Na última empreitada, ainda no ano de 2013, portanto o primeiro do seu pontificado, Francisco se aventurou no universo das entrevistas com Scalfari e o resultado foi confusão espalhada por todos os lados. Acontece que, depois de confirmado o estrago, o porta-voz da Santa Sé, o oficioso Frederico Lombardi, anunciava que a entrevista se deu não através da reprodução de relatos precisos do Papa, mas com texto livre publicado de memória de Scalfari. Alguns dias depois o próprio Scalfari afirmava que ele podia ter, digamos, colocado algumas palavras na boca do Papa...
A primeira entrevista foi ruim e foi um erro. A credibilidade de Scalfari saiu ligeiramente prejudicada, sobretudo por ser um jornalista veterano. Francisco, contudo, resolveu conceder outra entrevista a Scalfari, que foi publicada hoje. E se a primeira deixou todo mundo confuso, esta nos deixa perplexos.
Na nova entrevista - que na minha opinião é infinitamente mais danosa à Igreja que a primeira - Francisco teria afirmado que:
Muito dos meus colaboradores que trabalham comigo me afirmaram com dados confiáveis e afirmaram que a pedofilia dentro da Igreja é de um nível de 2%. Este dado deveria me tranquilizar, mas devo dizer que não me tranquiliza. Afirmo que é gravíssimo. 2% dos pedófilos são sacerdotes e até bispos e cardeais. E outros, mais numerosos, sabem, mas guardam segredo, punem sem dizer o motivo. E penso que essa situação é intolerável e pretendo lidar com a seriedade que ela demanda.
2% do clero é composto por pedófilos, ou seja, se a sua diocese tiver 100 padres, pelo menos dois deles são pedófilos. Reze para estar na paróquia certa!
A gravidade de tal afirmação é sem precedentes, como tudo neste pontificado. Afirmar num jornal, sobretudo num jornal comandado por um ateísta muito criativo, que 2% do clero é composto por pedófilos é colocar em contestação todos os padres do mundo, abalando a confiança que se tem no clero. Como um paroquiano poderá olhar para o seu sacerdote depois do Papa lhe dizer que ele pode ou não ser um dos 2%?
E, imediatamente, Pe. Lombardi afirmou:
Entretanto, como aconteceu numa situação anterior e similar, é importante notar que as palavras que o Sr. Scalfari atribui ao Papa, entre "aspas", vem da memória do próprio joranlista sobre o que o Papa disse e não são uma transcrição exata de uma gravação, nem uma revisão de tal transcrição pelo próprio Papa a quem se atribui as palavras.Em nenhum momento, entretanto, Pe Lombardi nega ou desmente, apenas joga com uma certa imprecisão ou informalidade do texto. Lamentável, sobretudo pelo peso das declarações.
Como o esclarecimento de Pe. Lombardi não nega, nem desmente, muito menos corrige, podemos assumir que a afirmação, em essência, é verdadeira. 2% dos padres são pedófilos, inclua-se bispos e cardeais. Os outros 98% ou são inocentes ou são cúmplices, você escolhe. Como não se desesperar com isso?
Admitamos que o número seja correto e 2% do clero realmente esteja envolvido nesse crime horrível. Como tratar o problema? Certamente não através de entrevistas em jornais... Este Papa demonstra uma total - TOTAL - incompetência gerencial.
A punição seria mais fácil se esses 2% estivessem ligados direta ou indiretamente com um "cripto-lefebvrismo". Creio que a punição lhes cairia como um raio, com força devastadora.
O problema da pedofilia no clero existe e ninguém nega. É um problema que precisa ser resolvido na base, com boa formação dos seminaristas. É visível que muitos desses seminaristas de hoje são afeminados demais para o sacerdócio. E pelo que tenho visto - e vi muito - de seminaristas, posso dizer que esses 2% se tornarão 10% em alguns anos.
De qualquer forma é preciso registrar a perplexidade com a entrevista. Francisco tem um dom natural para escolher amigos entre os mais ferozes inimigos da Igreja, sem, é claro, convertê-los. Se na doutrina, por força do cargo e em situações muito específicas, ele é infalível, em todo o resto vem demonstrando não só falibilidade aguda, mas reincidente.
Rezemos!