pleno sempre ensinado pela Igreja. Isso está subentendido do novo ordo missae cujos comentários podem ser lidos no livro de Arnaldo Xavier. E ainda que eles cressem catolicamente, você não acha absolutamente grave que as “próprias missas papais enfatizaram ambiguamente o caráter comunal e de refeição da missa, ao melhor estilo luterano”? Para qualquer católico da idade média, isso seria considerado tranquilamente ato público de apostasia. Mas os católicos de hoje estão embriagados pelo absinto conciliar, mesmo aqueles que defendem a doutrina de sempre: fala-se que as missas “papais” são celebradas ao melhor estilo luterano como se um papa verdadeiro pudesse sustentar e promover a doutrina luterana. Não pode! Ora, ele é católico ou não é? E você:

“(...) se eu ver uma pessoa morrendo e não ajuda-la, posso ser acusado de negligência ou impiedade, mas não de assassinato. O mesmo acontece com os papas da igreja em crise - e de fato a igreja está em crise - eles podem ser acusado de ambiguidade, relativismo, mas heresia formal... eu não sei”.

Danilo, parabéns pelo final da frase: “eu não sei!”. Ela demonstra humildade. Eu penso que tais papas podem sim ser acusados de heresia formal, e não apoiado apenas em Inocêncio III, mas principalmente em Paulo IV, que na bula Cum Ex Apostolatus Officio ensinou o mesmo que seu antecessor, e foi além:

Anônimo disse...

“(...) Considerando a gravidade particular desta situação e seus perigos ao ponto que o mesmo Romano Pontífice, que como Vigário de Deus e de Nosso Senhor tem o pleno poder na terra, e a todos julga e não pode ser julgado por ninguém, SE FOSSE ENCONTRADO DESVIADO DA FÉ, PODERIA SER REDARGÜIDO, e dado que donde surge um perigo maior, ALI DEVE SER MAIS DECIDIDA À PROVIDÊNCIA PARA IMPEDIR QUE FALSOS PROFETAS e outros personagens que retenham jurisdições seculares não prendam lamentáveis laços às almas simples e arrastem consigo até a perdição inumeráveis povos confiados a seu cuidado e a seu governo nas coisas espirituais ou nas temporais; E PARA QUE NÃO ACONTEÇA ALGUM DIA QUE VEJAMOS NO LUGAR SANTO A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO, predita pelo profeta Daniel; com a ajuda de Deus para Nosso empenho pastoral, não seja que pareçamos cães mudos, nem mercenários, ou perversos e maus viticultores, DESEJAMOS CAPTURAR AS RAPOSAS QUE TENTAM DESOLAR A VINHA DO SENHOR e rechaçar os lobos distantes do rebanho".

Veja, Danilo, que neste trecho está repetida a mesma doutrina do Papa Inocêncio III (que disse que o papa herege poderia ser apontado como “já julgado”). Paulo IV vai dizer que o papa desviado (ou seja, nem precisa ser herege) pode ser “redargüido”! Ora, de acordo com o uso constante da teologia e também das definições dos dicionários redargüir significa, além de replicar e refutar também recriminar e acusar, entre outros sentidos. Você perguntou se os papas da igreja podem ser acusados de heresia formal...Paulo IV lhe responde: podem! Basta você estudar a história de muitos santos e bispos diante de derrapadas papais, chamemo-nas assim. Eles não aliviavam para o lado dos romanos pontífices, e em casos extremos chegavam até a ameaças de arrancar-lhes as chaves das mãos. Felizmente, nestes casos os papas sempre se retratavam e voltavam atrás, demonstrando não haver pertinácia. Mas agora...
E você:

“(...) Como eu disse, o sedevacantismo, na minha opinião, oferece uma pseudo solução. Ele permite encontrar uma suposta causa para a crise (não há Papa, pq os papas depois de 1965 são hereges). Mas como nós resolvemos isso? É uma situação complicadíssima”.

Anônimo disse...

