terça-feira, 13 de maio de 2014

Galantino e a nova cara da Conferência Episcopal Italiana


Em 30 de dezembro de 2013 o Papa Francisco nomeou Mons. Nunzio Galantino, bispo de Cassano all'Jonio, como secretário "ad interim" da Conferência Episcopal Italiana (CEI).
Segundo os jornalistas especializados em "Vaticano", Dom Galantino representa tudo aquilo que um bispo deve ser, segundo a visão do Papa Francisco, e por isso foi colocado como homem forte do Papa dentro da estrutura demasiada estreita da Conferência. As palavras abaixo traduzem um pouco o pensamento do bispo de Cassano all'Jonio, volto abaixo.


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 A mudança do Galantino para a CEI - arquivem a era Ruini.

(formiche - Matteo Matzuzzi | Tradução e destaques Blogonicus) - Fala de reposicionamento "sobre as expectativas espirituais, morais" o secretario geral da CEI, mons. Nunzio Galantino. Numa entrevista publicada no Quotidiano Nazionale, o bispo de Cassano allo Jonio lança os fundamentos para uma mudança: "O meu desejo para a Igreja italiana é que ela possa falar sobre qualquer assunto, sobre padres casados, da eucaristia aos divorciados, da homossexualidade, sem qualquer tabu. Partindo do Evangelho e explicando as suas próprias posições".

Uma linha oposta a Ruini e Bagnasco

Uma linha diametralmente oposta àquela das últimas duas décadas, marcadas pelo comando de Camillo Ruini e seguida por Angelo Bagnasco. Galantino critica explicitamente a conduta da gestão até então: "No passado estávamos concentrados exclusivamente sobre o não ao aborto e à eutanásia. Não pode ser assim, no meio há uma existência que se desenvolve". Muito fácil de entender a qual passado ele se refere, próprio da era ruiniana, culminada com o ativismo de 2005 contra o referendo sobre a bioética.

"Não se pode falar apenas sobre o aborto e a eutanásia".

O secretário da conferência episcopal italiana retoma a palavra pronunciada pelo Papa durante a entrevista concedida em agosto (2013) à Civilitá Cattolica; conceito repetido em outras conversas com a mídia e no discurso público: a Igreja não pode se focar apenas sobre aqueles temas, entrincheirando-se na defesa daqueles princípios considerados não negociáveis. "Eu não me identifico com os rostos inexpressivos daqueles que rezam o Rosário fora das clínicas que praticam a interrupção da gravidez, mas com os jovens que se opõem a esta prática e se esforçam para a qualidade das pessoas, pelo seu direito à saúde, para o trabalho".

A Reforma do Estatuto da CEI

Quanto a reforma do Estatuto, Bispo Galatino já expressou dúvidas de que a próxima reunião (em pouco mais de uma semana) possa aprovar as novas regras.  "Parece que a opinião da maioria dentro do episcopado é envolver a base para a escolha da cúpula, deixando ao Papa a prerrogativa de nomeação, com base em uma lista de candidatos", disse o bispo da pequena diocese calabresa recordando que "o Santo Padre pediu-nos a pensar sobre o método de eleição do presidente pelos bispos". A resposta de alguma forma confirma o que foi dito no último sábado, no Corriere della Sera, pelo cardeal Bagnasco.

Galantino a Voz do Papa?

Alguns observadores notaram que a linha de Galantino parece ser a linha que Francisco pretende dar ao episcopado italiano. A prova seria um profundo entendimento entre os dois, com o primeiro sendo visto com frequência na Santa Marta (diferentemente do presidente da CEI). Um outro indício foi a decisão do Papa de nomear Galantino ad quinquennium (por cinco anos) como secretário da CEI depois de período inicial "ad interim". Entretanto, o pontífice viajará à Cassano allo Jonio, diocese comandada pelo Mons Galantino, no próximo 21 de junho.

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O que pensar? Em primeiro lugar é fácil descobrir como Francisco, tendo a sua disposição quase 200 bispos italianos, foi escolher Galantino como secretário e 'sua voz' dentro da CEI. Ao ser elevado ao episcopado, em 2011 por Bento XVI, o então padre Nunzio Galantino pediu que todo o dinheiro que as pessoas, governos e paróquias iriam gastar com presentes para ele fosse revertido aos pobres. Bingo! Atingimos o mantra bergogliano!

Não! Antes que digam ou pensem (acho que você pensou, não pensou?) eu não desmereço tal atitude. Pelo contrário, acho que o padre Nunzio agiu de forma justa, evangélica e bonita! Que bom seria se todos os bispos fizessem o mesmo.

O grande problema é que Francisco só se guia por isso. Nós sabemos que há bispos que são excelentes teólogos, mas não são carismáticos com a imprensa; outros são ótimos administradores, mas relaxados no trato com os padres ou religiosos, etc. Existem também aqueles bispos que foram "talhados" para cargos políticos dentro da Igreja, mas isso não é essencialmente algo negativo.

Bagnasco e Ruini demonstram liderança, certeza e coerência. São hábeis com a mídia, sabem entregar a mensagem de forma precisa. O que está acontecendo com o advento da era franciscana é que bispos capazes como eles são vistos com desconfiança quando não com preconceito. O que sempre foi considerado uma qualidade, agora é um defeito. Isso é algo típico do pensamento vitimista latino-americano.

Quando os bispos se reúnem para eleger seu presidente ou formar uma lista de candidatos, eles procuram um líder não só espiritual e doutrinal, mas também um líder político. Eles não querem, como presidente, São João Maria Vianney.

Colocar Dom Galantino como secretário (e desconfio que será promovido a Vice-Presidente) é um erro. A entrevista acima, ou melhor, os trechos que aqui traduzimos denotam que, mesmo sendo um pastor humilde, lhe falta o tato político. Estrago semelhante vemos em Roma, com seu bispo.

