segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Acarajé e Circo

Para quem não leu, reproduzi aqui a notícia colocada no Terra Magazine sobre uma Missa presidida pelo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, " onde foi distribuída ao mesmo tempo hóstia e acarajé, que no candomblé é chamado de acará, ou seja, a comida ofertada à Yansã".

O blog do Jorge Ferraz nos retorna com maiores informações sobre o acontecido. Destaco:

Um outro amigo de Salvador disse que esta missa [de Santa Bárbara] ocorre publicamente no centro histórico de Salvador há muito tempo, a despeito do Cardeal Majella não a celebrar. Sobre os acarajés distribuídos junto com a comunhão, ele afirmou desconhecer o fato; disse que o que acontecia era que, no Ofertório, entravam em procissão algumas coisas, entre as quais o acarajé.
(...)
Em princípio, portanto, a comida ofertada aos pobres pode ser solenemente introduzida na Liturgia e, conquanto não seja colocada sobre o altar, não há desobediência às rubricas aqui.

A arquidiocese desmentiu o boato do arcebispo ter distribuído o "petisco" ao mesmo tempo que a Sagrada Eucaristia era distribuída aos fiéis.

Se de fato não houve a distribuição simultânea da Sagrada Eucaristia com um "petisco" consagrado aos Orixás, muito bem. Contudo isso não diminui o ato imprudente do arcebispo.

A Bahia é o estado onde o sincretismo fixou sua morada de forma mais intensa. Datas tradicionalmente católicas são surrupiadas pelos cultos afro-brasileiros, nomes de santos e santas são usados para designar Orixás [dentre eles Santa Bárbara, a santa em questão]. Por anos a arquidiocese de Salvador lutou, como pôde, para instruir seus fiéis sobre o verdadeiro sentido das solenidades e festas católicas, tentando despregá-las dos ritos pagãos. Portas eram fechadas para salvar as almas do engano, a prudência reinava.

Entretanto nos últimos anos somos bombardeados por notícias, verdadeiras e confirmadas, de novas posturas, sincretistas e relativistas por natureza. Padres abrindo as portas das igrejas enquanto mães de santo lavam as escadarias, padres dando a bênção aos frequentadores dos terreiros, etc. Tudo isso num tom zombeteiro.

Com acarajé ou sem acarajé - e esperamos que realmente tenha sido "sem" - a missa celebrada pelo arcebispo foi, como dito, no mínimo imprudente. "Ah! Mas então o arcebispo não tem mais o direito de celebrar a missa em honra a uma santa católica? Quem você pensa que é para dizer isso a um sucessor dos apóstolos, cujos atos são desculpáveis em toda e qualquer condição, pois há uma mitra sobre a cabeça dele!" diriam alguns.

Entendam o problema central. O problema não é a missa em honra a um santo, qualquer que seja. É claro que Dom Krieger tinha e tem todo o direito, pelo bem dos fiéis, de celebrar a missa em honra a Santa Bárbara.

O problema está na forma como ele a celebrou, que deu azo a todo este sincretismo - com acarajé ou não. Dom Murilo celebrou uma missa num local tomado por adeptos do candomblé/umbanda, com atabaques e outros instrumentos típicos desses cultos (e estranhos ao rito romano) e com acarajé levado durante a procissão do ofertório (ou, segundo o Terra Magazine, distribuídos...).

Vejam o problema específico do Acarajé. No tabuleiro da baiana, é apenas um petisco (um pouco indigesto, é verdade....), mas num contexto religioso é oferenda aos Orixás. Da mesma forma que o pão é apenas pão na nossa mesa, quando está a caminho do altar é oferta que depois se tornará o Corpo santíssimo de NS Jesus Cristo.

Levar o acarajé em procissão no ofertório [ainda que lícito em teoria, como destaca o Jorge Ferraz citando a IGMR 73], em Salvador, numa festa de uma santa que, infelizmente, é confundida propositalmente com um Orixá, ao som de atabaques... Você precisa de mais o que para criar confusão e desorientação, perplexidade e escândalo?

