***
Em 2013, MS registrou um suicídio de índio a cada cinco dias
Edmir Conceição
O Conselho Missionário Indigenista (CIMI) divulgou nessa manhã, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, relatório sobre a violência contra os povos indígenas, com ênfase para o que classifica de “omissão” em relação à saúde indígena e os casos de suicídios de guarani-kaiowás na Reserva Indígena de Dourados.
De acordo com o relatório, em relação à saúde indígena, a situação “é de total omissão. A constatação de que a cada 100 indígenas que morrem no Brasil 40 são crianças torna inegável o fato de que está em curso uma política indigenista genocida”, diz Dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu e presidente do CIMI.
Sobre a ocorrência de suicídios, dados oficiais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), divulgados em maio deste ano pelo CIMI, mostram 73 casos em 2013, uma média de um suicídio a cada cinco dias. Este índice configura-se como o maior em 28 anos, de acordo com os registros do Conselho Indigenista. Dos 73 indígenas mortos, 72 eram do povo Guarani-Kaiowá, a maioria com idade entre 15 e 30 anos.
Segundo o relatório do CIMI, no período de 1986 a 1997, foram registradas 244 mortes por suicídio entre os Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul. O número praticamente triplicou na última década. De 2000 a 2013 foram 684 casos.
Dividida em quatro partes, o relatório divulgado hoje traz no primeiro capítulo as seguintes categorias: omissão e morosidade na regularização das terras indígenas; conflitos relativos a direitos territoriais; e invasões, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio.
A segunda parte apresenta as violências cometidas “contra a pessoa”, dentre elas constam assassinato, ameaça de morte, abuso de poder, homicídio culposo, lesão corporal dolosa, racismo e discriminação e violência sexual, dentre outras.
Já o terceiro capítulo traz dados sobre as violências causadas por omissão do poder público, como desassistência geral e desassistência nas áreas de saúde e educação, morte por desassistência, mortalidade infantil e suicídio. E, por último, há informações sobre os povos indígenas que vivem em situação de isolamento ou de pouco contato no Brasil e as principais ameaças a que estão sujeitos.
***
Antes de tudo é preciso saber quem ou o que é o CIMI. Nas palavras do próprio conselho, lemos:
O Cimi é um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que, em sua atuação missionária, conferiu um novo sentido ao trabalho da igreja católica junto aos povos indígenas.Criado em 1972, quando o Estado brasileiro assumia abertamente a integração dos povos indígenas à sociedade majoritária como única perspectiva, o Cimi procurou favorecer a articulação entre aldeias e povos, promovendo as grandes assembleias indígenas, onde se desenharam os primeiros contornos da luta pela garantia do direito à diversidade cultural.
Então vemos que em nenhum momento o CIMI, embora diga-se "missionário", fala em missão no sentido daquelas "atividades características com que os pregoeiros do Evangelho, indo pelo mundo inteiro enviados pela Igreja, realizam o encargo de pregar o Evangelho e de implantar a mesma Igreja entre os povos ou grupos que ainda não creem em Cristo" (cf Decreto AD GENTES, 6). Não! O CIMI é um órgão criado para preservar a "alteridade indígena em sua pluralidade étnico-cultural e histórica e a valorização dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas", inclua-se ai a sua religião pagã.
Todas as nações do novo mundo (América) e do novíssimo mundo (Austrália) tiveram problemas em lidar com as comunidades nativas, sobretudo no período de colonização e posterior industrialização. Os povos nativos sempre foram colocados à margem do processo e isso não é novidade ou um produto exclusivo da sociedade brasileira.
Entretanto, o que nos afeta - e isso sim parece uma jabuticaba antropológica, ou seja, só existe aqui - e a insistência do governo e de órgãos não governamentais (ONGs) ou para-governamentais, como o CIMI, em ampliar e institucionalizar a marginalização dos povos indígenas, deslocando essa parcela da população da esfera normal da sociedade. Os povos indígenas brasileiros, hoje, são uma espécie de "canário humano", vivendo enjaulados em suas reservas imensas, à margem da sociedade e alienados das obrigações a que todos nós, meros mortais não-indígenas, estamos submetidos.
Os índios brasileiros sãos um dos maiores possuidores de terras do país. Suas reservas são vastíssimas e não podem ser fiscalizadas pelo poder público, constituindo um refúgio - eu prefiro o termo "gaiola" - para as comunidades que lá habitam, para grileiros e traficantes internacionais de drogas e armas. Para se ter uma ideia, o estado de Roraima conta com 46% do seu território formado por terras indígenas que, em extensão, são maiores do que Portugal.
O CIMI garante que a cultura desses povos permaneça intacta. E agora apresenta um relatório culpando o poder público pela mortandade de índios. A primeira culpada é a própria CNBB e os seus padrecos de passeata e seus missionários políticos.
