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Tenha a santa paciência! |
Comecei a crer que a expressão "esquerda caviar", usada na política brasileira para designar os marxistas que afirmam lutar pelos pobres, mas que nunca deixam a vida privilegiada da classe média-alta, é aplicável também aos clérigos. E por que não seria, não é mesmo? Temos hoje uma "esquerda caviar de sacristia", que se pinta de humilde, mas que não deixa seus luxos, que se faz de pastor, mas é a primeira a cravar os dentes na jugular da ovelha.
Eis que para espanto geral da nação o cardeal Braz de Aviz lança um livro intitulado "Dalle periferie del mondo al Vaticano" (Das Periferias do mundo ao Vaticano).
É evidente que não li o livro, que se propõe biográfico e reflexivo ao mesmo tempo, mas li algumas linhas do entrevistador e co-autor Michele Zanzucchi. Na entrevista de Zanzucchi, é possível ver que o livro busca aproximar Braz de Aviz de Francisco, a começar pela capa que além do título sugestivo, baseado na expressão "periferia do mundo" muito usada por Francisco, traz o cardeal brasileiro com uma cruz peitoral de madeira e um vago olhar de piedade. Sem dúvida muito franciscano.
O livro também busca distanciar Braz de Aviz de Bento XVI, afirma Zanzucchi que o cardeal Brasileiro, no ano e meio que trabalhou junto ao papa alemão, só o viu duas vezes e que com Francisco a proximidade é muito maior. Afirma também que a investigação contras as freiras tresloucadas dos EUA estava longe do Papa (Bento XVI), dando a entender que Ratzinger não sabia o que estava acontecendo. Mas logo diz que com Francisco há uma colaboração maior, com o Papa pedindo ajuda o tempo todo aos seus cardeais.
Pela entrevista, pelo título do livro e pela sua capa, embora não o tenha lido, posso dizer que a peça é de um oportunismo exemplar! Zanzucchi tenta transformar o cardeal brasileiro numa espécie de sucessor natural de Francisco, afirmando que Braz de Aviz: [é] um homem do povo, que está no meio do povo, nascido da comunidade, que vive na comunidade, que vive como um pastor em meio ao rebanho. Mesmo como cardeal é assim, e tem uma ligação especial com o papa.
Analisando o histórico biográfico do prelado, vemos que nunca viveu nas "periferias" do mundo, nem passou privações. É nativo do Paraná, um dos melhores estados pra se viver, e desde os 11 anos frequentou o seminário - o que lhe garantiu não só boa educação, mas comida na mesa todos os dias e roupas limpas.
Estudou Filosofia na cidade de Curitiba no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos e na cidade de Palmas, interior do Paraná. Concluída a Filosofia seguiu para Roma onde cursou a faculdade de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Retornando ao Brasil foi ordenado padre por Dom Romeu Alberti na Catedral de Apucarana aos 26 de novembro de 1972. Durante seu sacerdócio exerceu alguns encargos pastorais: pároco de algumas paróquias; diretor espiritual e reitor do Seminário Maior de Apucarana(em 1984 e 1985) e de Londrina (em 1986 a 1988); diretor espiritual do Seminário do Ipiranga, em São Paulo; foi membro do Conselho de Presbíteros, do Colégio de Consultores e Coordenador geral de pastoral da Diocese de Apucarana. De 1989 a 1992 fez o doutorado em Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Lateranense em Roma. Nos anos de 1992 a 1994 foi reitor e professor de Teologia Dogmática no Instituto Paulo VI de Londrina e pároco da Catedral Nossa Senhora de Lourdes de Apucarana. (fonte)
Como se vê o cardeal nunca foi um padre de aldeia, um pároco de periferia ou favelas, nem mesmo missionário na amazônia. Pelo contrário, o agora cardeal ocupou basicamente cargos administrativos, sendo pároco apenas por 12 anos. Esse Braz de Aviz piedoso e próximo aos pobres só existe na ficção forçada de Zanzucchi. E se levamos o discurso do Papa Francisco a sério, devemos nos lembrar que o pontífice alertou aos novos bispos, em 2013, contra um modelo episcopal de “homens ambiciosos, esposos de uma Igreja à espera de outra mais bela, mais importante, mais rica". Braz de Aviz foi um bispo que claramente subiu na carreira, saindo de bispo auxiliar em Vitória, passando pela diocese de Ponta Grossa, pela Arquidiocese de Maringá, onde ficou apenas um ano, depois assumiu a Arquidiocese de Brasília antes de subir inesperada e inexplicavelmente para o Vaticano! É ou não é um exemplo de um "esposo de uma Igreja à espera de outra mais bela, mais importante, mais rica"? Zanzucchi tenta apresentar Braz de Aviz como próximo bispo de Roma.
Braz de Aviz não vem da "periferia do mundo", mas é um exemplo do bispo-príncipe que sempre trata a sua diocese como um feudo. Quem acompanhou seu episcopado em Brasília sabe do que ele é capaz quando é contrariado. Quando partiu para Roma vimos muitas demonstrações de alívio dos seus antigos diocesanos; entretanto é em Roma que o cardeal demonstrou a verdadeira face que nada se parece com a "pietá" da capa do livro de Zanzucchi.
Em Roma, Braz de Aviz participa do processo amais aviltante contra uma congregação realmente pobre, verdadeiramente humilde e que transpira o odor da ovelha de fato. Contra os Franciscanos da Imaculada o "piedoso" Braz de Aviz lançou toda a sua virulência.
É algo típico da esquerda caviar, seja ela política ou eclesial, se disfarçar de algo que não é e mentir descaradamente sobre a sua história pregressa e seus objetivos futuros, tudo camuflado por uma aura de piedade e bom mocismo politicamente correto. É no gabinete do político ou no escritório do cardeal que se vê como as coisas realmente são. E não são nada bonitas.