Com um velho-novo pálium Francisco celebra São Pedro e São Paulo sem batina |
Durante a solenidade de São Pedro e São Paulo no Vaticano, quando o Papa tem a oportunidade de impor o pálium aos novos arcebispos nomeados ou transferidos para uma sede metropolitana, é possível verificar duas mudanças significativas no vestuário pontifício.
A primeira e mais evidente diz respeito ao próprio pálium do Papa, que foi restaurado ao formato antigo. João Paulo II, João Paulo I, Paulo VI, João XXIII, Pio XII, etc., todos recebiam um pálium idêntico aquele usado pelos arcebispos, de lã estreita e com cruzes pretas. Bento XVI foi o primeiro Papa na história recente a mudar seu pálium. O primeiro pálium dado ao Papa Ratzinger, em abril de 2005, foi uma criação totalmente despropositada do arcebispo Piero Marini, então mestre de cerimônias, baseado no que ele chamou de "pálium primitivo" (foto ao lado). Se tratava de uma longa peça de lã, que corria pelos ombros até os pés; inclusive foi verificado que Marini tinha feito o novo pálium para o arcebispo de Milão Cardeal Tettamanzzi e por isso a vestimenta ficava curta em Bento XVI.
Depois de alguns anos e, especialmente, com a troca de cerimoniário, Bento XVI pode restaurar um pálium mais parecido com o original, mas com cruzes vermelhas e ligeiramente mais grosso. O "pálium primitivo" de Piero Marini foi deixado pelo Papa Bento XVI na tumba do Papa Celestino V, o último papa a renunciar ao pontificado, até então.
Bento XVI manteve um pálium semelhante ao antigo, porém as diferenças, segundo seu cerimoniário, seriam para ressaltar as diferenças entre o ofício universal do Papa e o daquele exercido localmente pelos arcebispos metropolitanos. Introduziu-se ai uma "teologia do pálium", que não existia até então.
A teologia de Francisco é diferente, como todos sabem. Além de partidário de uma simplificação litúrgica, sem "triunfalismos", o papa argentino já demonstrou que é apenas um "bispo de Roma", ou seja, um entre iguais. O retorno do pálium antigo é um daqueles paradoxos em que um tradicionalista se encontra, e mostra também que o tradicionalismo - ou qualquer outro nome que se queira dar ao movimento - não é essencialmente restauracionista.
Tenho certeza que, na atual conjuntura, essa restauração feita por Francisco não será aplaudida pelo orbe tradicional. E não o será porque, diferentemente de um ou outro movimento restaurador, o que se busca é significado dentro de um gesto. O pálium moderno de Bento XVI significava uma diferenciação entre o Papado e o bispado ordinário, o que poderá significar a "restauração" promovida por Francisco hoje? Pode significar uma mudança de vestimenta ou, como eu prefiro acreditar, uma configuração ao modelo democrático, do primus inter paris na administração católica. Isso se torna ainda mais significativo hoje, com a presença de delegados do patriarcado ortodoxo de Constantinopla na solenidade. Mas deixo para o leitor decidir entre uma posição ou outra.
A segunda mudança nos remete a um post - muito criticado por sinal - que fizemos anteriormente neste blog. O Papa Francisco novamente deixou de usar a batina por baixo das vestimentas litúrgicas. Como havíamos previsto com precisão milimétrica não se tratou de uma única exceção, mas virou a moda do Papa. Um pequeno abuso litúrgico, feito por aquele que deveria ser o primeiro a cumprir as leis que emanaram da própria cátedra petrina, que se consolida. Não retomaremos os argumentos que apresentamos anteriormente e recomendamos a leitura dos outros posts.
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