Claro que o poder público também tem culpa, mas essa culpa se origina da mesma fonte onde bebem os ideólogos do CIMI e os antropólogos da FUNAI - a estúpida necessidade de preservar a cultura indígena em todo o seu aspecto, inclusive aquele que é claramente primitivo e violento.
Muitos índios, sobretudo os mais jovens e recém-nascidos, morrem não por falta de atendimento, mas por culpa da própria cultura indígena que o CIMI tenta a todo custo manter intacta. Eis um relato que julgo muito interessante:
O jornalista australiano Paul Raffaele manifestou indignação, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) em 29/11/2012, com o que chamou de tolerância do governo brasileiro à prática do infanticídio em tribos indígenas isoladas.Durante cerca de duas semanas de convivência com os índios Suruwahás, no Sudoeste do Amazonas, para produzir o documentário Amazon's Ancient Tribe - First Contact, Paul constatou que o grupo incentiva o assassinato de recém-nascidos deficientes ou filhos de mães solteiras, por acreditarem que são maus espíritos.O jornalista afirmou que a Funai, e consequentemente o governo brasileiro, faz vista grossa à prática e que essa tolerância escapa de sua compreensão.- Acredito que a Funai seja o órgão errado para administrar os territórios indígenas. O departamento está cheio de antropólogos que querem proteger a pureza cultural dos índios, mesmo quando isso envolve enterrar bebês vivos ou abandoná-los na floresta para serem comidos vivos por onças e outras feras - destacou.Paul Raffaele disse discordar da política da Funai e do governo brasileiro de tentar manter tribos indígenas isoladas do resto da sociedade. Segundo ele, ao agirem assim, concordam e aprovam com uma das piores violações aos direitos humanos em todo o mundo.- Não consigo entender por que não há, no Brasil, uma grande discussão a respeito do assunto. Como o povo brasileiro aceita as regras desses antropólogos? Não conheço nenhum outro país no mundo que aceite crianças enterradas vivas - ressaltou.O jornalista, que trabalha há cerca de 50 anos visitando tribos isoladas, disse que, na maioria dos locais em que esteve, os jovens queriam ter contato com o mundo externo para buscar formação educacional e conhecimento. Raffaele afirmou que a Funai desencoraja esse tipo de atitude e incentiva os índios a permanecer na "Idade da Pedra".- Eles não perguntam o que os índios, principalmente os jovens, querem. Eles dizem a esses jovens o que devem fazer. Fecham as tribos no que eu chamo de museu antropológico vivo - disse.
Não só a FUNAI, mas o CIMI e a CNBB desejam que os índios continuem na idade da pedra.
Mas também precisamos ter um cuidado com os números divulgados pelo CIMI. Quando se lança um relatório como esse temos a impressão que os índios gozam de uma "primazia da dor". Enquanto em todo o ano de 2013, segundo o CIMI, 73 índios cometeram suicídio, 26 brasileiros não-índios se mataram por dia no mesmo ano.
Os índios, a margem da sociedade, são presas fáceis para o alcoolismo e a dependência de drogas. Não recebem estudo ou assistência médica adequadas, sobretudo pela grande dificuldade de encontrá-los em suas
E alguns índios ainda desenvolvem uma gana pelo crime. Como recentemente se viu e foi reportado em vários lugares, índios cobrando pedágio para que motoristas pudessem passar. Ou ainda índios acertando policiais com flechas e não sendo punidos, afina é uma "manifestação da cultura indígena que deve ser respeitada, não é mesmo?". São uma categoria paradoxalmente acima e abaixo dos cidadãos comuns. São imunes ao código penal, mas não tem os mesmos direitos que lhes garante a constituição nacional, exceto a posse obscena de vastos territórios. E tudo isso sob os aplausos coniventes de Dom Erwin Krautler, da CNBB, do CIMI e da FUNAI.
Sim, existe violência contra os povos indígenas, isso não se nega. Mas a violência maior vem daqueles que julgam proteger os índios - é uma violência institucionalizada por uma antropologia rasteira e sádica. Dom Erwin Krautler alerta exageradamente e de forma sensacionalista para "uma política indigenista genocida", mas não percebe que a única política genocida é aquela praticada pelos seus compadres do CIMI.
As comunidades indígenas de outros países se comportam de forma diferente, como salientou o jornalista australiano. Preservam suas tradições e costumes, mas não estão alienadas do convívio social ou tratadas de forma especial. São cidadãos plenos dos seus respectivos países. No Brasil, por sua vez, há esse casamento tenebroso entre os antropólogos da FUNAI - que garantem que os índios vivam no paleolítico - e os progressistas do CIMI/CNBB que, traindo a sua missão evangelizadora, permitem que Tupã ainda reine na mata.
E depois se espantam quando o índio se mata! Num mundo sem uma Boa Nova ou uma mensagem de esperança, onde a vida não tem nenhum valor sagrado, é só isso que resta!