As perspectivas do Ordinariato são de mil fiéis e sessenta sacerdotes convertidos nesta semana. Os sacerdotes, de forma especial, serão re-ordenados, não todos, para integrarem o clero do Ordinariato inglês.
O tamanho mínimo parece, num primeiro momento, não justificar toda a comoção de Roma sobre o assunto. Mas é ai que os mais apressados se enganam.
O que seria melhor, um grupo imenso de convertidos numa nova estrutura que, até o momento, não conta com locais fixos ou igrejas próprias ou, como é o caso, um grupo pequeno de pioneiros que estabelecerá com o tempo uma estrutura sólida para os futuros convertidos?
O número de leigos por sacerdote será de aproximadamente 1 padre para cada 16 leigos, o que possibilitará um atendimento espiritual quase individualizado. A França tem 1 padre para mais de 20 mil pessoas e o Brasil não fica muito atrás. Nesse caso o número mínimo de leigos da "primeira onda" de convertidos ajudará o Ordinariato a ter uma forte comunhão entre leigos e clero.
Realmente tudo ainda é muito impreciso. A única coisa certa que o Ordinariato tem é o Ordinário. Eles não possuem igrejas, capelas, salões, nem mesmo uma liturgia oficial que valorize o patrimônio anglicano, como prevê a Anglicanorum Coetibus.
Bento XVI parece ser um papa de pequenos projetos com uma visão de investimento a longo prazo. As ações deste pontificado não parecem ser imediatistas o que, sinceramente, pode ser muito irritante para aqueles que não gozam da virtude da paciência.
Anglicanorum Coetibus foi um pontapé para algo maior que virá no futuro. É um modelo de unidade efetiva dos cristãos separados e que, de alguma forma, terá efeitos no modo como lidamos com os ortodoxos, por exemplo. Da mesma forma como hoje se fala em "prelazia pessoal" para os membros da FSSPX, Bento XVI cria uma estrutura canônica inédita e específica, mostrando que a Igreja pode acolher a todos de braços abertos. Bem ao estilo da Mortalium Animos:
Ai! Os filhos afastaram-se da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e nem foi destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene proteção de Deus. Retornem, pois, eles ao Pai comum que, esquecido das injúrias antes gravadas a fogo contra a Sé Apostólica, recebê-los-á com máximo amor. (cf nº17) É esse "máximo amor" que guiou a mão do Papa aos anglicanos. Anglicanorum Coetibus, na minha opinião, segue muito mais o espírito da encíclica de Pio XI e nos coloca num novo patamar na compreensão da verdadeira unidade dos cristãos. Pequenos grupos Bento XVI parece compreender que a Igreja terá sua força nos pequenos grupos e não nas grandes multidões. Todas as ações importantes desse pontificado foram direcionadas aos pequenos grupos. Anglicanorum Coetibus e Summorum Pontificum são o ápice dessa nova realidade. Tanto os anglo-católicos quanto os católicos-tridentinos (para definir aqueles que preferem ou nutrem alguma simpatia pelo rito tridentino) sofrem perseguições. Em comum eles conservam um verdadeiro amor pela liturgia e pelo ensinamento apostólico sem as afetações e aberrações modernas que, infelizmente, poluem nossas paróquias. E de um pequeno grupo surge outro e outro, etc. Temos em Roma as reuniões de uma associação de sacerdotes diocesanos bem favorável ao movimento de restauração. Nos países atendidos pela FSSPX e FSSP já há o descontrole positivo das dioceses, ou seja, muitos leigos estão percebendo o estrago e procuram ouvir mais o Papa que seu bispo local. Um Caminho sem volta Em poucos anos Bento XVI redirecionou a Igreja profundamente. Podemos não perceber, podemos reclamar (e algumas vezes com razão) e temer, mas é um caminho sem volta para a Igreja. A Cúria romana foi reprogramada, uma parte da liderança episcopal global foi reprogramada para seguir conforme o curso do Papa e não conforme ideologias vazias. Até mesmo o colégio de cardeais foi redesenhado para dar continuidade ao programa de restauração. Contudo, ainda há pedras no caminho Imaginar que esse movimento de restauração seria "mamão com açúcar" é tolice. Há uma pesada contra-reforma-da-reforma em curso em todos os níveis da Igreja. A ameaça o Motu Proprio, tão comentada nos últimos meses, parece não ser consistente com tudo aquilo que Ratzinger e Bento XVI fizeram e defenderam. Talvez o documento não venha como todo mundo deseja, mas duvido que virá sabotar Summorum Pontificum. Críticas sim, desespero não! Podemos criticar a idéia de Assis III? Podemos criticar algumas declarações em livros de entrevistas (interpretadas corretamente ou não)? Podemos receber com espanto a nomeação de um bispo progressista para Prefeito da cúria? Sim, sim, sim! Criticar algumas ações não é falta de comunhão com o Papa, mas uma forma saudável de expor um ponto de vista. Compreender que a crítica não é necessariamente negativa é o que separa conservadores, tradicionalistas e sedevacantistas. Para os conservadores não se pode criticar ou mesmo discordar do Papa. Se há Assis III, eles encontram uma forma de justifica-lo. O perigo é deixar de ser conservador da fé para ser conformista numa situação. Para os tradicionalistas a única coisa que se faz é criticar. Raramente reconhecem os pontos positivos. Um sedevacantista perde um pouco a noção entre crítica e desespero ou desesperança. Até os Santos criticaram os Papas! Só precisamos saber a medida correta para não faltarmos com a caridade. Conclusão Percebam o quanto eu desviei do assunto original! Isso caracteriza um Chat, uma conversa onde um ponto liga ao outro. Temos um ano crucial na caminhada da Igreja. Devemos ter sempre em mente uma coisa simples: Deus geralmente te dá... menos do que você pediu... exatamente o que você precisa e mais do que você merece! Confiemos nas ações do Papa e vamos trabalhar para que os pequenos grupos se tornem mais e mais comuns e unidos. |