No pescoço apenas um colar romano, sem o sinal da batina envolvida pelo amito |
Ao longo da história recente da liturgia latina algumas mudanças foram introduzidas de forma descompromissada e sutil. O "clergyman" apareceu no universo católico ainda na década de 40, sem a chancela oficial da Igreja, que determinava que todos os clérigos deveriam usar a batina e os religiosos o seu hábito.O clergyman era usado por uma minoria de padres "avant-garde" até que seu uso foi se disseminando entre o clero; hoje, contudo, é difícil encontrar um padre que use o clergyman, pois a maioria prefere manga de camisa ou até mesmo camiseta, algumas coladas ao corpo e de gosto duvidoso.
As regras do guarda-roupa pontifício são menos flexíveis e mais difíceis de serem atualizadas e a figura do Papa ficou protegida das inovações. Sobretudo porque a batina ainda é, pelo menos ma teoria, o vestuário ordinário do clero e seria muito incoerente o Papa contradizer a própria lei que emana da Sé Petrina. A batina totalmente branca é um simbolo do Papado.
Na missa de Pentecostes de hoje o Papa Francisco decidiu não usar a batina por baixo das vestimentas litúrgicas. Mais uma vez o Papa argentino escolhe romper com alguma tradição católica.
Aqui não estou protestando. Já me dei por vencido com o Papa Francisco e sei que cada pequeno costume, cada pequena tradição será flexionada pelo atual Bispo de Roma.
A manga da camisa seguida imediatamente pela alva denuncia a ausência da batina. |
Aqui é preciso prestar atenção às sutilezas. Em primeiro lugar, basta lembrar que Bento XVI e até João Paulo II, na casa dos +80 anos, um com artrite e o outro com parkinson, nunca deixaram de usar a batina branca durante as celebrações litúrgicas, na Europa ou na África, no inverno ou no verão. Em segundo lugar, as mudanças mais radicais na Igreja começaram com pequenas negligências aqui e ali, pequenas indulgências com esta ou aquela prática.
Qual o impacto de um Papa sem batina? Numa Igreja partida ao meio pela hermenêutica da ruptura, onde cotidianamente a sua disciplina são e seus dogmas questionados, onde nada de sagrado parece ter mais importância, o impacto de um Papa sem batina é paradoxalmente enorme e insignificante.
Em menos de um ano o Papa Francisco teve um impacto de uma bomba atômica dentro do universo litúrgico. Os movimentos ligados ao novo movimento litúrgico iniciado por Bento XVI - e aqui incluo os blogs e sites especializados - desapareceram ou estão ignorando o atual pontífice. Vários avanços concretos na compreensão da liturgia em continuidade com toda a história da Igreja foram solapados. Tenham certeza que nada disso é acidental.
Um Papa de clergyman é a concretização de um processo, onde nem mesmo o Bispo de Roma, como gosta de ser chamado, escapa da banalização a qual o clero moderno foi submetido.
Alguns poderão dizer, novamente, que foi só desta vez, que o motivo foi poupar Francisco do calor (30ºC hoje em Roma) e do desgaste. Aqui repito - as mudanças mais radicais na Igreja começaram com pequenas negligências aqui e ali, pequenas indulgências com esta ou aquela prática.
Abaixo uma foto do Papa João Paulo II, já fragilizado pela doença, em visita ao Brasil (onde faz um pouquinho de calor, como vocês podem imaginar...). Podemos ver claramente a manga da camisa, a manga da batina e só depois as vestes litúrgicas, conforme as rubricas. Para você, caro leitor, isso pode significar absolutamente nada, mas para quem sabe "ler os sinais dos tempos", é muita coisa.
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