quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Anglicanorum Coetibus: quem pediu não quer mais

A Comunhão Anglicana Tradicional (TAC, em inglês), cujo o Sínodo reunido em 2007 pediu a união plena e corporativa com a Igreja Católica, vem rejeitando sistematica e oficialmente a proposta do Papa Bento XVI dada sob forma de Constituição Apostólica. A Câmara dos Bispos (House of Bishops, no original) da TAC rejeitou, de forma unânime, a proposta contida na Anglicanorum Coetibus.

É preciso lembrar que a proposta da Santa Sé aos anglicanos não foi de iniciativa própria da Igreja Católica, mas sim uma resposta aos pedidos de alguns clérigos e fiéis, inclusive a proposta pública e oficial do Sínodo da TAC. Causa, portanto, estranheza que a mesma TAC rejeite, de forma quase ríspida a Anglicanorum Coetibus.

Ao que parece, a rejeição da oferta do Santo Padre, que nada mais foi do que uma resposta ao pedido da TAC, como já mencionado, se deu por força e pressão da Anglicano Church of America (ACA), o ramo norte-americano da TAC.

Pequeno grupo de fiéis anglicanos em convenção
católica buscam orientar os demais sobre o Ordinariato
Em 03 de março de 2010, em Orlando, na Florida, os oito membros da Câmara dos Bispos da Igreja Anglicana na América (ACA) votaram unanimemente um pedido formal ao Vaticano para que fossem aceitos como um ordinariato pessoal. Em 17 de março de 2010, os líderes da filial canadense da TAC (a Igreja Católica Anglicana do Canadá) decidiram fazer o mesmo. As igrejas-membro TAC no Reino Unido e Austrália também pediram para a formação de ordinariato respectivos.

Posteriormente todos, menos um dos bispos diocesanos da Igreja Anglicana na América, anunciaram que a ACA não iria se unir à Igreja Católica Romana, mesmo que uma oferta fosse feita pela Sé de Roma. A mesma negativa se espalhou pela Inglaterra (onde já há um Ordinariato formado), Índia, África do Sul e outras partes do continente africano.


O problema nos EUA foi agravado pela ingerência do Arcebispo Hepworth que, para assegurar que o Ordinariato acontecesse nos EUA, criou uma nova diocese no país, através de um dispositivo intitulado "Patrimônio do Primaz", que reúne algumas paróquias e clérigos partidários da proposta vaticana. A diocese criada ficou a cargo do único bispo que não recusou a Anglicanorum Coetibus e está sob jurisdição direta do Primaz Hepworth e não da ACA.

A criação da pro-diocese da Sagrada Família, através do Patrimônio do Primaz, foi regulamentada pela ACA, mas após um período os bispos voltaram atrás e lançaram, para a alegria dos inimigos da unidade, uma nota oficial afirmando que tal diocese não tem lugar dentro da ACA e não é reconhecida pela mesma.

Cardeal Wuerl, de Washington, apresenta aos bispos
americanos os detalhes do Ordinariato
Agora nos chega a notícia que a Câmara dos Bispos da TAC pediu a imediata remoção do Arcebispo John Hepworth, da Austrália, do cargo de Primaz, numa votação igualmente unânime. Hepworth foi uma das figuras centrais no pedido ao Vaticano pela união e vem realizando alguns esforços para agremiar algumas paróquias da TAC para que componham o Ordinariato (nos EUA e Canadá).

Usando o trágico caso pessoal revelado pelo próprio John Hepworth, que foi abusado por um padre e um colega de seminário no seu período formativo, a Câmara dos Bispos da TAC afirmou que o atual primaz deixou de representar a igreja e que sua presença como Primaz é insustentável.

Parece que a ACA vem tomando as rédeas da pequena TAC, impondo sua influência e neutralizando a formação dos Ordinariatos através de polêmicas, fofocas e inverdades. Sobretudo no Canadá a situação do Ordinariato segue tensa após vários rumores, prontamente desmentidos pelo Arcebispo Collins (delegado vaticano para aplicação da Anglicanorum Coetibus no Canadá), sobre alienação de propriedades das paróquias da TAC pela Arquidiocese de Toronto.

Vídeo de uma missa celebrada por um dos 3 ex-bispos anglicanos
 ingleses convertidos ao anglicanismo

A ACA afirmou que pretende continuar anglicana e recentemente oficializou uma inter-comunhão com a "Anglican Province of America" (APA), um ramo também anglo-católico, mas que desde sempre rejeitou a proposta do Papa. A APA é parceira da ACNA (Anglican Church in North America), que é um ramo misto (anglo-católicos, evangélicos, neo-pentecostais) e conservador, saído da Igreja Episcopal por causa da visão liberal e herética desta.

A ACNA vem crescendo nos EUA e talvez isso tenha pesado na decisão da ACA e da APA, que estão pendendo para a proposta de unificação da ala conservadora do anglicanismo norte-americano sob a égide da nova estrutura da ACNA.

Ironicamente a proposta do Ordinariato segue voltada sobretudo para aqueles que não a pediram formalmente, mas que estão aproveitando a oportunidade para dar seu testemunho de unidade com a Igreja de Cristo. Ainda mais irônico, aqueles que queriam a unidade estão hoje se fragmentando em vários novos ramos, novas seitas e acrônimos.

Nos EUA o Ordinariato está previsto para Janeiro de 2012, sendo que 67 ex-clérigos anglicanos, na sua maioria saídos da Igreja Episcopal, apresentaram seu pedido para ordenação como padres católicos; desses, 35 receberam um "nihil obstat" do Vaticano e estão prontos para serem analisados pelos bispos locais.

No Canadá os leigos e sacerdotes estão terminando seu processo de formação catequética nas paróquias católicas. Tal processo foi estabelecido pelo Delegado Collins como pré-condição para a incorporação no Ordinariato canadense quando este for estabelecido.

Na Austrália o processo é conduzido pelo bispo-auxiliar Peter Elliot, de Melbourne, um ex-anglicano convertido ao catolicismo. Por lá ainda não há datas e todas as previsões (fev/2011, jun/2011, dez/2011) para o início do ordinariato australiano falharam.

A Inglaterra é, por enquanto, o único país com um Ordinariato estabelecido. De fato, sendo a Inglaterra a pátria-mãe do anglicanismo, nada mais natural que o processo de restauração da unidade, a contra-reforma do estrago causado por Henrique VIII comece por lá.

St Thomas More, rogai por nós e pelos anglicanos que buscam a unidade com Pedro
St John  Fischer, rogai por nós e pelos bispos católicos encarregados do Ordinariato em todo o mundo
Nossa Senhora de Walsingham, rogai por nós!

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