sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Reforma da Cúria. Complicando para descomplicar?

Quando foi eleito, em março de 2013, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio recebeu a missão de reformar a Cúria Romana, sobretudo o famoso banco do Vaticano, o IOR. O escândalo do Vatileaks e as inúmeras irregularidades financeiras do IOR pressionaram não só a renúncia do Papa Bento XVI, mas todo o conclave e a eleição de um cardeal distante de todo o problema.

A reforma da cúria significaria uma simplificação da sua estrutura e nos primeiros dias do pontificado de Francisco se viu cortes de pessoal, com 300 padres demitidos e enviados às várias dioceses de origem, congelamento de salários e algumas outras medidas.

Entretanto, a reforma da cúria é, como tudo neste pontificado, uma grande incógnita, repleta de desinformação e cheia de incongruências que aparentemente não conduzem ao objetivo inicial. Ao invés de simplificar a cúria, este Papa criou mais departamentos na administração pontifícia - uma Secretaria da Economia, um conselho de finanças, uma comissão para tutela de menores,  e uma repartição dentro da Congregação para Doutrina da Fé para cuidar das "faltas graves".

Para reformar a Cúria o Papa nomeou um conselho de oito cardeais, que agora são nove, que devem auxiliá-lo nas futuras reformas. Esse conselho, comandado por um ultra-liberal, vem se reunindo periodicamente com o Papa. O interessante é notar que é um conselho criado para reformar a Cúria, mas que não ouve a própria Cúria; as reformas, ou sugestões de reformas, estão acontecendo sem a participação dos chefes dos dicastérios e são impostas de cima por um grupo de cardeais do qual a maioria nunca trabalhou na Cúria e que, pelo contrário, sempre nutriu por ela uma grande aversão. Que tipo de reforma positiva se espera sair deste contexto?

 A cada reunião do Conselho privado do Papa, cabe ao porta-voz do Vaticano, o oficioso Frederico Lombardi, dar aos jornalistas uma nota ou resumo do que se tratou na reunião. Na última reunião, disse o Pe. Lombardi que os cardeais se aprofundaram sobre o funcionamento dos diferentes dicastérios da Cúria e a eleição de bispos e núncios e os trabalhos que desempenham.

Parece que o Papa e este conselho de cardeais é dado a inventar a roda. Quer saber como a cúria funciona? Pergunte para os prefeitos, presidentes e chefes de dicastérios! Eles estão lá para isso! Agora os conselheiros do Papa se reúnem para filosofar sobre o funcionamento de algo que está ao alcance das mãos, do outro lado da rua!

Mas o que me preocupa é a súmula dada pelo Pe. Lombardi, sobretudo porque essa tal de reforma da cúria está ultrapassando a competência original prevista, talvez, pelos eleitores de Bergoglio, algo análogo ao que aconteceu com a reforma litúrgica na década de 1960 quando um comitê impôs à Igreja a sua visão e a sua vontade, ultrapassando em muito as vontades expressas no documento conciliar sobre a liturgia.

A tal da reforma da cúria está chegando aos bispos e núncios, precisamente ao modo como eles são escolhidos. O Papa Francisco já avisou que deseja maior colegialidade dentro da Igreja e por isso fortaleceu a estrutura burocrática do Sínodo dos Bispos, nomeando e promovendo o nefasto cardeal Baldisseri para comandar a débâcle do sexto mandamento. Junte-se a isso o passado do cardeal Jorge Mario Bergoglio como chefe incontestável da Igreja argentina e que tinha inúmeros problemas com o núncio e a nomeação de bispos por Roma, que eram contrários a sua linha progressista. Francisco acredita que cabe à Igreja local, leia-se Conferência de Bispos, governar e até agora já nos deu evidências que é dessa forma que a Igreja irá operar.

Nomear bispos a partir de Roma não é um método perfeito, é claro. Erros são cometidos. Mas imagem, por exemplo, se a CNBB tivesse (ainda mais) poder para nomear bispos! O que aconteceria? Imaginem Dom Leonardo Steiner, amigo sorridente de comunistas chineses e não-chineses, analisando candidatos ao episcopado!