Especificamente sobre o ponto da IGMR 73, lembremos da palavra de S Paulo: Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Lembrando que a IGMR 73 certamente não pode ser aplicada num caso onde há perigo real e concreto de sincretismo. De fato é sempre bom recordar alguns pontos da esquecida Redemptionis Sacramentum:

[57.] É um direito da comunidade de fiéis que, sobretudo na celebração dominical, haja uma música sacra adequada e idônea, de acordo com costume, e sempre o altar, os paramentos e os panos sagrados, de acordo com as normas, resplandeçam por sua dignidade, nobreza e limpeza.
[58.] Igualmente, todos os fiéis têm direito a que a celebração da Eucaristia seja preparada diligentemente em todas suas partes, para que nela seja proclamada e explicada com dignidade e eficácia a palavra de Deus; a capacidade de selecionar os textos litúrgicos e os ritos deve ser exercida com cuidado, de acordo com as normas, e as letras dos cantos da celebração Litúrgica guardem e alimentem devidamente a fé dos fiéis.
[78.] Não está permitido relacionar a celebração da Missa com acontecimentos políticos ou mundanos, ou com outros elementos que não concordem plenamente com o Magistério da Igreja Católica. Além disso, se deve evitar totalmente a celebração da Missa pelo simples desejo de ostentação ou celebrá-la de acordo com o estilo de outras cerimônias, especialmente profanas, para que a Eucaristia não se esvazie de seu significado autêntico.
[79.] Por último, o abuso de introduzir ritos tomados de outras religiões na celebração da santa Missa, contrários ao que se prescreve nos livros litúrgicos, devem ser julgar com grande severidade.
[96.] Reprova-se o costume que contrarie às prescrições dos livros litúrgicos, inclusive que sejam distribuídas, semelhantemente a maneira de uma comunhão, durante a Missa ou antes dela, quer sejam hóstias não consagradas, quer sejam outros comestíveis ou não comestíveis. Posto que estes costumes, de nenhum modo, concordam com a tradição do Rito romano e levam consigo o perigo de induzir a confusão aos fiéis, respectivamente à doutrina eucarística da Igreja. Onde em alguns lugares exista, por concessão, o costume particular de abençoar e distribuir pão, depois da Missa, tenha-se grande cuidado de que se dê uma adequada catequese sobre este ato. Não se introduzam outros costumes similares, nem sejam utilizadas para isto, nunca, hóstias não consagradas
[109.] Nunca é lícito a um sacerdote celebrar a Eucaristia em um templo ou lugar sagrado de qualquer religião não cristã.

Retomando o questionamento, o senhor arcebispo tinha em mãos a fórmula perfeita para honrar a Deus e a memória de Santa Bárbara - o rito romano, puro e simples. Uma missa plenamente católica, sem qualquer sinal de sincretismo, solene e respeitosa, traria muito mais benefício aos fiéis que este espetáculo sincretista - com acarajé ou não - que se deu em solo baiano. 

3 comentários:

Bruno Luís Santana disse...

Eu moro há 25 minutos a pé do centro histórico, os louvores a Santa Bárbara acontecem razoavelmente próximos de onde vivo. Existem umas capelas em honra à santa, e o quartel dos bombeiros também fica muito próximos, mas é na frente da outrora igreja do Rosário dos Pretos que tais manifestações ocorrem.
Materialmente aquilo ali é uma igreja, mas há muito tempo que deixou de ser templo católico e foi convertido em sinagoga de Satanás, ou como se dizia antigamente aqui na Bahia "chiqueiro" (=terreiro de candomblé. Aqui se dizia que mãe de santo era mãe de chiqueiro, e por aí vai).
Os turistas geralmente adoram esse lugar. Os sincréticos também, os candomblezeiros, idem. É um lugar para vituperar a memória de Deus. Não entro mais nas igrejas daqui de Salvador, salvo raras e rápidas exceções, o modernismo me angustia, quero ser católico, se aqui não há catolicismo, então não tenho motivo para ter "engajamento" com o que chamam de Igreja Católica aqui.

Anônimo disse...

Como diz o padre Paulo, somos a contrarevolução. Quem dera se um texto assim pudesse chegar aos olhos do Primaz do Brasil.

Em pensar que eu achava que com D. Krieger as coisas mudariam...

Bruno Luís Santana disse...

Também nem se trata de atacar a pessoa do senhor arcebispo ou quaisquer outros. Independente das notas de esclarecimento da arquidiocese, informando que tal coisa foi ou não verídicas, o que é inegável é a SIMPATIA em AGRADAR, em comprazer a "opinião pública", as "pessoas esclarecidas", os "irmãos separados", fulanos, sicranos e beltranos.
O HOMEM é o centro. A Igreja, no entender de seus atuais diligentes, fez-se - segundo o ensinamento de Paulo VI - a escrava da humanidade.
Esta notícia é apenas um cenário desta realidade profunda. É uma inversão completa, é o antropocentrismo retirando Deus da Sua Própria Igreja. Mostrar a Redemptionis Sacramento de nada adianta, nossos católicos de hoje precisam de uma pausa e uma reflexão acerca do que são, porque estão aqui, e para onde vão. Precisam de Catecismo também, pelo visto. Mas precisam enxergar com os olhos da Fé!

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