Danilo, você tem razão quando diz que é uma situação complicadíssima. Mas erra no restante. Primeiro ao perguntar “como nós resolveremos isso?”. Prezado amigo, nós não resolveremos nada! Cristo disse que quando víssemos a abominação da desolação no lugar santo, ou seja, na cátedra de Pedro deveríamos fugir para a montanha. Ele não nos mandou resolver o problema. A Igreja não vive apenas uma mera crise, como você disse. Claro que ela vive uma crise também. Mas mais do que isso, ela vive uma VERDADEIRA PAIXÃO! Vilipendiada, cuspida, maltratada e abandonada, eis a nossa Igreja, e não pense que não escrevo isso sem lágrimas nos olhos! Estão destruindo nosso Igreja, prezado Danilo! Malditos sejam os modernistas. São eles quem afligem ao corpo místico de Cristo. Assim como Cristo foi crucificado e morto um dia pelos romanos, também nossa Igreja está recebendo o mesmo padecimento. Isso é doutrina católica, que a Igreja passaria pelas mesmas tribulações pelas quais Cristo passou. Veja como o missal de Dom Gaspar Lefebvre descreve o tema (versão aprovada por Pio XI):

“(...) Jesus termina sua vida com o sacrifício do Gólgota, logo seguido do triunfo de sua Ressurreição; e a Igreja, bem como sua divina Cabeça, SE VERÁ ENTÃO VENCIDA E CRAVADA NA CRUZ, embora ela ganhará a vitória decisiva. O corpo de Cristo, que é a Igreja, assim como o corpo humano, foi jovem num tempo, EMBORA NO FIM DO MUNDO TERÁ UMA APARÊNCIA DE CADUCIDADE (Santo Agostinho)”.

Fonte: http://doctorisangelici.blogspot.com/2010/10/missal-de-dom-gaspar-lefebvre-descreve.html

E veja também outras citações neste sentido:

http://doctorisangelici.blogspot.com/2010/11/citacoes-que-confirmam-paixao-da-igreja.html

E ainda poderiam ser citadas muitas outras passagens dizendo que Roma se tornaria a sede do anticristo. Santo Afonso ensina que a missa seria abolida, e muitos santos ensinam que o que retém o anticristo era a fé católica, o papa e a missa. Tudo isso nos foi tirado por Paulo VI, que promulgou uma missa protestante, portanto invalida, promulgou um rito de ordenação de bispos modernista, portanto inválido. A Igreja está enterrada, prezado Danilo, de acordo com as profecias que se cumprem!

Anônimo disse...