Alguns jornalistas afirmam que as escolhas pessoais de Francisco seguem uma linha clara que é neutralizar o potentíssimo cardeal Bagnasco. O texto acima também sugere o mesmo. Penso que é possível, mas acredito que, se for isso mesmo, será um dos maiores erros deste pontificado, dada a expressão que a CEI tem na Igreja universal e seu lugar dentro do plano político da Itália e da Europa. Enfraquecê-la é um ato temerário, sobretudo numa Europa onde o cristianismo capenga!

Aqui vai uma dose gelada de Pura Especulação - Acredito que no conclave de 2013 o colégio cardinalício italiano se partiu em dois (ou três) pedaços. O primeiro, comandado por Bagnasco, seria dos cardeais residenciais, ou seja, aqueles que comandam ou comandavam alguma diocese e pelo curial Piacenza. O segundo, liderado por Vallini (vigário de Roma) e Ré (Vice-decano), elegeu Bergoglio e foi formado por cardeais curiais italianos. Isso explicaria os constantes ataques do Papa Francisco aos integrantes do primeiro bloco, com o decesso de Piacenza da Congregação para o Clero, a elevação inesperada de Bassetti ao cardinalato (conhecido por ser um adversário de Bagnasco dentro da CEI), o desprestígio da Sé de Veneza no último consistório e a remoção de Bagnasco de quase todas as congregações na Cúria Romana, sobretudo a importantíssima Congregação para os Bispos que nunca, em sua história, ficou sem a presença do líder dos bispos italianos em seu quadro de membros. Na próxima assembleia geral da CEI será o discurso inaugural de Francisco que os bispos italianos irão ouvir e não, como é de costume, o do presidente Bagnasco.

Rostos inexpressivos rezando contra o aborto!
Voltando a Galantino, não deixa de nos surpreender as palavras duras que o bispo dispara contra "os rostos inexpressivos daqueles que rezam o Rosário fora das clínicas que praticam a interrupção da gravidez". O prelado não ousa usar a palavra "aborto", preferindo um termo genérico.

O que podemos dizer da expressão "rostos inexpressivos"? Certamente é um ataque, ainda que não intencional, a todos os padres e bispos, religiosos e leigos que se levantam corajosamente e chamam o crime pelo nome - aborto - enquanto rogam aos céus pelas almas inocentes, pelas mulheres e médicos que praticam o ato monstruoso.

São "rostos inexpressivos" porque alguns prelados perderam a capacidade de ver com os olhos da misericórdia! São "rostos inexpressivos" porque seus corações expressam amor que vai diretamente ao Pai e não aos holofotes das emissoras de TV ou aos flashes do jornal - eles não estão ali para agradar ao mundo, ao bispo Galantino ou ao Papa Francisco!

Para concluir, porque já me alonguei demais, a nomeação de Galantino e seus pronunciamentos, bem como o que vimos até agora, nos ajudam a compreender o caminho da Igreja no pontificado de Francisco. Sabemos quem tem vez e quem não tem. Pessoalmente acredito que a Igreja, que já sofre a sua paixão externa, viverá uma dolorosa paixão interna, com a destruição da estrutura através de nomeações equivocadas e promoções desastradas. Acredito que Dom Galantino é um bom bispo, um bom pastor, mas não serve para cargos administrativos. É só a minha opinião, que não tem impacto nas nomeações, mas que ao ser formulada ajuda a digerir o que vem por ai. É claro que um Engov também ajuda!

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Danilo creio que o Papa Francisco que já figura entre os mais importantes da história eclesiastica,esta coberto de razão em nomear o Bispo Galantino a cei , ors ora o papa e soberano pontífice da igreja ele tem o direito de nomear quem ele quer sem se importar se vai agradar A ou B, compreendo a posição do amigo que como conservador não vai com a cara de francisco.mas sejamos francos o papa deve ser coerente, ele deve nomear para os cargos de confiança pessoas que comungam de suas idéias, sinto falar caro danilo mas o conservadorismo da era Woitila Ratzinger morreu em 28 de fevereiro de 2013, a renuncia de bento XVI foi a prova de que o modelo conservador de governo da Igreja entrou em colapso mortal,não ha salvação não ha milagre,A igreja do terceiro milenio devera ser popular ou seja bispos e padres que estejem no meio das ovelhas defendendo a doutrina obviamente mas educando, sem moralismos estereis,não existe mais a cristandade n;ao existe mais a igreja imperial, a linguagem do homen de hoje é a linguagem do perdão só depois de perdoado as pessoas vão entender o que é a doutrina,se não fosse assim cristo não perdoaria a mulher adultera mas lhe daria uma aula de catequese, o senhor disse Vá E NÃO PEQUE MAIS ,bem mas voltando as nomeações do papa nomes como Ruini,Begnasco,piacenza,Burke e outras figuras ja estão fadados ao ostracismo serão daqui a 20 anos ou menos apenas uma nota de rodape na história, Luis Augusto

José Santiago Lima disse...

Belezinha Luis Augusto, deixe-me ver se entendi: segundo você a Igreja "conservadora" da era Woitila Ratzinger morreu em 28 de fevereiro de 2013 (imagina a Igreja de Pio XII, Pio V ou Leão Magno?) e que devemos alabar a "nova igreja moderna" (a redundância é proposital) "sem moralismos estéreis"? Obrigado mas se até hoje não participo da "universal", "mundial", "bola de neve" o qualquer outra das mais de 55.000 modernas e atuais "igrejas" protestantes é porque pretendo continuar a fazer parte de uma Igreja "velha", cuja diferença está exatamente no fato de existir há 2 mil anos e ter sido fundada pelo próprio Deus feito homem.

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