A Cúria não é perfeita ou santa, mas nem de longe é a lepra do papado. A Cúria é um organismo essencial ao papado, esculpido ao longo dos séculos. Nenhum organismo na Igreja é mais universal ou "internacional", como preferir, do que a Cúria. Ou alguém acredita ser viável tomar decisões reunindo 6 mil bispos do mundo todo? O enfraquecimento da Cúria pede obrigatoriamente um fortalecimento das conferências episcopais e com isso podemos ter duas consequências, ambas bem ecumênicas. Poderíamos caminhar cada vez mais para um nacionalismo, com Igrejas nacionais muito diferentes umas das outras, como acontece com os Ortodoxos. Ou poderíamos adotar um modelo anglicano, democrático, onde tudo é decidido pelo voto, por assembleias ou reuniões, inclusive os bispos são eleitos pelos diocesanos e fazem até campanha. Nada disso é católico.

Neste pontificado se vê um desarranjo entre o Papa e a Cúria, uma cacofonia entre o sucessor de Pedro e aqueles que deveriam ser os seus principais colaboradores. Desde o primeiro dia Francisco demonstrou seu completo desprezo pela Cúria, inclusive chamando-a de "lepra do papado" para delírio daqueles cardeais e bispos progressistas espalhados pelo mundo.

Francisco tem uma visão anti-européia e isso fica claro através de uma análise das nomeações e promoções. O seu primeiro consistório foi marcado pelo esquecimento de vários prelados europeus em detrimento de outros de pouca ou nenhuma envergadura dentro da Igreja. Foi uma "lição simbólica" que a mídia tratou de registrar, mas para mim foi um gesto de puro orgulho revanchista deste Papa que, como papa, poderia muito bem ter concedido à púrpura aos europeus e não-europeus. Os únicos europeus promovidos por Francisco foram aqueles que fizeram um "estágio probatório" em nunciaturas na América Latina, como Parolin. Baldisseri ou Stella, e que se dispuseram a seguir a sua cartilha. Cresce ainda a nomeação de leigos.

O que será da Igreja depois de Francisco? Não sei. O que sei é que o Papa argentino foi vendido para os cardeais como um grande gerente e um administrador competente, capaz de reformar as instituições financeiras e ordenar a Cúria. Até agora não demonstrou nenhuma capacidade de gerência realmente eficiente e suas nomeações no âmbito do IOR foram bem questionáveis (lembram-se de Mons. Ricca? que ainda continua por lá...). Isso sem contar a sua saúde que, de uns dias para cá, vem dando sinais que este pontificado será curto.

Uma coisa temos certeza - nada de bom vai sair desse conselho de oito cardeais, que agora são nove.

2 comentários:

Anônimo disse...

Francisco mostra para quem queira ver que ele é um anti-papa.

Eu gostaria de saber do por que ainda os católicos conservadores populares continuarem a chamar esse impostor de Papa?

Paulo disse...

TEREMOS MUITAS NOVIDADES ATÉ O SÍNODO DAS FAMILIAS E DEPOIS DELE - VEREMOS QUAIS SERÃO!
Se for dado o poder às Conferencias Episcopais para nomearem bispos, seria possível que alguns deles seriam afastados, os conservadores e quem sabe, os progressistas - para não dizerem socialistas - vamos aguardar o caso D Livieres no que dará - como aqui no Brasil os que não seguissem a esquerdista CNBB e suas diretrizes humanistas - pelo menos, ela não dá um pio contra os marxistas do PT- fazedores de máquinas de produção de bens aos deuses do deus-Estado, odiadores de Cristo-Igreja, de si mesmos, entre si no partido, menos ainda o povo, tido apenas como lacaios, e os dirigentes comunistas mais se parecendo encarnações das legiões infernais sob aspecto humano entre nós, apenas aguardando a hora do julgamento para descerem a quem serviram nesse mundo: Satã!
O Sinodo das Familias no fim do ano trará á luz farto material acerca desses casos; aguardemos para ver se certos cardeais (infiltrados) tomaram a direção impondo suas concepções anti cristãs, como o Baldisseri e associados.
Alias, quem foi informado, uma cótolico que vota no PT é automaticamente excluído da Igreja por ele ser um partido que tem o aborto com plano oficial de governo!.

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