Claro que isso leva você a perguntar também onde o sedevacantismo ajuda nessa questão e a declarar que se “sentiria desesperado (ainda mais, como se não bastasse as missas afro que pipocam por aqui...) se adotasse o sedevacantismo, pois não há para onde correr”.
Ora, prezado Danilo, é claro que há para onde correr: para as montanhas! A solução neste momento desesperador é obedecer a Cristo, que nos manda fugir para as montanhas, onde o ar é fresco (a fumaça de Satanás não chega lá) e a vista panorâmica, possibilitando que vejamos e analisemos melhor a situação. Este é o primeiro passo. E o segundo? É saber que estamos no sábado santo, perdidos e desorientados, como os apóstolos ficaram, tendo constatado que Cristo estava morte e enterrado, o que para eles pareceria impossível, pois como pode estar enterrado o autor da vida? E como pode a autora da vida da graça, que é a Igreja através dos sacramentos, estar enterrada? É um mistério, que Deus permitiu, POR CAUSA DOS NOSSOS PECADOS, o mistério da iniqüidade, previsto pelo profeta Daniel. Resumindo: muito provavelmente a Igreja conciliar é a prostituta do Apocalipse, a abominação da desolação colocada no lugar santo. É a concretização da profecia de La Salete, onde é dito que o anticristo faria de Roma sua sede, e também do terceiro segredo de Fátima, que demonstra o papa morto, os bispos e os fiéis mortos.
Os sedevacantistas apenas constatam esta situação. Eles não são super-heróis e nem “sabichões”, “saberetas”. Cristo disse que deveríamos ficar atentos aos sinais. Estejamos, portanto, atentos aos sinais. O que não se pode, em minha opinião, é resolver a situação negando o óbvio. Você disse acreditar que o sedevacantismo é uma falsa solução, de modo que deveríamos procurar outra resposta para a crise. Mas qual resposta? A tradicionalista montfortiana? Ou a do Revmo. Padre Calderon? Em ambas se tem tão somente um papa de vitrine (expressão de um amigo meu) onde é dito ao mundo “habemus papam”, sim, nós temos papa, mas este não serve para absolutamente nada, somente para atrapalhar a fé católica. Ora, pela teologia católica o papa é sinônimo de magistério, principio de unidade dos cristãos. Um papa modernista ou como se queira chamá-lo (faz-se de tudo para camuflar suas heresias) não garante, de maneira nenhuma, a santa visibilidade que a Igreja e o papado devem ostentar ao mundo. Na prática, a posição tradicionalista defende diante dos ímpios, dos hereges e dos ateus a submissão a autoridade papal mas se estes se convertem diz a eles que não se pode obedecer ao papa...e o pior é que para isso se reinterpreta o magistério, que ensinou, por exemplo, ser impossível a Igreja e um papa promulgarem concílios ruins, missas ruins...é a infalibilidade negativa, aquela que diz que ainda que uma promulgação papal possa ser melhorada sobre determinados aspectos, ela não pode ser ruim em essência, não pode ser herética e nem heretizante. Ora, o Vaticano II e a missa nova são heréticos e/ou heretizantes, logo não podem vir da Igreja e muito menos de um papa legitimo.

Anônimo disse...

É por isso que São Pio X ensinou ser impossível discordar de um papa legitimo quando este se pronuncia por meio de seu magistério ou de seus tentáculos como por exemplo as rotas romanas:

“(...) Quando alguém ama o Papa, não pára para debater sobre o que ele aconselha ou exige, para perguntar até onde vai o estrito dever de obediência E PARA MARCAR O LIMITE DESSA OBRIGAÇÃO. Quando alguém ama o Papa, não objeta que ele não falou claro o bastante, como se ele fosse obrigado a repetir no ouvido de cada indivíduo a vontade dele, tão freqüentemente enunciada claramente, não só de viva voz, mas também por meio de cartas e outros documentos públicos; NÃO PÕE EM DÚVIDA AS ORDENS DELE sob o pretexto – facilmente invocado por todo o mundo que não quer obedecer – de que elas não emanam diretamente dele, mas dos que o rodeiam; não limita o campo no qual ele pode e deve exercer a vontade dele; NÃO OPÕE, À AUTORIDADE DO PAPA, A DE OUTRAS PESSOAS, NÃO IMPORTA O QUÃO CULTAS, QUE DIFEREM DE OPINIÃO COM O PAPA. Ademais, não importa o quão vasta é a ciência deles, falta-lhes santidade, POIS NÃO PODE HAVER SANTIDADE ONDE HÁ DESACORDO COM O PAPA”
(São Pio X, aos padres da União Apostólica, 18 de novembro de 1912, AAS 1912, p. 695).

É isso, Danilo. O restante de suas palavras eu comento depois, pois como você mesmo disse se comentarmos tudo o texto poderá ficar muito extenso, o que atrapalha a leitura.

Então reflitamos juntos naquilo que escrevi. Estou aberto a correção fraterna. Por ora é só.

Abraços,

Sandro de Pontes

Obs.: vamos chegar no ponto sobre a resolução da crise, como que o Bruno. Continuemos sem pressa!

Giovana Cunha disse...

Salve Maria!

Nossa que prazer me deu em ler os textos do Danilo, Sandro e Bruno Santiago! Como é bom ler coisas de quem usa a cabeça para pensar, graças a Deus isto ainda existe!

Não tenho tanto conhecimento como vcs, mas gostaria de fazer algumas pequenas observações:

1° Danilo quando vc afirma: "Se eu ver uma pessoa morrendo e não ajuda-la, posso ser acusado de negligência ou impiedade, mas não de assassinato"; a meu ver vc está errado, pq se vc vê uma pessoa morrendo vc pode ser acusado de cúmplice desta morte, e assim sendo sua natureza também é assassina ou covarde; ou as duas juntas! Apenas não sujou suas mãos!

Então penso ... um Papa que com certeza tem muito mais conhecimento da causa do que nós aqui neste Blog, e mesmo assim é cúmplice de heresias, torna-se herético e se a heresia em si parece meio "camuflada"; podemos então chamá-lo de apóstata; seja qual for a denominação o final é somente um: é um anátema!

Não sei ... corrijam-me se eu estiver equivocada! Até procurei o signigicado correto de "herético" e "apóstata" tempos atrás de tanto que fui denominada assim, rsrs!


2° Bruno, eu gostaria de responder esta sua pegunta mesmo não sendo sedevacantista:
"Só completando: além desta primeira pergunta sobre o que fazer, considerando que a alternativa sedevacantista seja verdadeira - qual seria o próximo passo?"

O próximo passo é ser obediente à Nossa Senhora e rezar continuamente e fervorosamente o Santo Rosário e esperar o Senhor que está voltando!

Pq diante de tudo isto que a Igreja passa, diante desta terrível crise, onde Ela não mais dá uma resposta Santa às heresias atuais; e crendo na Promessa de Cristo que as portas do inferno não prevalecerão contra ela; o que nos resta é rezar muito, como fizeram Nossa Senhora, São João e todos que estavam com eles nos dias em que Cristo desceu aos infernos!

Resta-nos a esperança, a fé e a caridade como está escrito nas Escrituras!

Salve Maria e meus parabéns a todos!

Giovana.

Danilo disse...

Sandro

Pelo que me escreveu acima não só o papado desapareceu, como a Igreja também. Os sacramentos, em breve, deixarão de existir pq não haverá um único bispo válido na Terra. Como as almas se salvarão sem eles?
Mesmo que subamos ao mais alto das montanhas, lá não encontraremos altar.
Como poderia Cristo permitir que tamanha abominação tomasse conta da Sua Igreja? Crises tivemos em todos os tempos e não foram fáceis. O colégio episcopal esteve, em tempos passados, arrasado pelas heresias e a Igreja renasceu. Basta lembrar o arianismo e as outras heresias da igreja antiga.
Subir às montanhas, nesse caso, me faz ter a sensação de ver Cristo em Sua paixão, já que a igreja, como você disse e eu concordo, passa por uma dolorosa paixão. Não estaríamos negando a Cristo por três ou mais vezes também toda vez que, vendo a Igreja neste estado, nos negamos a dizer "eu a conheço"?
Os modernistas fizeram um serviço muito bem feito. O que vemos agora, se me permite, é a consolidação de uma "profecia" predita pelo Papa Pio X, se não me engano, - os modernistas estão nos seminários. Naquela época ele estava certo.
Com Pio XII esses mesmos modernistas já eram "teólogos". João XXIII abriu as portas para a teologia desses modernistas. O colégio episcopal foi enganado pelas doces palavras desses modernistas, como Eva foi enganada pela serpente. Comeram do fruto "pastoral".
Com Paulo VI esses modernistas se tornaram bispos e alguns até cardeais.
Foi a consolidação de um plano muito engenhoso, embora não articulado formalmente (eu acho...), de subversão da fé.
E eles conseguiram. A Igreja foi amarrada, despida das suas vestes e torturada pelo modernismo e pela ambiguidade proposital dos textos modernistas. Disso não há dúvida.
Mas se estamos no sábado santo, então há esperança. O domingo - dia do Senhor - ainda não chegou.
Para um sedevacantista, o domingo não chegará. Para um tradicionalista ou conservador, o domingo da ressurreição está próximo (entenda que é no tempo de Deus, diferente do nosso).
E vemos isso claramente. Joseph Ratzinger foi um teólogo muito complicado no passado. Recentemente, como coloquei no blog, foi levado a publico um texto onde ele defendia o fim do celibato. Hoje, contudo, como Bento XVI ele é pró-celibato e já deu várias declarações sobre essa prática. Houve uma mudança bem interessante na cabeça de Ratzinger.
Os problemas teológicos que Dom Tissier encontrou nos livros do jovem teólogo são graves e realmente pediriam uma "mea culpa" do Papa, uma correção sobre sua obra prévia.
Isso provavelmente não virá. Mas veja o que o Papa (ou Joseph Ratzinger, para os sedevacantistas) está fazendo.

(...) continua abaixo

Danilo disse...

Há sim uma contra-revolução se iniciando. É lenta, mas os modernistas levaram quase 100 anos preparando essa crise, por que acharíamos que ela seria solucionada rapidamente?
Seus argumentos realmente são consistentes, mas um tanto frios, com todo o respeito. É como um olhar sem esperança. Não que eu seja um romântico meloso, longe disso. Mas tem algo que, embora eu ainda não consiga explicar exatamente o que é, não me deixa ficar no sedevacantismo. Tem uma peça faltando, na minha opinião, que faz o quebra-cabeça sedevacantista incompleto e, assim, perigoso.
Acredito ainda que o sedevacantismo seja também mais um instrumento terrível dessa verdadeira paixão da Igreja. Se por um lado os modernistas a torturam e crucificam, o sedevacantismo nos faz nega-La três ou mais vezes. "Esta não é a Igreja". Esta é a Igreja, surrada e maltratada, quase irreconhecível. Mas é a Igreja de Cristo fora da qual não existe salvação. Ainda que vários bispos, ou mesmo o Papa, digam coisas diferente, eles passarão.
Se Bento XVI não é Papa por que ele foi eleito? O mais ortodoxo do colégio de cardeais, alguém que iria certamente reabilitar a missa tradicional (os cardeais no conclave conheciam as posições de Ratzinger) e trabalhar pela restauração de muita coisa perdida no catolicismo. Por que justo ele? Se o plano é manter Roma como Sé do Anticristo, então foi um movimento estranho. Outros nomes no colégio cardinálicio poderiam conduzir melhor a Igreja para o abismo (Carlo Maria Martini, por exemplo). Por que ele? Talvez para capturar, através de uma engenhosa trama, os tradicionalistas e conservadores, dando-lhes uma falsa noção de ortodoxia. Seria essa uma teoria bem ao gosto dos sedevacantistas. Ratzinger se elege não para reconstruir a fé católica, mas para derrubar os últimos pilares da resistência. Ele enganaria a Fraternidade São Pio X e todos os outros.
Então por que ele estaria mudando o colégio cardinálicio? Por que ele estaria, na medida do possível, nomeando bispos mais ortodoxos que seus antecessores? Ele está dando passos concretos, embora tímidos. Não é aparência. Ele abriu a discussão do Concílio, o carro-chefe dos modernistas.
Todos esperavam um Papa modernista, até a CIA ficou surpresa e não soube explicar como o alemão quase aposentado foi eleito. Providência ou o quê?
Podemos e devemos firmemente repudiar os atos equivocados de um Papa. Como fizeram os santos no passado. Eles não abandonaram Pedro, mas o corrigiram. Eles não tomaram para si as chaves, apenas a sacudiram na face do pontifice para lembra-lo da sua função. Nos cabe essa missão, na minha opinião. Apontar aos bispos e até ao Papa o que está errado e rezar. Só assim a pedra será rolada do túmulo.
Eu acredito que é isso. Creio que não o satisfará. Mas tudo bem.

Anônimo disse...

Prezado Danilo, salve Maria.

Acabo de ler sua última mensagem e a partir de agora não tenho mais nada a dizer sobre o assunto.

Muito obrigado pela amizade demonstrada. Saiba que tem um amigo aqui em Andradas.

Fique com Deus e com Nossa Senhora,

Sandro de Pontes

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...